Cada vez mais é comum vermos artigos sem glúten nas prateleiras do supermercado. Mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo, era tema apenas para quem sofria de doença celíaca, uma alergia ao trigo que pode ter consequências mais graves. Contudo, fala-se cada vez mais da intolerância ao glúten como algo que pode ser prejudicial ao bem-estar mas não mais do que isso.

Mas afinal, o que é ser intolerante ao glúten? Quais os sintomas? E quem o pode diagnosticar? Estivemos à conversa com Marta Magriço e Mafalda Ribeiro, nutricionistas na Power Clinic que respondem a todas as questões sobre o tema que ainda levanta muitas dúvidas.

Afinal, o que é a intolerância ao glúten?

A intolerância ao glúten - também chamada sensibilidade não celíaca ao glúten -, é uma condição que consiste na presença de sintomatologia associada ao consumo do mesmo, em indivíduos que não possuem doença celíaca nem alergia ao trigo.

Quais são os primeiros sinais de intolerância ao glúten?

Ao contrário da doença celíaca e da alergia ao trigo, que envolvem uma resposta do sistema imunitário, a intolerância ao glúten relaciona-se com o processo de digestão, estando associada, principalmente, a sintomas gastrointestinais que não colocam em risco a vida.

Os sinais mais comuns: 

  • inchaço e/ou dor abdominal
  • flatulência e diarreia
  • obstipação
  • refluxo
  • cansaço
  • dor de cabeça
  • dificuldade de concentração
  • perda de peso inexplicável
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Quais os principais alimentos responsáveis por estes sintomas?

Todos os alimentos que contenham glúten, que é uma mistura de proteínas presentes nalguns cereais e derivados, como o trigo, cevada, centeio, espelta, kamut, couscous, bulgur, entre outros. Estes cereais ou produtos derivados dos mesmos (como a massa, pão, farinha, bolos, bolachas, barras de cereais, cereais de pequeno-almoço) são, normalmente, os principais responsáveis pelos sintomas.

No entanto, existem outros alimentos que contêm glúten de forma não tão óbvia, devido ao seu processamento ou ingredientes utilizados na confeção. Alguns deles incluem enchidos, panados, croquetes, rissóis e outros salgados, seitan, molho de soja, molho béchamel, cerveja, entre outros.

Que "testes" se podem fazer em casa antes de consultar um especialista?

A evidência científica relacionada com testes de intolerância ao glúten é limitada, pelo que não existem testes laboratoriais fidedignos para o seu diagnóstico, ao contrário do que acontece com a doença celíaca. A melhor forma de saber se poderá ter a intolerância é, em primeiro lugar, fazer um diário de sintomas, registando o que comeu ao longo de vários dias e a sintomatologia associada. Se, de facto, parecer existir uma associação entre os sintomas e o consumo de glúten, é importante consultar um especialista e pode excluir-se o glúten da alimentação durante um período limitado, para observar a reação.

A intolerância ao glúten pode ser confundida com outras intolerâncias ou patologias, como intolerância à lactose ou refluxo? Se sim, como é que podemos distingir?

Sim, pode. Os sintomas da intolerância ao glúten são, muitas vezes, inespecíficos, comuns a várias condições e patologias. A melhor forma de distinguir é fazer o diário de sintomas, retirar o glúten durante um período limitado, verificar se ocorrem melhorias e ir reintroduzindo para avaliar a tolerância.

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Em casos de intolerância, ao contrário da alergia, é comum que a pessoa consiga tolerar pequenas quantidades do alimento em questão, que dependem de pessoa para pessoa. A fase da reintrodução serve precisamente para perceber que quantidades a pessoa tolera, para que seja possível prevenir, na medida do possível, o aparecimento de sintomas.

A que especialistas devemos recorrer caso se suspeite que se é intolerante ao glúten?

Em primeiro lugar, a um médico Gastroenterologista ou Alergologista, para despistar uma possível alergia ao trigo ou doença celíaca. Depois, é importante o acompanhamento por um nutricionista, que forneça toda a informação relativa a como adotar uma alimentação sem glúten que seja nutritiva, prática e não ponha em causa a ingestão de nutrientes essenciais.

Quais os alimentos que são seguros para intolerantes e celíacos?

Cereais sem glúten (trigo sarraceno, arroz, aveia*, alfarroba, milho, quinoa), tubérculos (batata, batata doce, mandioca e tapioca), fruta, legumes, frutos oleaginosos (amêndoa, amendoim caju, pinhão), sementes, carne, peixe, ovos, leguminosas, tofu ao natural, leite, iogurte natural, azeite, açúcar e mel, entre outros.

*Alguns alimentos naturalmente isentos de glúten, como a aveia, podem sofrer contaminação cruzada no processo de fabrico. Para garantir que o seu consumo é seguro, é importante que a embalagem contenha indicação de ser apto para celíacos, através de um símbolo reconhecido a nível europeu.