"Alergia ao sol." Foi assim, sem meias palavras, que o relatório da minha biopsia à pele me informou da minha nova condição de saúde. Bom, na verdade a sentença era mais "erupções polimorfas à luz solar", mas, trocando por miúdos, vai dar ao mesmo. "Alergia ao sol? Eu? Mas eu sou a pessoa que mais gosta de ir à praia. Não é possível." Mas foi. E ainda é. Depois de 30 anos passados com muitas horas estendida no areal, a minha pele decidiu hastear a bandeira vermelha e de uma erupção cutânea no mínimo 'estranha' (espalhada pela zona do tronco, braços e pernas - o rosto era a única zona a salvo) resultou uma nova rotina de cuidados de cada vez que me quero expor ao sol (e que começa largos meses antes). Passado o choque inicial e as imagens em loop de um verão fechada dentro das paredes de casa (e a pele do tom de uma lula), percebi que a alergia ao sol é mais comum do que eu pensava  - estima-se que cerca de um quinto da população sofre deste problema -, mas nem por isso estamos mais informados sobre isso.

O dermatologista Álvaro Moreira diz que a primeira coisa em que pensa quando lhe falam em alergia ao sol é que existem muitos casos de reacções à radiação solar que, na verdade, não se tratam de alergias. "O meu primeiro conselho seria sempre procurar um especialista quando aparecerem os primeiros sintomas", que podem variar, mas que incluem pequenas vesículas, bolhas, borbulhas ou placas, bem como prurido intenso um pouco por todo o corpo e em especial nas zonas que não estão expostas ao sol durante o resto do ano.

Álvaro frisa que antes do diagnóstico, há que explorar todas as possibilidades. "Existem, por exemplo, vários medicamentos que levam a uma maior sensibilidade à radiação solar e que podem ter de ser parados ou substituídos se surgirem problemas de pele. Alguns antibióticos, neurolépticos e mesmo antidiabéticos podem causar reacções cutâneas graves." Também alguns produtos, como cremes anti-aging com retinóide, aumentam a sensilidade à radiação e podem confundir o diagnóstico.

"Para além disso, existem doenças autoimunes que são muitas vezes despoletadas pela exposição solar, como lupus e doenças bolhosas autoimunes. Até alguns tipos de infecções da pele, como é o caso do herpes labial, podem ser desencadeados por temperaturas mais quentes e dias com maior radiação solar", acrescenta o especialista. Embora o diagnóstico seja clínico (isto é, pode ser feito por um dermatologista, sem ser necessário qualquer estudo adicional), em alguns casos pode ser necessário recorrer a exames completamentares de diagnóstico, como fototestes e até biópsia da pele.

Álvaro explica que as fotodermatoses têm na sua génese alterações imunológicas que ainda não são completamente esclarecidas e que podem ter um enorme impacto na qualidade de vida dos doentes, por limitarem as atividades que podem ser feitas no dia-a-dia e por causarem prurido muito intenso. Já em relação ao tratamento, este depende do tipo de fotodermatose em questão. "De qualquer forma, é fulcral evitar a exposição solar para haver melhorias. Para além disso, a aplicação de protetor solar com filtro elevado é essencial, tal como é proteger a pele com roupa, chapéu e óculos de sol. Alguns médicos e cientistas aconselham um aumento da ingestão de alimentos antioxidantes, por exemplo ricos em betacaroteno (como cenoura e manga), ou tomar suplementos de selénio e vitaminas E e C, para auxiliar a proteger a pele."