O conceito de beleza é subjetivo, mas há alguns aspetos identificados como necessários para que seja percecionado. Um deles é a uniformidade da pele, na sua textura e na sua cor. Sabe-se que uma pele mais homogénea reflete mais saúde e mais longevidade. Como animais, os seres humanos estão programados para considerarem que “o que é bonito é bom” e sentirem maior atração por pessoas com pele bonita, atribuindo-lhes bons genes, maior potencial para assegurar boa descendência e, ainda, uma personalidade mais positiva.

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A sociedade é, no seu todo, mais tolerante com estas pessoas e, até em contexto profissional, pessoas com boa pele são tidas como sendo de maior confiança e como tendo maior competência. Esta inferência permeia todas as idades, géneros e etnias, e o pensamento contrário também se verifica.

Manipulando imagens de rostos femininos envelhecidos, com idades entre 45-65 anos, provou-se que uma melhoria de 20% na textura da pele tem um impacto positivo, aumentando a atração. Em termos de cor da pele, rostos com 25% de cor mais uniforme foram percecionados como sendo mais jovens e mais saudáveis. Este processo acontece de forma inconsciente e tem maior impacto na avaliação dos rostos femininos, pelo que o seu embelezamento acaba por ser ainda “mais vantajoso” face aos masculinos.

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Sabe-se hoje que uma pele com imperfeições, caso tenha uma pequena área melhorada – por exemplo, numa pele com acne, a zona perioral – vai conseguir aumentar a perceção de beleza do rosto todo e, consequentemente, tornar a pessoa mais atraente. Os julgamentos de atratividade ativam uma rede neuronal amplamente distribuída, envolvendo os circuitos de perceção, decisão e recompensa.

Parecer bonito tem também vantagens fisiológicas reais. Alguns estudos comprovam que uma aparência mais jovem, em cinco anos face à idade cronológica, está associada a benefícios para a saúde física, tais como redução da osteoporose, da doença pulmonar obstrutiva crónica, da perda auditiva, das cataratas e da função cognitiva.

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Estes insights podem ser muito úteis para sensibilizar e capacitar os consumidores para o autocuidado, ensinando-lhes que podem melhorar a sua atratividade com uma ligeira melhoria na qualidade da pele, através do uso de cosméticos, sem necessidade de procedimentos estéticos invasivos.

O nosso rosto funciona, assim, como um ecrã para a saúde e o bem-estar. A beleza é a saúde que se vê, e o bem-estar é a saúde que se sente. Não há dúvidas que com a longevidade global a aumentar, o desejo de preservar uma aparência jovem requer mais atenção, uma vez que se relaciona com o nosso bem-estar psicossocial. Compreender plenamente a forma como estas ligações se fazem – entre a saúde da pele, a aparência facial e o bem-estar emocional – será um dos caminhos mais promissores e fascinantes na investigação da ciência cosmética e do universo onde ela gravita.

Farmacêutica de formação e especialista em Cosmética, Joana Nobre trabalha na Indústria Farmacêutica desde 2005. O rigor é a sua imagem de marca, algo bem patente nesta nova rubrica que criou para a Miranda, que incluirá sempre a versão áudio do texto.