#Açúcar: a droga do século XXI
O açúcar é oito vezes mais viciante que a cocaína!
Várias pesquisas revelam uma semelhança entre a adição ao açúcar e à cocaína.
Tanto o sabor doce quanto as drogas de abuso, como a cocaína, estimulam a libertação de dopamina no nosso cérebro, essencial no processo de processamento de recompensas e aprendizagem.
Existe uma tolerância cruzada e dependência no consumo de açúcar e nas drogas de abuso. Isso significa que, com o tempo, são necessárias cada vez mais quantidades para obter o efeito desejado. Ou seja, quanto mais açúcar comes maiores serão os desejos e quantidades que vais precisar para te sentires satisfeita.
Num estudo, os ratos preferiram a sacarose ao invés da cocaína. E sim, os excessos compulsivos podem se parecer com dependência de drogas.
#Quanto mais comes, mais fome vais ter.
A comida é muito mais do que apenas calorias... É informação que programa a expressão genética das células e altera o nosso estado metabólico.
As dietas não funcionam porque não tratam de muitos fatores fundamentais do excesso de calorias: dependência fisiológica de hidratos de carbono e açúcares refinados.
Quando aumentamos de peso, aumenta a gordura armazenada nos órgãos, chamada de gordura visceral. Essas células adiposas viscerais são metabolicamente ativas e sugam o combustível da corrente sanguínea, fazendo-nos comer mais!
Isso significa que a gordura visceral está com "fome" e pode causar comportamentos excessivos e de adição alimentar.
#Hormonas e o ciclo vicioso
Com o ganho de gordura visceral e uma alimentação desequilibrada são secretadas hormonas e citocinas que promovem o ganho de peso e um padrão de inflamação crónica.
Hormonas como a adiponectina, insulina, leptina e MSH e citocinas como IL-6, TNF-alfa e outras moléculas pró-inflamatórias promovem um processo inflamatório crónico que para além de nos envelhecer precocemente também nos faz ficar doentes.
A libertação de insulina aumenta em resposta a alimentos com alto índice glicémico, criando mais inflamação e um metabolismo promotor da obesidade, com mais armazenamento visceral de gordura. Um ciclo vicioso que não pára.
#Falta de força de vontade não é o problema
Visão de muitas pessoas: a obesidade é apenas falta de força de vontade… come menos, exercita-te mais. Mas não é assim tão simples.
Muitos são os fatores que podem regular o metabolismo e capacidade de perdermos peso: composição da dieta, microbioma intestinal, exposições tóxicas, infecções, alergénios, estado nutricional, disfunção mitocondrial e desequilíbrio de hormonal e de neurotransmissores.
Sim! O vício em comida não é só culpa tua. Não é porque és apenas preguiçosa ou tens falta força de vontade para resistir a alimentos açucarados e processados.
Ponto número um, estamos rodeados de produtos alimentares com propriedades altamente viciantes em primeiro lugar. Se quase todas as redes de restaurantes próximos servem porções enormes de açúcar, gordura e sal (o médico David Kessler chama-os de alimentos “hiper-palatáveis”), e se o snack bar do teu local de trabalho for uma montra de alimentos tóxicos, boa sorte em te manteres saudável...
Sim, tudo começa nas escolhas que fazemos e no nosso poder pessoal, mas se estamos influenciados pelas pessoas que fazem parte do nosso círculo de amigos e as opções de alimentos são ultra-processados, plastificados e “pseudo-alimentos”, talvez esteja na altura de mudar.
Comecem a observar à vossa volta. Já viram a quantidade de pessoas obesas e viciadas em comida? Próxima vez que recusarem um jantar fora menos saudável sintam-se poderosos!
#A recompensa neuroquímica do açúcar
Existem mecanismos biológicos específicos que direcionam comportamentos viciantes. Ninguém escolhe ser um viciado em heroína, cocaína ou álcool. Ninguém escolhe ter um vício em comida também. Está comprovado que geneticamente há pessoas com maior predisposição para adições a certos alimentos.
Esses comportamentos surgem de centros de recompensa neuroquímicos primitivos no cérebro que substituem a força de vontade normal e, no caso de vícios alimentares, sobrecarregam os sinais biológicos comuns que controlam a fome.
#Tens uma “relação amorosa tóxica” com a comida?
Os seres humanos são supercomplexos e somos muito mais importantes do que apenas o nosso metabolismo. Temos crenças, emoções e hábitos que afetam os padrões de comportamento, o que comemos e o nosso relacionamento com os alimentos.
Da próxima vez que procurares algo doce, pergunta a ti mesma: porque procuro comer ______________ (preenche o espaço em branco) quando estou cansada ou desanimada?
Fazer esta pergunta pode ser uma auto-descoberta. O objetivo é conectares-te com os teus desejos, o que não só te vai ajudar a sentires menos culpada pela comida que comeste, mas também vai ajudar-te a fazer escolhas mais alinhadas.
#Como podes saber se és uma viciada em comida?
Os médicos Mark Hyman e Kelly Brownell criaram um questionário alimentar validado cientificamente que nos permite ajuda a determinar se somos viciados em comida, nomeadamente açúcar, farinhas e alimentos processados. Quanto mais intensa ou frequentemente passares por estes sentimentos e comportamentos, mais viciada és:
- Consomes certos alimentos, mesmo que não estejas com fome, por causa dos desejos?
- Preocupas-te em reduzir certos alimentos?
- Sentes-te lento ou cansada depois de comeres demais?
- Passas algum do teu tempo a lidar com sentimentos negativos depois de comeres demais certos alimentos, em vez de desfrutares de atividades como tempo com a família, amigos, trabalho ou lazer?
- Tens sintomas de abstinência como agitação e ansiedade ao reduzir certos alimentos (não incluas bebidas com cafeína, como café, chá e bebidas energéticas aqui).
- O teu comportamento em relação à comida e à alimentação causa um sofrimento significativo?
- Questões relacionadas com a alimentação diminuem a tua capacidade de performance (rotina diária, trabalho / escola, atividades sociais ou familiares, dificuldades de saúde), mas continuas a comer da maneira que comes, apesar dessas consequências negativas?
- Precisas cada vez mais de certos alimentos sentires prazer ou reduzir emoções negativas?
Se te identificas aqui, não te preocupes, não estás longe de estar sozinha. Milhões de pessoas em todos os cantos do mundo caíram na armadilha do vício em comida.
#Precisas de mais motivos para parar de comer açúcar agora?
Aqui estão algumas recomendações para seres a tua melhor versão:
- Come um arco-íris de cores nos alimentos (tem sempre pelo menos 3 cores no prato): alimentos de boa qualidade, baixa carga glicémica, alto teor de micronutrientes e fitonutrientes e fibras.
- Coma mais vegetais e frutas com baixo índice glicêmico, como frutos vermelhos e maçãs verdes;
- A regra dos 3: Evita todos os pacotes e alimentos processados que tenham mais do que 3-4 ingredientes. Não compres!
- Elimina o glúten se fores sensível e evita TODOS os grãos processados refinados;
- Escolha carnes orgânicas e peixes selvagens;
- Precisas assim de tantos snacks e lanches por dia? Já experimentaste o jejum intermitente?
#Come menos açúcar... já és doce o suficiente!
Conclusões: As pesquisas mais recentes indicam que o consumo de açúcar é um fator de risco independente para muitas doenças crónicas, se não de TODAS. Dá que pensar.
Os nossos desejos são complexos e nem sempre sabemos a resposta para muitos dos nossos comportamentos. Sermos conscientes é realmente o primeiro passo para criarmos uma grande mudança no nosso relacionamento com a comida. E isto começa por cada um de nós, acabando por influenciar os grupos de pessoas que nos rodeiam.
Começa a tomar decisões inteligentes sobre como nutres as células do templo que é o teu corpo.
Andreia de Almeida é médica especializada em anti-aging e membro da World Society of Anti-Aging Medicine (WOSAAM) e American Academy of Anti Aging Medicine (A4M).
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