De facto, a prática de promover o jejum e de abdicar de ingerir alimentos por certos períodos de tempo é muito usual na grande maioria das religiões, até mesmo para promover uma desintoxicação ou purificação do organismo. Na religião católica, na época da Páscoa, incentivava-se prescindir de certos alimentos e fazer alguma “penitência alimentar” em determinados dias da semana. Mas será que não haverá riscos em, pura e simplesmente, deixar de ingerir alimentos em algumas alturas do dia, muitas vezes por períodos que chegam às 14, às 16, 18 e, muitas vezes até, mais horas?

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Antes de tudo, esclarecer que o jejum intencional acarreta sempre riscos de saúde e deverá sempre ser supervisionado por um profissional de saúde. A sua recomendação tem guidelines específicas e não deverá ser praticada por grávidas, lactantes, adolescentes ou pessoas que já tenham tido algum tipo de distúrbio alimentar. Nos outros casos deverá sempre ser muito monitorizado, evitando riscos de saúde desnecessários.

Na minha prática clínica, muitas pessoas querem logo fazer o chamado jejum intermitente, mas só eventualmente o recomendo quando as pessoas conhecem, dominam e praticam as correctas regras da alimentação e apresentam níveis de saúde apropriados a esta prática. Se assim não for, podem surgir riscos como problemas de vesícula, tonturas, desmaios e carências nutricionais graves.

O grande objectivo do jejum intermitente é “obrigar” o nosso corpo a usar as energias de reserva (os chamados adipócitos, células de gordura), de uma forma activa e eficaz. Isto acontece porque a partir das 14 horas de jejum, o nosso organismo entra em cetose e deixa de usar primariamente os açúcares circulantes como fonte energética, recorrendo em maior dose à energia presente nos tais adipócitos, mas também recorrendo à degradação muscular. Para que isto aconteça de forma eficaz, importa definir o melhor plano alimentar para que esta troca de substrato energético seja compatível com a máxima saúde.

Este tipo de prática, sendo bem feita, parece ter alguns benefícios ao nível da inflamação do organismo, na redução de alguns riscos oncológicos, na promoção da longevidade e numa percepção de maior energia para quem o pratica de forma sistemática. Mas não nos iludamos: não basta cortar alimentos e ficar mais de 14 horas sem os ingerir para que se sintam estes efeitos. Há que assegurar alguns pressupostos, como a correcta e equilibrada hidratação.

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Também se deve saber que a água, o chá e o café não quebram o jejum. Mas depois há todo um mundo de detalhes, como a importância vital da primeira refeição pós-jejum e a ordem correta de ingerir os alimentos. Todos estes cuidados maximizam os efeitos positivos do jejum intermitente e minimizam os efeitos potencialmente nefastos. Na perda de peso, muitas pessoas ficam admiradas com o impacto que esta prática alimentar tem. Mas volto a dizer que para tal funcionar sem interferir nos níveis de saúde de cada pessoa, e ajudar a equilibrar pesos, há que fazer bem feito. Caso contrário, o peso baixará, mas sempre à custa de perda muscular, sobrecargas renais e outros desequilíbrios.

Para quem nunca avançou nesta prática, mais do que ler sobre o assunto, procure ajuda especializada para validar a sua segurança no seu caso específico. Como disse, vejo muitas pessoas com problemas de saúde decorrentes de más práticas do jejum intermitente. Mas vejo também muitas outras que, quando corretamente aplicado, sentem grandes benefícios. Use ponderação, moderação e equilíbrio, pois estamos a falar da sua saúde, que merece sempre o melhor. Jejum intermitente pode ser para si, mas que seja para a sua melhor versão e máxima saúde.

Pedro Queiroz é o fundador das Clínicas de Nutrição do Porto e Lisboa e consultor de Nutrição. Mais do que ajudar pessoas a emagrecer, do que ele realmente gosta é de mudar as suas vidas.