Nunca nos preocupámos tanto com os ingredientes, seja no rótulo dos alimentos que comemos, seja nos produtos que colocamos no rosto. Ler as letras pequeninas pode, contudo, ser um verdadeiro quebra-cabeças. Há expressões que dão uma ajuda, mas é preciso perceber exatamente o que significam, evitando confusões (um produto vegan não é necessariamente orgânico, por exemplo) e falso conhecimento. Deciframos abaixo os termos mais populares.

Natural

Esta referência tem a ver com os ingredientes que formam o produto. Para saber se este é natural ou não, não chega ver o que está escrito em destaque na embalagem, até porque há marcas que descrevem os produtos como naturais, mesmo quando os ingredientes naturais constituem apenas 1% da fórmula. Olhando para a lista de componentes, é expectável que os ingredientes naturais estejam no topo, e os sintéticos, a existirem, apenas mais para o fim (regra geral, a lista é elaborada de forma decrescente).

Há marcas que facilitam o trabalho, como a Lush, que discrimina ingrediente a ingrediente, e quais são os naturais e os sintéticos seguros. Há também, cada vez mais, outras que declaram abertamente a percentagem de ingredientes naturais nos seus produtos.

Contudo, vale a pena lembrar que grande parte dos preservantes são ingredientes sintéticos, pelo que os produtos 100% naturais têm um período de vida mais curto.

Orgânico

Um produto pode ser natural e não ser orgânico? Sim. Os cosméticos orgânicos distinguem-se pela origem dos produtos. Não só são naturais, como são criados e extraídos de uma forma sustentável. Para considerar um produto orgânico este terá de ser livre de OGM (organismos geneticamente modificados), pesticidas e fertilizantes sintéticos, hormonas, antibióticos, fragrâncias artificiais, etc.

Coloração eco, atitude verde. Wow!
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No entanto, muitos produtos estão apelidados como "orgânicos" apesar de apenas uma ínfima parte dos seus ingredientes o ser. A melhor forma de contornar é (adivinhou!) ler o rótulo. Facilita o processo se navegar em lojas como a The Green Beauty Concept que, além de se focar em beleza sustentável, dá informação detalhada sobre os produtos, mas também simplifica — é comum encontrar definições deste género: "99% natural, vegan, 61,50% orgânico".

Biológico

Nesta categoria há um aliado de peso. O selo da União Europeia, que classifica os produtos "bio". É este e deve procurá-lo.

bio

Quanto à cosmética biológica, esta não é mais do que produtos com ingredientes biológicos. O que é que isto significa? A marca portuguesa Organii explica: são "produtos produzidos com base em ingredientes biológicos cultivados sem pesticidas e herbicidas, dos quais se consegue retirar extratos mais puros e ativos. As marcas e os fabricantes que desenvolvem de forma séria estes produtos procuram que o processo de fabrico seja o mais natural e com o menor impacto ambiental possível." Está a pensar: "onde é que eu já ouvi isto"? É provável, já que orgânico e biológico são dois termos sinónimos.

Vegan

Os produtos vegan não são constituídos por quaisquer ingredientes derivados de animais. Procure os logos, uma vez mais, e as designações, sabendo que estas também estão sujeitas a erros. Ainda recentemente, a marca Glossier esteve debaixo do escrutínio online por ter lançado uma máscara, a Lash Slick, categorizada como vegan. No entanto, um utilizador detectou cera de abelha na lista de ingredientes. A marca assumiu o erro, devolveu o dinheiro e retirou a categorização vegan ao produto.

Note-se que, apesar de os produtos vegan não terem ingredientes de origem animal, os ingredientes podem ter sido testados em animais. E por isso é que os termos vegan e cruelty-free não são sinónimos.

Cruelty-Free

À falta de tradução portuguesa direta, a expressão significa que nenhum animal foi magoado no processo. E apesar de que a falta de testagem em animais impeça que um produto seja vendido em grande parte da China — onde os testes em animais são obrigatórios — há cada vez mais marcas a adoptar esta filosofia: a The Body Shop, a Urban Decay ou a Kat Von D são exemplos, mas pode consultar a lista completa no site da PETA, aqui.

Clean

Não há (ainda) uma definição clara, mas o adjetivo clean implica tratar-se de produtos sem parabenos, pesticidas, sulfatos, fragrâncias sintéticas, pigmentos artificiais, etc., etc.. Uma tendência que tanto inclui ingredientes naturais, como criados pelo Homem, e que se foca não tanto na origem destes, mas sim na sua segurança.

Comércio Justo

É auto-explicativo: produtos que são produzidos através de comércio justo (em inglês, Fair Trade). O termo garante que os ingredientes — do óleo de coco às nozes do Brasil, ou até ao sal marinho português — foram comprados a um preço justo. A uma pequena escala, a compra dos produtos com esta filosofia ajuda pequenas comunidades. Numa escala maior, é uma peça essencial na sensibilização sobre as regras e o funcionamento do comércio. O objetivo é um futuro em que a atividade comercial se baseie em regras justas e transparentes.