Nascida no final dos anos 80, vivi a minha adolescência a sonhar com um piercing no umbigo que nunca chegou a acontecer. Olhava para os piercings com a mesma admiração e ponta de inveja de quem olha para a irmã mais velha cool: rebelde, inatingível, com um certo 'olha para mim que sou tão fixe' mas blasé. Lembro-me de a minha mãe ficar horrorizada com o piercing que a minha irmã fez (sim, a minha metáfora era real em todos os sentidos), como se a imagem do seu lindo bebé tivesse, de alguma forma, sido manchada. Eram os anos 90 e felizmente a ideia geral sobre os piercings, tal como os meus sonhos, mudaram.
É estranha esta estranheza associada aos piercings quando eles já existem há mais de 5 mil anos. Mais do que um acessório de Moda, escondiam múltiplos significados, da virilidade à riqueza e todas aquelas coisas para as quais sempre tivemos queda para o show off. Parece que sofreram um declínio nos anos 20 (não sei muito bem porquê porque se eram 'loucos' e cheios de bling-bling o piercing assenta que nem uma luva com plumas, mas adiante), para regressar em grande com os hippies dos 60. Nas décadas seguintes, e até agora, o movimento punk deu-lhes o seu lugar ao sol e depois vieram os anos 90, Britney Spears e o verdadeiro motivo pelo qual eu também queria um (#influenciável).
Hoje em dia, podemos quase dizer que o piercing é um 'não assunto' (no bom sentido), mesmo que saibamos que ainda resistem alguns preconceitos ligados a um simples adereço na pele (como a idade: hey, os piercings não são só para pessoas mais jovens!). Quem não gosta não faz, quem gosta saberá imediatamente quem é Maria Tash. Mas este meu desprendimento com os piercings não lhes retira a coolness, a beleza, a possibilidade de autoexpressão e a criatividade ligada a qualquer outro acessório. Tanto que tem um dia de celebração, que tem algumas teorias sobre a sua criação, mas cuja maioria aponta como 'culpado' Jim Ward, conhecido como "o avó do movimento moderno do piercing corporal".
No Dia Internacional do Body Piercing, achámos apropriado pedir a quem os usa para lhes fazer uma pequena dedicatória de amor.
"Fiz o primeiro piercing em 2016, em Nova Iorque e marquei com a própria Maria Tash. Já namorava as criações dela e adorava o facto de serem jóias delicadas, uma quase "lingerie" de orelha. Nunca me identifiquei com piercings "industriais" ou na escola mais "grunge" e a ideia de ser uma jóia, atraiu-me. Adorei a Maria Tash, é uma mulher super interessante e com uma visão rock-n-roll meets high-fashion. Apesar do processo de cicatrização comigo demorar imenso tempo, fiquei logo de olho e com vontade de repetir a coisa. No ano passado, em Londres, marquei no Liberty's, também na Maria Tash e agora... já ando a pensar no 3º e no 4º... Não há como não gostar das peças dela." - Susana Chaves
"Tenho um piercing no septo, se bem que já é tão parte de mim que me esqueço que é um piercing e não nasci assim [ahah]. Fi-lo quando tinha 18 anos , na altura fiz porque achava giro , achava edgy mas não muito pesado (também sempre tive cara de bebé por isso equilibrava bem). Ainda experimentei argolas de cores diferentes mas acabei por usar até hoje o mesmo do dia em que fiz (duas bolinhas). Acho que na altura também era o xitex de o fazer , o thrill, mas acabei por gostar tanto que nunca mais o tirei (também tive bastante sorte porque, à parte de um restaurante onde trabalhei, sempre me deixaram usá-lo em empregos e também a minha família é super easy nessas coisas). Eu gosto dele porque já faz parte da minha cara honestamente , tirei-o há pouco tempo para fazer um raio X e senti-me estranha, como se me faltasse mesmo um membro (até a minha mãe ficou 'algo está diferente, mas não sei o que é'). At this point, já não olho para ele como uma jóia ou um adereço: é parte da minha cara, e sem ele pareço aos meus olhos uma pessoa diferente." - Maria Teresa Lucas
"Neste momento só tenho um piercing no septo, mas já tive na sobrancelha quando tinha 14 anos (era moda, não me julguem) e aos 16 fiz um na boca depois de tirar o da sobrancelha. Com 21 anos decidi, enquanto tomava banho porque é no banho que tomamos decisões importantes, fazer um piercing no mamilo; não foi uma história feliz, é tudo o que tenho a dizer sobre esse. Sempre fiz piercings porque os vejo como brincos, anéis, colares ou tatuagens - são para enfeitar. No meu caso comecei pelos piercings, só agora aos 29 anos é que uso brincos nas orelhas, decisão tomada mais uma vez na banheira! Apesar de só manter o do septo, o último que fiz, gostei de ter todos. E pelo menos já sei quais nunca voltar a fazer!" - Maria Castello Branco
"Já tive vários ao longo dos anos, neste momento tenho 6 ou 7, a contar com o do septo que tirei há uns dias mas ainda está aberto. O primeiro que fiz foi o da língua, em 2011, na casa de banho dos Armazéns do Chiado. Os outros foram em estúdios ou em minha casa. É difícil responder porque os fiz ou o que gosto neles, porque é só uma questão de estética. É como as tatuagens: quando me perguntam porque as fiz só respondo 'vejo uma coisa que acho bonita e meto no meu corpo, é só isso, a todos os níveis [ahah]." - Patrícia Pinho
"Tenho dois furos miseráveis a dar ar de piercing [ahah]. Isto vai soar ridículo mas aqui vai: fiz há uns 2 meses porque andava com risco ao lado e tinha sempre o cabelo para trás da orelha e achei que ficava giro. O que mais gosto neles é que são alto acessório, tenho mil argolinhas e argoletas e brincos pequeninos para combinar com todos os looks. Há coisa mais millennial que esta? Suspeito que não." - Sofia Matos Ribeiro
"Tenho 14 piercings, 7 em cada orelha. Já tive mais mas entretanto fecharam. Fiz 10 deles de uma vez numa loja e o responsável não me queria furar porque achava que eu tinha bebido [ahah]. Gosto deles porque gosto de me ver com eles, acho que fica elegante e diferente." - Isabel Gonçalves Lopes
Comentários