Manter as coisas simples não é tão simples quanto parece. Ou até é. Talvez seja o processo que nos leva a encolher o número de distrações da nossa vida, a parte demorada, mas quando decidimos editar os itens que têm direito a pertencer ao nosso dia-a-dia, o difícil torna-se voltar atrás.

Deve estar relacionado com uma espécie de seleção natural: dos amigos à roupa, passando pelos cuidados de Beleza, alimentação e até formas de passar o tempo, tenho sentido que as minhas ânsias por mais e melhor que me acompanharam toda a adolescência e início de vida adulta (e que no fundo sempre tiveram uma associação directa na minha cabeça com a imagem de sucesso) foram substituídas por um desejo único: o da beleza da simplicidade.

#Domingando: a liberdade da Beleza é um mito ou uma realidade?
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É um tipo de FOMO [fear of missing out], só que ao contrário – dedicar o meu tempo e energia àquilo que realmente importa tem sido a melhor dica de beleza que apliquei nos últimos anos. Um bálsamo refrescante que consiste em trocar os dias atarefados por pequenos momentos de prazer, dedicar os tempos livres a fazer o que realmente gosto, com quem gosto, revelou-se a tarefa mais importante da minha ‘to do list’.

E é aplicável a quase tudo: basta olhar para a minha rotina de beleza para ter a prova final. Deve ser uma coisa da idade, fui-me tornando fiel àquilo que me faz sentir bem, do champô que aplico no banho aos cremes que coloco no rosto, terminando na maquilhagem – olho para a quantidade absurda de sombras de olhos que guardo em caixas e penso que nem existem dias do ano disponíveis para as utilizar todas. Não me interpretem mal, adoro variedade e sei apreciar a diferença entre 10 tons de batom vermelho que à maioria dos comuns mortais parecem todos iguais. Mas necessitarei assim tanto deles para ‘ser’ a pessoa que sou hoje? Essa já é outra história.

#Domingando: keep it simple, beauty
Olho para esta imagem e sinto que não preciso de mais nada além desta banheira para ser feliz créditos: @zioandsons

Como li algures, a extravagância é muitas vezes o retrato de uma vida insatisfeita. Quando simplificamos, a nossa existência ganha algo que a quantidade absurda de itens que outrora ocuparam as nossas vidas não nos conseguem dar – significado. As decisões tornam-se mais assertivas, as nossas relações tornam-se mais aprofundadas, damos mais valor ao que realmente temos e perdemos responsabilidades e stress. O ego liberta-se do que se alimentar e só sobra aquilo que realmente importa. As posses materiais deixam de nos definir e, apesar de continuar a adorar cada um dos meus 10 batons vermelhos, sei que não são eles que me definem. Parece óbvio, eu sei, mas há lições que me têm levado mais tempo a aprender e aperfeiçoar.

A minha tendência natural (ou fabricada e absorvida desde que nasci, já não sei) para complicar foi sendo substituída por um intermédio entre demasiado pouco e exagerado – e acredito cada vez mais que é no essencial que está o segredo para isto tudo. Trocar o que é feito por aquilo que não é, é, muitas vezes, o mantra moderno para a felicidade. E é mais do que transformar um processo de pre-serum, base, corrector e pó apenas num ‘CC cream’ – é um estado de espírito que nos ajudará a devolver uma maior sensação de controlo das nossas vidas. E sabem com o que essa sensação se parece? Com aquela paz que vemos nos anúncios das coisas de que não precisamos.

Do jornalismo à comunicação, é na escrita que Patrícia Domingues espelha a sua natureza curiosa e bem-humorada. Na Miranda, a libriana partilha instantes de um eterno namoro pela Beleza, bem-estar e cosmética.