O desfile para o Outono-Inverno 2019 da Gucci decorreu ontem na Semana da Moda de Milão e foi, como todas as apresentações dirigidas pelo director criativo Alessandro Michele têm vindo a ser, um dos mais antecipados (e desde então discutidos) eventos do fashion month.

Depois daquelas que foram umas semanas complicadas para a marca, que foi acusada de fazer alusão a imagens de blackface com umas sweaters estilo balaclava que entretanto saíram do mercado, a casa italiana recebeu ontem os convidados num auditório escuro, que se iluminou no início do desfile com luzes pulsantes. Ao som da estrondosa Message, de Edgar Pettman, os looks que iam aparecendo eram constituídos pelo já familiar mix entre o streetwear e a elegância das roupas de noite, mas a maquilhagem, no sentido mais tradicional da mesma, era inexistente.

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Muitos dos modelos desfilaram com máscaras, à semelhança do que já tinha acontecido no desfile de Vivienne Westwood. Mas enquanto Westwood associou um conceito muito específico às face masks de plástico que apresentou, na Gucci as máscaras desfilavam na sua forma mais tradicional (colocadas sobre o rosto, encaradas como um acessório e não como parte literal da maquilhagem), e a sua simbologia era subtil e aberta a interpretações.

Segundo Michele, este adereço representou os muitos papéis, as muitas personas que cada um de nós desempenha na vida - sendo a roupa, claro, simultaneamente uma armadura e um veículo que usamos para entrar "em cena". E por falar em armaduras, outros acessórios que acabaram de certa forma por substituir a maquilhagem ao longo do desfile foram os brincos, que cobriam totalmente as orelhas (e em certas ocasiões, parte do rosto também).

Alguns modelos sem máscaras usaram próteses que imitavam gordas lágrimas, semelhantes às que tantas vezes vemos em figuras de santos nas capelas e igrejas - uma referência que, em conjunto com a soundtrack, põe em evidência a influência que a religião tem tido no trabalho de Michele. Thomas de Kluyver, pela primeira vez nos bastidores de um desfile da Gucci, foi o makeup artist responsável por estes looks. Os modelos que não usavam lágrimas tinham lentes de contacto em tons unidimensionais, como estas verdes fluorescentes. Maquilhagem, visível, nem vê-la.

A Gucci de Alessandro Michele nunca foi convencional, e este último desfile da marca é mais uma prova disso. Deu-nos a conhecer uma Beleza composta em primeiro lugar por objectos e acessórios, com a base - o rosto - livre de produtos aparentes. Um novo conceito, que cada vez mais é tendência.