O valor do mercado global de produtos de proteção solar foi afetado em 2020 pela pandemia, mas está projetado para crescer a uma taxa anual de 3,5% para chegar aos 14 mil milhões de euros até 2027, de acordo com o 'Fortune Business Insights'.

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Este crescimento é impulsionado pela consciencialização do consumidor sobre a necessidade de proteção solar diária, bem como uma crescente variedade de ingredientes, embalagens e inovação neste segmento.

Marcas e fornecedores de matérias-primas oferecem soluções eficazes e exclusivas, que protegem os consumidores e o meio ambiente em níveis mais elevados do que nunca.

Mas este é um mercado com desafios e onde há muitos mitos, alguns deles ainda não definitivamente esclarecidos. No entanto, não arranjemos desculpas! A comunidade científica é unânime em afirmar que o protetor solar é essencial para prevenir o cancro cutâneo e também o fotoenvelhecimento. Pondo na balança, não há dúvidas que devemos usar protetor solar diariamente.

A pele e o sol

Faz parte das funções da pele a barreira física e bioquímica que nos defende do mundo exterior, protegendo-nos da luz solar – radiação Ultravioleta (UV), Infravermelha (IR), luz visível de alta energia (HEV) – daí pigmentarmos quando nos expomos aos sol, aumentando a produção de melanina.

Se tem pele, pode ter cancro cutâneo, independentemente da cor – sabe o seu fototipo?

O cancro da pele afeta pessoas de todas as cores, incluindo aquelas com tons de pele mais escuros, que bronzeiam sempre ou raramente queimam. Em fototipos mais elevados, o cancro cutâneo é muitas vezes diagnosticado tarde de mais, dificultando o tratamento.

Fotoenvelhecimento: sol, o inimigo público

No que respeita ao envelhecimento, sabe-se hoje que apenas 3% dos fatores de envelhecimento têm origem genética e, por isso, envelhecimento cutâneo é sinónimo de fotoenvelhecimento: a exposição solar é responsável por cerca de 80% do envelhecimento visível na pele.

Os protetores solares fornecem proteção contra os raios solares. Contêm filtros com ação de proteção contra as radiações UVB e UVA, esta última referenciada como sendo a radiação mais associada aos efeitos de envelhecimento, devido à penetração dos raios até à derme.

Atualmente existem protetores solares que combinam ainda componentes com ação na proteção contra as radiações infravermelha e luz visível de alta energia, responsáveis, respetivamente, por vasodilatação e hiperpigmentação.

Protetor solar e Fator de Proteção Solar (FPS)

Na fórmula de um protetor solar podemos ter filtros físicos e/ou químicos, que nos vão proteger das radiações UVA e UVB de forma variável.

Os filtros químicos (ou orgânicos) atuam absorvendo esta radiação e libertando-a de seguida sob a forma de calor.

Os filtros físicos (ou minerais) têm essencialmente um papel refletor, apesar de também conseguirem absorver e transmitir uma percentagem da radiação recebida. As substâncias mais usadas como filtros físicos são o óxido de zinco e o dióxido de titânio.

Por uma questão de precaução, recomenda-se que as crianças até aos 3 anos sejam protegidas essencialmente com filtros físicos, e o mesmo para as peles alérgicas ou intolerantes.

O FPS é calculado de acordo com o efeito dos raios UVB na pele. Por exemplo, um índice 50 significa que demoramos 50 vezes mais a ficar com a pele vermelha do que sem proteção solar. Mas isto se aplicarmos bem o protetor solar! O FPS é avaliado aplicando 2 mg/cm2 de pele, o que quase ninguém faz.

A dica ideal é reaplicar o protetor a cada 2 horas, ou mais frequentemente se tomarmos banho, fizermos fricção na pele ou transpirarmos. A fotoproteção contra os UVA deve ser de pelo menos 1/3 do FPS.

Se o nosso protetor contiver filtros químicos, devemos aplicar 30 minutos antes da exposição solar, para que haja tempo de penetrar na nossa pele. Independentemente da nossa cor de pele, os índices 30, 50 ou 50+ são sempre a melhor opção. Por lei, um produto cosmético designado “protetor solar” não pode ter um FPS superior a 50+, proteção muito elevada.

Protetores solares são parte essencial da fotoproteção, mas não são a única arma a usar quando nos expomos ao sol

A roupa deve ser escura (as cores escuras absorvem mais radiação, não deixando que a mesma entre em contacto com a pele) ou brilhante (reflete mais), de malha apertada e com cortes largos. Qualquer roupa deixa um pouco da pele exposta, pelo que precisaremos sempre de protetor solar. É importante aplicar nas mãos, especialmente depois de lavá-las.

Os chapéus são essenciais, se possível de abas largas. Os óculos de sol protegem a zona sensível dos olhos e ainda evitam o franzir da testa quando nos expomos à claridade, útil para evitar rugas de expressão.

A sombra não é um escudo perfeito. Alguns raios UV podem atingir a pele. Podem passar por folhas e galhos, atingir a pele lateralmente e refletir na água, areia, vidro e cimento. Neve, areia e água aumentam a necessidade de protetor solar porque refletem os raios solares.

Beber água e não bebidas alcoólicas ou açucaradas, que provocam desidratação, e evitar as horas de maior calor. Idealmente, entre as 11 e as 17 horas, não deveríamos expor-nos ao sol. Se o nosso objetivo é bronzear, os solários não são opção! Usar solários antes dos 35 anos aumenta o risco de melanoma em 59%. Devemos optar pelos autobronzeadores.

MITOS

Se usar filtros físicos vou ficar com a pele branca

Já não é verdade. Existem cada vez mais protetores com partículas muito pequenas (por vezes nanopartículas) que espalham bem e ficam invisíveis. Esta informação está presente na fórmula do produto em cada embalagem.

Não se pode usar protetor do ano anterior

Para o protetor solar, como para qualquer outro cosmético, o que devemos respeitar é o PAO, período após abertura. Por isso, é só fazer as contas. Muitas vezes, podemos usar.

O excesso de uso de protetor solar provoca decréscimo de vitamina D

Não está provado, e o uso de protetor solar é fortemente aconselhável. Devemos ter uma boa alimentação, escolhendo fontes de vitamina D: sardinha, atum, salmão, gema de ovo, cogumelos, fígado.

Depois de nos bronzearmos já não precisamos de usar protetor solar

Devemos usar protetor sempre, mesmo quando estamos com a pele bronzeada. A melanina não nos protege do cancro cutâneo nem do fotoenvelhecimento, por isso, independentemente da nossa cor de pele, devemos usar sempre protetor solar.

O Sole Mio

Os protetores solares fazem mal aos corais

Não são todos os filtros que estão envoltos nesta polémica e, apesar de tudo, não há ainda nenhum estudo científico que valide esta afirmação.

Take home message:

Todos os adultos devem fazer autoexames mensais e uma consulta de dermatologia todos os anos, ou com maior frequência se virem algo suspeito ou se apresentarem fatores de risco.

Descubra acima a playlist no Spotify dedicada ao universo do Sol.

Farmacêutica de formação e especialista em Cosmética, Joana Nobre trabalha na Indústria Farmacêutica desde 2005. O rigor é a sua imagem de marca, algo bem patente nesta nova rubrica que criou para a Miranda, que incluirá sempre a versão áudio do texto e uma playlist de Spotify criada também por ela, alusiva com o tema.

Para a realização deste artigo foram consultadas diversas fontes bibliográficas, tais como:

  1. Barel, A. O. (2016). Handbook of Cosmetic Science and Technology. Marcel Dekker, Inc. NY-Basel.
  2. Draelos, Z. D. (2010). Cosmetic Dermatology Products and Procedures. Wiley-Blackwell, USA.
  3. Wendy E. Roberts, SkinType Classification Systems Old and New, Dermatol Clin 27 (2009) 529–533, Elsevier Inc.
  4. Dayan, N. (2008). Skin aging handbook : an integrated approach to biochemistry and product development. Chapter 11. New York : William Andrew.
  5. https://www.aad.org/
  6. https://www.skincancer.org/