Em que é consiste o trabalho de um Face Designer?

Bem, há várias coisas que tenho de fazer. Eu sou responsável pela Alemanha, sou o maquilhador nacional, ou, como dizemos na Giorgio Armani, Face Designer, e sou também formador. Por um lado sou responsável pela formação de vários maquilhadores, tenho cerca de 38 formandos que trabalham em pontos de venda. Dou-lhes formação, familiarizo-os com os novos produtos, as novidades, as técnicas de venda para criar momentos específicos para os clientes. E depois nas nossas lojas principais faço eventos com clientes duas vezes por ano. E ainda faço editoriais, produções com influencers, tutoriais. Por isso há muitas coisas que fazem parte de ser um Face Desginer.

Como é um dia normal?

Depende, se estiver a fazer vendas normalmente é com marcações com clientes, que vêm com expectativas para atingir determinados looks que não conseguem fazer sozinhos. Mas também posso estar a fazer um editorial ou backstage num estúdio. E depois também tenho as formações, que é onde ocupo grande parte do meu tempo. Diria que os meus dias são 50% formação, cerca de 30% passados nos pontos de venda e uns 20% em produções.

Como é que entrou no meio da maquilhagem?

Começa na minha juventude, eu era dançarino, não de ballet mas de danças latinas e danças de salão. Tinha de dançar com uma rapariga e, para as competições, as raparigas têm de estar super arranjadas, com cabelo feito e rosto maquilhado e eu comecei a fazer a maquilhagem da minha parceira porque não gostava do que eles faziam (risos). Esse foi o ínicio. E foi ótimo, porque quando nós aparecíamos toda a gente dizia “uau, a tua miúda está maravilhosa”. E eu dizia “sim, fui eu que fiz” (risos).

Foi quando percebeu que tinha talento?

Sim. Depois de acabar a escola fiz formação profissional em Business na Douglas, o que já era ligado a beleza. E daí fui para o campo, comecei em 1995. O meu primeiro contrato foi a Prada, não com a Prada perfumes, mas sim com o skincare. No final dos anos 90, e início dos anos 2000, Miuccia Prada decidiu lançar – muito antes de lançar as fragrâncias – uma linha de skincare. E eu fui responsável pela Alemanha, Áustria e Suiça, o mercado que fala alemão, pela formação para lançar este skincare super exótico. Mas as cores estavam a faltar... E recebi uma proposta da YSL.

E aí entrou finalmente na maquilhagem.

Sim, porque eu já era viciado em maquilhagem antes, mas o desafio da Prada era super interessante para mim, até porque eu sempre quis dar formação, eu adoro partilhar o conhecimento com os outros, e era uma boa oportunidade de trabalhar a nível nacional. Além disso queria viajar e conhecer. Mas acabei por saltar para o mundo da cor e a YSL era a maior nisso, então juntei-me a eles em 2002 e fiquei lá durante 15 anos. Entretanto, há dois anos que estou responsável pela Giorgio Armani e estou muito feliz.

O trabalho implica lidar com referências incontornáveis da maquilhagem, como Linda Cantello.

Sim, tenho muita sorte de trabalhar com ela [Linda Cantello é atualmente makeup artist internacional da Giorgio Armani]. Na verdade, eu já a conheço do tempo da YSL. Tive a oportunidade de trabalhar dois anos com ela, mas não era ainda um makeup artist nacional, fui uma espécie de assistente dela por duas vezes em eventos na Alemanha. Mas depois o destino voltou a juntar-nos (risos). Vi-a a primeira vez no ano passado e foi muito bom porque ela me convidou diretamente para um show da Emporio Armani, para fazer maquilhagem no backstage e felizmente agora fiz o meu quinto show, também fiz Privé.

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E gosta do ritmo do backstage?

Sim, mesmo quando és experiente, ficas sempre entusiasmado. Nós trabalhamos no coração de tudo, no teatro em Milão, que o senhor Armani construiu, e no topo está o seu escritório... Então é tão perto de estar no coração da marca. É incrível. A primeira vez que lá estive fiquei completamente arrebatado. E também por vê-lo, lá. Ele está no backstage.

Isso surpreendeu-o, ver Giorgio Armani no backstage?

Sim, claro. Porque para mim foi a primeira vez. Mas claro que faz sentido, ele tem de estar lá para dar os retoques finais. Mas vê-lo ali, nesta alta concentração, e ele estava tão concentrado em tudo, e o ambiente está com esta energia altíssima, foi incrível.

Quais são os seus looks favoritos de momento?

Bem, lançámos agora a linha Neo Nudes, por isso, ainda que eu adore cor, agora estou completamente fascinado por fazer looks nude, mas, ao mesmo tempo, perfeitos. Ou seja, o look nude que tu não consegues ver, que dá perfeição à tua personalidade.

Que personalidades é que acha que hoje são verdadeiros ícones e beleza?

No mundo Armani temos a Cate Blanchett, que tem tanta classe, ela é incrível! E eu tenho imensas inspirações do passado, que acabam por influenciar-me. Uma delas foi a cantora Annie Lennox, que na minha juventude ela era um ícone de maquilhagem. Eu era tão fascinado pelos looks dela, e tentava recriar alguns deles, sobretudo os dos videoclipes do final dos anos 80. Ela era uma trendsetter e influenciou-me imenso.

Quem é que adoraria maquilhar?

Ui, imensas pessoas. Mas atrizes italianas, como a Monica Bellucci, com os olhos grandes. Eu adoro fazer maquilhagens clássicas. Além dos nudes, adoro fazer maquilhagens sofisticadas em atrizes com olhos grandes e muito expressivos. Ou cantoras. Há várias cantoras de ópera que adoro e adoraria maquilhar.