A falta de informação à volta da proteção solar, e a propagação de alguns mitos, justifica os números dramáticos de consumo de protetor nas idades mais jovens, entre os 10 e os 25 anos, na Geração Z (dados Cosmetics Business Junho 2023):

  • 63% dos Gen Z não usam protetor solar diariamente.
  • 16% não usam protetor solar porque consideram inseguro para o meio ambiente.
  • Apenas 11% usam FPS 50 ou mais alto.
  • 26% dizem não usar protetor solar por não viverem em países com muita exposição solar.

A indústria cosmética tem feito um esforço enorme para tornar estes produtos mais agradáveis nas texturas, nas fragrâncias e, até, nas embalagens. O mercado da proteção solar vale, segundo a Euromonitor International, 13.4 mil milhões de dólares e cresce 4.5% ao ano. Nestes valores entram, para além do protetor solar, o autobronzeador (que cresce 4.6%) e os pós-solares (que caem 0.2%).

No Top 5 de países que consomem proteção solar, temos, sem surpresa, os EUA, seguidos da China, do Brasil, da Coreia do Sul e do Japão (a K-Beauty e a J-Beauty valorizam muito esta categoria cosmética onde, culturalmente, a pele clara e uniforme é extremamente apreciada). Independentemente do país, a Ciência é transversal e, atualmente, não há dúvidas quanto aos factos mais básicos relacionados com estes cosméticos.

A atitude certa para melhorar estes números e promover o uso correto de protetor solar é a educação. Esclarecer algumas das ideias erradas que circulam um pouco por todo o lado poderá ser o primeiro passo.

Os filtros físicos e os químicos funcionam da mesma maneira

Apesar de lermos muitas vezes que os filtros físicos funcionam por reflexão e dispersão da radiação, e os químicos por absorção, isto não é verdade. Ambos os tipos de filtros absorvem a radiação UV e convertem-na em calor. Apenas uma pequena percentagem é refletida ou dispersada (menor que 5%).

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Todos os tipos de protetores devem ser aplicados 15 minutos antes da exposição solar

Seja um protetor com filtros físicos, químicos ou com ambos, é muito importante aplicar 15 minutos antes da exposição solar, espalhando suavemente sobre a superfície da pele e deixando secar. Na aplicação do protetor solar, deve evitar-se fricção ou demasiada massagem da fórmula na pele, porque o objetivo é formar uma película superficial. O período de espera serve para evitar a remoção involuntária e prematura do produto com a roupa, toalha ou areia.

O FPS não nos diz quanto tempo mais podemos estar ao sol sem queimar, porque a radiação UVB varia ao longo do dia e do ano

O FPS avalia apenas a resistência da nossa pele à radiação UVB. Por exemplo, um FPS 30 significa que, usando protetor, conseguimos suportar 30 vezes mais radiação UVB antes de queimar, do que se não estivéssemos a usar protetor; mas não quer dizer que possamos estar mais 30 minutos ao sol do que sem protetor. Contrariamente à radiação UVA, que se mantém estável ao longo do dia e do ano (varia com a latitude), a radiação UVB varia ao longo do dia e do ano. Convém lembrar ainda que no cálculo do FPS são aplicados 2 mg de protetor por centímetro quadrado de pele, sabendo-se que, em média, aplicamos apenas 25%-50% desta quantidade na nossa pele.

Um FPS 30 deixa passar quase o dobro da radiação UV de um FPS 50

É frequente lermos que um FPS 30 bloqueia 97% da radiação UVB e que um FPS 50 bloqueia 98%. Vendo assim, parece uma pequena diferença. Contudo, se analisarmos o quanto não é bloqueado, ou seja, o que cada índice deixa passar, concluímos que um FPS 30 deixa passar quase o dobro da radiação quando comparado com um FPS 50 ((1/30) / (1/50) = 1.66). Portanto, um FPS 50 faz diferença e recomenda-se. Apesar disso, convém reaplicar a cada duas horas, ou mais frequentemente se nos molharmos, transpirarmos excessivamente ou friccionarmos a pele com a areia ou com a toalha.

Os protetores com cor protegem ainda mais do que os sem cor

Os protetores solares com cor podem ser particularmente importantes para pessoas com tendência para hiperpigmentação ou melasma. Isto deve-se à sua capacidade de bloquear a luz visível, que é conhecida por exacerbar estes problemas de pele.

Verifica-se que os protetores solares com cor reduzem mais as recidivas de melasma do que os protetores solares de largo espetro sem cor. Também já foi demonstrado que reduzem a hiperpigmentação. O óxido de ferro, naturalmente pigmentado, é muito eficaz no bloqueio da luz azul (para além dos UVA).

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Com ou sem cor, é importante utilizar diariamente protetor na quantidade recomendada (2-3 dedos para a região da cabeça), não só para prevenir o envelhecimento cutâneo, mas também para reduzir o risco de desenvolver cancro da pele.

A proteção solar não passa apenas por aplicar protetor. Para segurança solar global, aconselha-se a utilização conjunta de vestuário, chapéu, óculos de sol e sombra.

Cor: escuras ou brilhantes (preto, azul-marinho vermelho), absorvem mais raios UV do que as cores mais claras, protegendo melhor a pele.

Construção: o material, a malha e a textura afetam a capacidade de proteção. Tecidos densos, através dos quais não se consiga ver, protegem mais.

Tamanho: quanto maior, melhor. Isto é especialmente importante para chapéus e óculos de sol. Os sapatos também devem cobrir os pés.

Corte: quanto mais largo, melhor. Uma peça demasiado apertada sofre tensão e as fibras do tecido alteram, permitindo a passagem de radiação através do material.

Agora que já sabe tudo isto, está nas suas mãos ser saudável e feliz ao sol. Aproveite!

Farmacêutica de formação e especialista em Cosmética, Joana Nobre trabalha na Indústria Farmacêutica desde 2005. O rigor é a sua imagem de marca, algo bem patente nesta rubrica que criou para a Miranda.