Ane Ayo foi a perfumista eleita para dar "corpo" ao novo capítulo da história dos perfumes de Issey Miyake. Com uma nova dinâmica, A Drop d'Issey abre caminho para os novos compromissos e projetos da marca. O primeiro passo: um perfume que representasse essa evolução. Conversámos com ela para que nos conduzisse, pela sua mão — e pelo seu nariz — nesta viagem olfativa.
Criar um aroma com o rasto do perfume L'Eau d’Issey deve ter sido um grande desafio. Como se sentiu ao ser escolhida para esta tarefa?
Foi fantástico trabalhar para uma marca tão querida para mim. L'Eau d'Issey é um verdadeiro clássico da perfumaria e senti-me muito honrada e grata por fazer parte do novo capítulo de fragrâncias da marca. Foi a nossa primeira colaboração em conjunto. É uma marca que também adoro pela moda: sempre mostraram tanta criatividade nas passarelas, nos tecidos... Algumas das roupas serviram até como referência para a criação da fragrância.
A perfumista Ane Ayo
Depois da infância passada em Espanha, Ane estudou em Inglaterra, viveu na Alemanha e trabalha há muitos anos em França. Este lado multicultural tem-lhe proporcionado uma visão e um "mundo" que se refletem em muitas das suas criações. Além desta criação, Ane já tem um vasto porfolio de criações como o Aqua Kenzo pour Homme, The Luminous Gold da Tous e Pink Paradise de Lalique, entre outros.
Que relação têm os aromas e os perfumes na sua vida?
Sempre me interessei por fragrâncias. Em criança, o meu pai ofereceu-me um jogo de perfumes chamado Olfanova. Adorava desenvolver aromas e lembro-me de reconhecer os hóspedes da nossa casa pelo rasto do perfume. No entanto, só muito mais tarde, quando descobri um artigo sobre o Mestre Perfumista Alberto Morillas num jornal, é que compreendi que poderia fazer da minha paixão uma profissão.
Qual foi o briefing que a marca lhe passou sobre este perfume?
Desde o início do projeto que o conceito foi "a gota". A ideia de uma lupa natural que realça a flor chamou de imediato a minha atenção e deu-me inspiração. A minha imaginação despertou logo com as primeiras discussões com a equipa. Era um briefing muito criativo, com uma ideia principal: revelar o invisível a olho nu, descobrir a beleza oculta e a poesia da natureza.
Para mim, “A Drop d'Issey” resume-se em três palavras: puro, fluido e majestoso.
Ane Ayo.
Este perfume traz-nos uma forte mensagem de liberdade...
Senti-me muito livre durante todo o processo criativo, nada era proibido. Pude voltar a trabalhar, tal como queria, com a Syringa (o Lilás) e Lírio do Vale, flores muito tradicionais em perfumaria.
A água está também no centro deste perfume. De que maneira foi desafiante dar uma forma olfativa a uma "gota" de água carregada de alegria, poesia e movimento? E por que razão escolheu o Lilás em particular como o ingrediente a ser recriado?
A água não tem cheiro por si só, é tudo uma questão de interpretação. A ideia era trabalhar o lilás, uma flor silenciosa e intocável, ou seja, o seu perfume não pode ser extraído da flor na natureza e deve ser recriado através do talento criativo de um perfumista. O que cria um verdadeiro paradoxo entre algo que é real e algo que nós inventamos. Também há um lado de mistério e de abstração, que cabe ao perfumista criá-lo. Jogamos com texturas, simplicidade e naturalismo, tudo muito em linha com os valores de Issey Miyake.
Porquê o “leite”, uma nota raramente usada pelas marcas e concretamente o leite de amêndoa?
Gostei da ideia de colocar o lilás sob o microscópio para “ampliá-lo”, examinando-o, dando ênfase às suas facetas já presentes na flor. O lilás já tem uma forma amendoada naturalmente presente, que achei interessante trabalhar, de forma a transmitir modernidade e conforto à fragrância.
Fale-nos mais sobre o jogo de paradoxos neste perfume como, por exemplo, o leite com "água".
O paradoxo está na complexidade de trabalhar algo real e inventado ao mesmo tempo. Usamos químicos “verdes”, aproveitando ao máximo as técnicas altamente inovadoras, protegendo as flores, uma vez que não precisam de ser colhidas.
Já sabia qual seria o formato final do frasco quando começou a trabalhar no perfume?
Não tinha qualquer ideia quando comecei o projeto, só surgiu depois. Mas quando o vi, gostei muito da sua forma simples e perfeitamente redonda.
Existe uma preocupação consciente com a sustentabilidade, com o frasco, e também com a origem e os ingredientes do perfume. Enquanto perfumista, de que forma isso interfere ou influencia as suas criações?
Queria encontrar nesta fragrância toda a naturalidade e pureza dos extratos naturais, de origem responsável, bem como a beleza das moléculas inovadoras, renováveis, respeitadoras do meio ambiente e também muito puras. Procuro sempre ter um equilíbrio perfeito entre a criatividade trazida pelos sintéticos e a beleza dos naturais.
Quais são os seus ingredientes favoritos de perfume e porquê?
Para mim, adoro perfumes frescos, colónias. O verdadeiro aroma que eu adoro, porque me traz conforto e segurança, é o cheiro de limpeza. Como perfumista, adoro trabalhar notas florais, notas amadeiradas, cheias de textura e profundidade. Também adoro chipres, trabalhar com almíscares, são um verdadeiro vício.
Tem alguma curiosidade que possa partilhar sobre o processo de criação deste perfume?
Costumo usar os perfumes que estou a criar. É uma boa maneira de testar a fragrância diretamente na pele. Dá-me a oportunidade de a sentir, vivê-la e determinar se está a resultar da maneira que eu tinha imaginado. E depois posso decidir o que gostaria de alterar, aprimorar ou melhorar.
A Drop d'Issey está disponível em 30, 50 e 90 ml, a partir de € 57,50.
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