Muitos pais optam por ir furar as orelhas das suas filhas, quando estas são ainda bebés. Contudo, outros preferem que seja a própria a escolher assim que seja mais crescida. Seja maior de idade ou seja mãe - ou pai - de uma menor que quer fazer o seu primeiro furo, é importante saber quais as opções para o que procura para que o resultado seja o esperado.

Os métodos mais conhecidos são a pistola (ou kits de perfuração) cujo serviço está disponível em locais como Claire's, farmácias e ourivesarias e, claro, com agulha realizado em estúdios de body piercing. Mas qual deles é o mais seguro? Qual deles vai ao encontro do que procura? Para a ajudar a tirar todas as dúvidas, entrevistámos Sara Bird e Rita Body Art, duas body piercers com estúdios em Aveiro e Porto, respectivamente. Para ler abaixo.

Para quem quer fazer o seu primeiro piercing no lóbulo - ou o chamado, furo na orelha -, quais as principais diferenças entre o uso da agulha, pistola ou kit de perfuração usado nas farmácias?

"A realização do primeiro furo é muito comum em crianças. Os pais deverão estar atentos para o que envolve esta ação, pois não é “apenas um furo”, é um procedimento mini-cirúrgico e deve ser bom ponderado e realizado com toda a segurança e higiene", começa por explicar a body piercer Rita Body Art. E continua, "Muitas pessoas recorrem ao uso da pistola por esta ser mais rápida - e muitas das vezes usada em simultâneo nas duas orelhas -, mas pessoalmente, recomendo sempre o uso de uma agulha".

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Uma opinião partilhada por Sara Bird, "O procedimento realizado com o uso da agulha americana ou cateter é o mais seguro. A ponta da agulha é mais afiada perfurando a pele de uma forma melhor o que não danifica os tecidos, para além de todo o material ser individual, descartável, embalado e esterilizado em autoclave. O material da jóia também é mais seguro, biocompatível com o organismo e com os tamanhos e modelos específicos para cada zona do corpo", explica.

Como funciona a pistola na hora de perfurar a orelha?

"Quando se utiliza a pistola, o que perfura é um brinco que não possuí qualquer lâmina, apenas uma ponta muito afiada, não fazendo a incisão adequada na pele. Esta funciona através da força, empurrando o brinco, o que rompe e agride o tecido", explica Rita Body Art. Sara acrescenta ainda que o furo com pistola "pode até mesmo criar uma cicatriz queloide, criando um trauma maior nos tecidos o que dificulta o processo de cicatrização".

Segurança e higiene na altura de furar as orelhas

A higiene do equipamento também é uma questão a assinalar, alertando para o facto de que a pistola não pode ser esterilizada, já que muitas vezes é de plástico, material que tende a derreter quando exposto a temperaturas muito elevadas utilizadas no processo de esterilização. "A única maneira de a limpar é usar uma solução antiséptica. O que pode provocar uma infeção por bactérias ou por vírus transmitidos pelo sangue que não foram devidamente eliminados nela caso se mais que uma vez", afirma Sara Bird.

Rita Body Art acrescenta ainda que "embora grande parte das pistolas/kits de farmácias já venham embalados para uso descartável, os profissionais que realizam este procedimento não seguem as normas de higiene e biossegurança, colocando a saúde delas próprias e dos clientes em risco".

Qual dos métodos é mais indolor?

"Considero que o método mais indolor seja com agulha", afirma a body piercer a tatuadora, "isto porque a fricção que a pistola exerce ao perfurar o corpo com o brinco é muito agressiva e invasiva no tecido, o que acabará por causar mais inflamação e inchaço, logo, mais dor. Adicionalmente, o brinco colocado fica demasiado apertado, não dando espaço à zona para inchar e curar ao seu ritmo natural, podendo, muitas das vezes, o corpo "engolir" a jóia."

É aconselhado utilizar gel anestésico para realizar a perfuração?

Ambas as profissionais consideram não ser algo necessário, contudo, deixam à escolha do cliente utilizar ou não. Estes atuam apenas superficialmente na camada da pele e num curto espaço de tempo não são prejudiciais à sua saúde e até aliviam a sensação no momento.

Qual o material mais adequado para o brinco de perfuração?

Ambas as body piercers privilegiam o titânio, por ser um material com melhor qualidade (liga de metal mais pura) devido à sua leveza e biocompatibilidade com o organismo humano, o que torna o processo de cicatrização mais rápido e seguro. O ouro é outro dos materiais usados por ambas as profissionais.

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Sara Bird também é fã do bioplastic PTFE (politetrafluoroetileno) e o aço cirúrgico 316, este último é muito usado entre os body piercers nos clientes com mais hipersensibilidade. A profissional desaconselha a prata, já que "com o passar do tempo alguns clientes podem criar uma alergia ao níquel que está presente no seu material".

Quais os cuidados a ter após furar as orelhas?

Embora os cuidados recomendados variam de profissional para profissional, a limpeza é indispensável. Sara Bird aconselha limpar o piercing duas vezes por dia, durante o processo de cicatrizacão. Sempre lavando as mãos e a zona com um sabão neutro, antibacteriano e desinfetar a zona com um anti-séptico indicado pelo profissional.

Já Rita Body Art, sugere o uso de soro fisiológico e o auxílio de cotonetes, de modo a não haver acumulação de bactérias. Na primeira semana, aconselha também compressas de soro fisiológico gelado para ajudar a reduzir o fluxo de sangue, diminuindo a dor e o inchaço. Em caso de inflamação constante ou desconforto, após a primeira semana, poderão ser feitas compressas de soro morno.

Pomadas, cremes ou géis são desaconselhados por ambas as profissionais. Assim como apanhar sol diretamente, ir á água do mar, rios ou piscinas, pois a água tem microorganismos, segundo Sara Bird.

"É imperativo que não se rode a jóia. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, este gesto atrasará a cicatrização, pois estará constantemente a romper tecido que quer cicatrizar", acrescenta Rita.

Qual o tempo médio de cicatrização dos furos nas orelhas?

Três meses é o tempo mínimo de cicatrização, de acordo com ambas as profissionais. "Este processo varia não só de acordo com o material usado e a forma como o procedimento foi realizado, como de pessoa para pessoa – o seu sistema imunitário, alimentação, higienização da área, etc.", explica Rita Body Art.

A que sinais se deve estar atento, para o caso de o furo infectar? O que fazer nesse caso?

"Caso o furo esteja inflamado ou infectado, a região estará quente ou até mesmo febril e o cliente sente alguma dor desconforto. Se for visível secreção grossa ou pus amarelado deve ser considerada um sinal provável de infecção", explica Sara Bird.

Segundo Rita Body Art, "muitas pessoas têm a tendência a deslocar-se à farmácia ou utilizar antissépticos/pomadas, o que eu não considero ser o mais indicado". Ambas as body piercers aconselham que se contacte o profissional que efectuou o trabalho ou, em casos mais graves, um médico.

Quando se pode trocar a jóia?

A jóia apenas se pode trocar após a sua cicatrizacão completa, uma opinião partilhada por ambas as profissionais. Em caso de dúvida, o indicado é pedir sempre o aconselhamento ao profissional para ter a certeza que já pode trocar a jóia.

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No caso de não querer utilizar agulha, dá preferência ao método usado nas farmácias (ou Claire's)?

"Nunca vou dar preferência ao uso de pistola", afirma Rita Body Art. "Como já referi anteriormente, considero que este procedimento deva ser feito de forma higiénica, em segurança e com profissionais da área, ou seja, body piercers, que possuem a formação e os estudos necessários, não só para realizar este procedimento, como prestar um acompanhamento adequado", explica a profissional.

Uma opinião partilhada com Sara Bird. "A perfuração através do uso de pistolas ou kits não é seguro e o ambiente para o procedimento deve ser específico e livre de contaminação cruzada e esses ambientes não o são. A pistola não é esterilizado em autoclave logo não é seguro e como falei anteriormente o processo é invasivo. O profissional também deve ter formação e conhecimento na área e se usa pistola para o fazer não o é."

Que conselhos deixa para quem procura fazer o seu primeiro furo nas orelhas?

"Um dos conselhos que deixo e o mais importante antes de fazer o seu primeiro furo nas orelhas é escolher um espaço profissional seguro e se cumpre todas as regras e normas de higiene", começa por explicar Sara Bird. "

"É importante fazer a pesquisa prévia. Procurar bons profissionais que sigam as normas de higiene e biossegurança, que usem materiais esterilizados e/ou descartáveis e da melhor qualidade, não colocando a sua própria saúde e a do cliente em risco", conclui Rita Body Art.

Qual o valor para fazer um piercing no lóbulo?

Embora varie de profissional para profissional, o valor para fazer o piercing no lóbulo realizado por Sara Bird é de 20 euros. O valor inclui todo o material individual , esterilizado, descartável, jóias em Titânio G23, anestésico local, acompanhamento e aconselhamento durante todo processo de cicatrização.

Métodos alternativos à agulha

Se está segura de que a pistola ou os kits de perfuração são o método que melhor responde ao que procura, existem três locais onde pode realizar o seu primeiro furo: nas Claire's, algumas farmácias e ourivesarias. Nestes locais, o valor associado ronda os 5 euros por furo e é realizado pelo profissional disponível no momento. Nalguns casos, o furo é realizado nas duas orelhas em simultâneo, por duas profissionais e duas pistolas. O valor do brinco, varia consoante o material escolhido.