Conheci a Susana Chaves durante a rodagem da primeira temporada do ARMÁRIO.

Pusémo-la na lista de pessoas que queríamos entrevistar para o episódio sobre Beleza, muito porque não seria possível [nem justo] compilar um episódio sobre Beleza para um programa feito em Portugal, sem pensar na Susana.  E depois porque sempre adorei a forma como escreve e fala sobre o assunto e pronto, o facto de ser assim como é.

Thing is, clickámos. Mas clickámos bué. Fizemos faísca, foi tipo, amor à primeira vista com aquela canção da Kylie Minogue a dar lá atrás. Só que não.

Estávamos sentadas no spa do Ritz a assar com o calor que se fazia sentir naquele espaço naquele dia, apesar das sedas leves que envergávamos com algum receio porque era Inverno, e disse-lhe que adorava um dia escrever sobre Beleza.

Um.

Dia.

Entretanto passaram meses a fio, mas aqui estou, a escrever sobre Beleza.

Porque é que [eu] seria uma pessoa interessante ou relevante a escrever sobre Beleza? Não sei.

Quer dizer, não sabia, mas agora já sei.

Não pensava muito sobre uma ideia de Beleza [minha] até começar a rodar o ARMÁRIO e a consolidar aquela coisa que é a imagem do sujeito que conduz o programa.

Para já não estava a conseguir lidar, porque pronto, eu não consigo lidar com a ideia de poder dizer que quero isto ou aquilo. É um misto de vergonha com “tá se achando” com muitas outras coisas, nomeadamente porque o habitual é eu ser a provider e não quem recebe. Escolhi, para tais efeitos, uma equipa que no fundo é constituída pelas mesmas pessoas em quem confio há anos o meu aspecto, e a minha ideia de Beleza começou a consolidar-se e a ganhar uma forma, que é aquela que hoje se percepciona no ARMÁRIO ou em casa da Cristina, por exemplo.

Comecei a olhar para os programas de televisão com outros olhos, ou até mesmo a pensar só sobre porque é que em determinados programas há pessoas assim ou assado. Pensei no meu gosto pessoal e em tudo o que vejo todos os dias em todo o lado e as primeiras vezes que filmámos o ARMÁRIO, o DOP pediu muitas vezes para virem rectificar brilhos na minha pele, até que lhe disse que “pedi expressamente brilhos. Pedi para a pele estar a brilhar, porque as peles não são baças, são brilhantes, e o aspecto baço-barra-mate dá-me ânsias.”

Soube, nesse momento, que estava a fazer alguma coisa mesmo muito diferente do que é comum ou habitual em televisão. A minha maquilhadora extraordinnaire, a Lea Louro, não usa base na minha cara. É ponto assente. E respeita a rebeldia das minhas sobrancelhas e o comprimento dos pelos das mesmas, sem sugerir acertos nem aparadelas, muito menos desenhos geométricos. E uma vez decidida que está a imagem que uma pessoa quer ter, no tempo da imagem, é muito tranquilizante. É tipo ASMR da imagem, sem ter de se ser agressivo e dizer que “não, obrigada, mas um desenho de sobrancelhas recortado num cartão que se aplica na minha testa como um calquito não é aquilo que pretendo". Disse-me o Carlos Moedas, primeiro entrevistado do ARMÁRIO no âmbito dos episódios sobre Sustentabilidade, que “o Futuro é tailor made”. E não imaginam como isso me fez tilintar a cabeça.

Durante a criação desse episódio do ARMÁRIO sobre Beleza onde conheci a Susana, percebi que a Beleza é um dos sectores mais excitantes para se estar neste momento, no universo Moda e Lifestyle. Por um motivo muito simples: a Beleza, dentro da sua aparente exclusividade, é muito inclusiva. A Beleza é o melhor portal de entrada para um universo de sonho, especialmente na era digital. Não tem tamanho, logo não constrange, não causa breakdowns no provador ou em casa, não pesa, e é livre de ser utilizada e manipulada como quisermos. É muito maravilhoso perceber que há produtos que podem ser utilizados à nossa vontade, porque a Beleza não é unívoca. E ao estar tão próxima de nós, porque se aplica no maior órgão que temos no nosso corpo, a pele, a Beleza é uma forma de afirmação, de libertação e de construção do self completamente excitante e capaz de nos ajudar a conhecer melhor, a desenvolver rituais de cura, de acção, de cuidado… É mesmo um portal.

E é nesse sentido que me apetece contribuir aqui para a Miranda: apetece-me escrever sobre como a Beleza é libertadora e favorável à criação e manutenção de uma identidade pública única, pessoal e intransmissível.

Este texto é uma espécie de apresentação e de porque é que eu acho que posso contribuir, e pronto, espero que gostem e que se divirtam comigo, de vez em quando!

Joana Barrios divide-se entre o teatro, a televisão, a Internet, e cozinhas. Há mais de uma década criou o TRASHÉDIA.com e a nossa vida nunca mais foi a mesma - muito menos a dela.