Eu sempre fui aquela pessoa que não aguenta experimentar mais de dois perfumes. Fico imediatamente confuso e incapacitado. Nunca vos aconteceu? Ao contrário das roupas, usava aquilo que me davam e, numa fase posterior, usava aquilo que cheirei em alguém e que tive a coragem de perguntar o que era.
Nos últimos tempos, ganhei autonomia e o meu método de descoberta de perfumes aprimorou-se: no site de pesquisa de perfumes fragrantica.com, basta inserir o nome de um perfume que sabemos que gostamos e somos brindados com as informações detalhadas sobre esse perfume, bem como sugestões de fragrâncias com notas semelhantes. Percebi que gosto do factor surpresa, pois não sendo possível experimentar o cheiro, encomendei alguns desses perfumes sugeridos e nunca fiquei desapontado. Foi assim que descobri o Davidoff Zino ou o Halston Z14.
Assim ganhei uma ideia muito clara do tipo de cheiros que gosto e que me arrebatam: lavanda, geranium, bergamota… Poder ficar fechado numa sala a cheirá-los era a melhor coisa que me podia acontecer. E aconteceu. Era mesmo isso que eu queria quando soube que podia criar o meu próprio perfume na OPAR.
Antes da visita, preenchi um questionário sobre as minhas preferências olfactivas, mas também sobre as minhas escolhas de vinhos, do meu lugar favorito ou a flor que gostaria de ser. Apercebi-me nesta fase que não sendo consumidor de álcool, gosto da ideia do whiskey e, apesar de não ser fumador, gosto do cheiro de tabaco.
Quando cheguei ao laboratório-atelier, em cima do balcão estavam já alguns frascos com alguns cheiros escolhidos pelo perfumista. A hora seguinte foi passada a “embebedar-me” naquelas fragrâncias e a maior satisfação foi a descoberta de muitos odores que ainda desconhecia. Este momento é absolutamente mágico. Todos temos uma memória olfactiva e, ao sentir os “nossos” cheiros, vamos desbloqueando momentos do passado e reactivando novas sensações. A maior excitação advinda desta experiência era a de pensar que é possível encapsular tudo isto dentro de um frasco e levá-lo para casa e borrifá-lo em mim sempre que quisesse!
Antes de partir para a alquimia completa, o perfumista deu-me a experimentar uma amostra e ainda tive a oportunidade de reajustar. Senti que estava ainda muito terroso e precisava de estar mais verde, mais fresco. E depois disso, sem a ajuda do meu namorado não saberia tomar uma decisão, por isso, se forem indecisos ou se se sentem leigos no universo da perfumaria levem alguém convosco - no meu caso ajudou. Saber que o cheiro final agradava o meu mais que tudo, resolveu-me as inseguranças todas.
Entretanto, saí de lá com um frasco perfume que me faz sentir que estou a agarrar uma garrafa de whiskey. E este whiskey cheira também a incenso e a chá preto e faz-me sentir um homem atraente e sofisticado. É claro que depois de uma hora a cheirar tudo e mais alguma coisa, acabamos por perder um pouco a “noção” olfactiva. Saí dali verdadeiramente enebriado. E foi bom ter sido chamado à terra quando um estranho na rua te interpela e pergunta “este cheiro é seu?!” “Ahhhh, é óptimo!”
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