Lembro-me de, no liceu, regressar à escola e ter os meus amiguinhos a questionarem-me sobre as minhas férias, sobre o destino e os dias de praia que tinha feito nesse verão. E desenganem-se se acham que eles estavam realmente interessados nas minhas férias — não estavam. A pergunta era sempre a mesma: “Mafalda, não foste à praia?”, every single year! Durante anos e anos, eu achava que era o fantasminha da turma que nunca ficava mais escura do que um douradinho de pescada. E olhem que eu até gosto de douradinhos...
Com uma mãe ruiva, herdei dela o tom de pele muito clarinho — mas sem sardas, infelizmente. E talvez por ela ser muito reativa ao sol, não cresci com férias intermináveis na praia. Ou seja, a minha melanina é capaz de ser um pouco preguiçosa na hora de trabalhar para o meu bronze. E se hoje em dia eu até lido bem com isso, a minha adolescência foi vivida com a consciência de que iria sempre ter alguém a comparar-se ao tom do meu braço. Porque mesmo quando eu achava que estava bronzeada, era sempre a mais clarinha do grupo.
Claro que, com isto, vieram as inseguranças — e os escaldões. Afinal, se as críticas ao meu tom de pele eram tantas, eu só queria era bronzear-me e, de vez em quando, fazer de conta que me esquecia de usar protector solar. Não havia verão que não apanhasse escaldão (perdoem-me a rima!) e alguns foram até bem graves. Até porque eu acreditava no mito das praias de Sintra, que bronzeavam mais com o seu típico tempo nublado sem sequer precisarmos de protector solar. Testei essa teoria no Magoito, com 14 anos, e arrependi-me para sempre — não funciona, não testem.
Hoje em dia, sei bem o disparate que isso é e agradeço a mim mesma por ter ganho consciência cedo e ter feito do protector solar o meu melhor amigo do verão. Alguma esfoliação antes dos dias de praia, protector 50 nos primeiros dias de praia (que vou reduzindo para 30 ao longo do verão — arriscando por vezes num óleo bronzeador com protecção, sempre) e uma boa dose de hidratação sempre que o dia de praia termina. Não usar os mesmos produtos de um ano para o seguinte, tentar manter a bolsa fora do sol e ir renovando a aplicação ao longo de um dia de praia. Com os cuidados certos, o resultado é um tom de pele tão bonito como qualquer outro — mas saudável, acima de tudo.
Costumo dizer que nos meses frios sou uma lulinha e me transformo num calamar no verão — uma lulinha frita, com aquele tom dourado. Até porque esse é o máximo que me consigo bronzear. Esqueçam lá os tons caramelo ou verdadeiramente bronzeados — eu fico com um tom dourado, mas que aprendi a amar assim mesmo. E que, sejamos honestos, também exige algum cuidado a manter. Passei de uma relação de ódio para uma relação de muita atenção e dedicação — como aquela que qualquer pele merece.
Comentários