Na sociedade, na economia, nos negócios. O coronavírus chegou. E parece querer ficar por tempo indeterminado. Até podemos travar a evolução da pandemia, mas as suas consequências vão perdurar. Temos cabeleireiros e salões de manicure encerrados, lojas de cosmética e estética fechadas, makeup artists sem emprego e serviços ao domicílio suspensos. O mundo da beleza está a braços com uma nova crise. A Miranda trocou alguns dedos de conversa (à distância, claro) com quem está a viver bem de perto os efeitos do coronavírus. São 4 histórias para ler e reler.
O “pé de meia" a prestar o socorro
Tom Perdigão é makeup artist freelance. Os seus trabalhos incluem editoriais de moda, casamentos, campanhas publicitárias e celebridades. É uma profissão que exige contato pessoal. A tela está para o pintor como a cara está para o maquilhador. Em tempos de coronavírus, esta é uma das profissões mais sacrificadas. Com o emprego em modo pausa, Tom Perdigão afirma que as redes sociais têm sido uma importante ferramenta para manter-se ativo. “Neste momento, temos que ter uma relação mais próxima com os nossos clientes, amigos e seguidores. No Instagram, dou dicas e respondo a todas as perguntas que me fazem. É uma excelente forma para continuarmos a comunicar.” Quando o assunto é casamentos, Tom Perdigão está nas preferências das noivas por esse mundo fora. Neste verão, ía ter uma média de 47 clientes em Portugal, Itália, Espanha e Brasil. Hoje, vive de apoios dos estado, uma média de 400 euros por mês, mas não só. “Nos últimos anos, tive a sorte de trabalhar bastante, o que me faz ter um ‘pézinho de meia’ para sobreviver nos próximos tempos.”
As redes sociais apresentam-se ao serviço
Tal como os restantes salões de manicure, a Nails4'Us está de portas fechadas. É nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, que mantém o contacto com as suas clientes. “Estamos a prestar aconselhamento nas nossas redes sociais e a esclarecer dúvidas por email. Para além disso, todos os telefones das lojas estão disponíveis para esclarecimentos”, revela Magda Lourenço, fundadora e CEO da Nails4'Us em Portugal. Enquanto esperam pela resposta da linha de crédito de apoio à tesouraria, a Nails4'Us mostra-se confiante no futuro. “Acreditamos ser uma marca que presta um serviço de elevada qualidade e que tem uma carteira de clientes muito fiel.”
A pandemia na criação de novas oportunidades de negócio
Depois de mais de um mês com as portas fechadas, a Skinlife, loja de produtos de cosmética e perfumes, voltou a abrir. Foi durante o Estado de Emergência que manteve o negócio vivo através da loja online. “É necessário encontrarmos novas oportunidades de negócio. Este é o momento para reforçarmos a nossa presença digital, investindo na loja online”, revela Patrick Felipe, co-fundador da Skinlife. Da China para o mundo: começámos a ficar familiarizados com o coronavírus no mês de fevereiro. A Skinlife é o reflexo do alastramento da pandemia. “O impacto nas vendas foi gradual desde o final de fevereiro, tendo sido fortemente acentuado na primeira quinzena do mês de março. As nossas lojas estão estrategicamente localizadas em zonas de muita afluência. O cenário no Chiado e na Avenida da Liberdade, sem pessoas, era desolador. Esse foi o primeiro sinal de que um novo período de crise económica estava prestes a acontecer.”
Quando se fecham as portas à beleza
Antes do estar em casa ser o novo normal, a Beauty Now, empresa de serviços de beleza ao domicílio, começou logo a tomar as medidas necessárias para travar o avanço do vírus. “Usámos todos os meios de proteção (luvas, máscaras e soluções desinfectantes) para tentar não colocar em risco quer os nossos clientes, quer os nossos profissionais”, revela Ana Cabral, fundadora e CEO da Beauty Now. Apesar do mundo estar em stand by, há ainda quem tenha que continuar na labuta porque a vida corre lá fora. São estas as pessoas que precisam de um corte de cabelo, de umas unhas arranjadas ou de uma depilação bem feita. Com os serviços de beleza suspensos por imposição legal, a Beauty Now está de braços atados. “O que mais nos perturba é mesmo não podermos satisfazer as necessidades das pessoas que têm que continuar a trabalhar e que continuam a precisar de nós. Todos os dias recebemos dezenas de contactos de quem está na linha da frente, principalmente profissionais de saúde, pedindo os nossos serviços.”
A solução está na capacidade de reinvenção
Passado o isolamento social, as rotinas de beleza vão alterar-se. O cabeleireiro não vai ter a nossa visita todos os meses. E a manicure vai ter que sobreviver por um maior período de tempo. Ricardo Ferraz, investigador e docente na área de Economia, revela que é em alturas como esta que os negócios têm que se reinventar se querem sair desta a são e salvo. “(As empresas) terão de encontrar maneiras criativas de captar e fidelizar clientes. Isto é, devem preocupar-se em tentar apresentar ao mercado uma proposta diferente e irrecusável. Por exemplo, realizando promoções ambiciosas, criando cartões com vantagens interessantes através de parcerias com outras empresas, quer através de serviços que possam ser realizados diretamente em casa dos clientes evitando assim enchentes nos estabelecimentos. Mais uma vez, estamos a falar da capacidade das empresas inovarem numa conjuntura económica muito adversa.” Porque dias melhores virão. E a beleza não se vai deixar vencer. A luta continua.
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