No outro dia, entro em casa da Cristina, e está uma mesa no meio do hall com uma série Mulheres óptimas e a Maquilhadora Inês Franco.

O tema eram truques de maquilhagem, que eu acho muito bem e muito bonito e muito espectacular, mas que depressa se desviou para toda uma conversa sobre cuidados de beleza anti-envelhecimento e coisas que se devem fazer e outras que não e é claro que, conhecendo já uma das intervenientes, falámos de como depois da maternidade por creme no corpo, por exemplo, se torna uma espécie de efeméride para a Mulher. E pronto, falo de uma amostragem de mulheres até, diria eu, alargada.

#Lynda4Eva: a Beleza como portal de entrada
#Lynda4Eva: a Beleza como portal de entrada
Ver artigo

Não é por mal, não é desleixo, não é porque não se teme a temível força da gravidade, não senhorx, nada disso. É só porque não há tempo. E depois pode sempre ouvir-se, claro, que há tempo sim, que o tempo é uma fabricação, que é um conceito capitalista, etc… Mas não. Da forma como se procura viver a maternidade hoje, o creme, embora crucial para o bom desempenho das actividades de Mãe, é uma coisa que se esquece com facilidade. Não é possível esquecer o óleo de camomila para massajar o bebé depois do banho, nem as pomadas para a assadura da fralda, o gel calmante para as gengivas quando começam a romper os dentes ou aquele toque de perfume cheio de notas de talco, mas o creme no corpo das Mães?… Eh pá… Pois…

Manter uma belíssima rotina de pele pré e pós parto é um trabalho duro e árduo e cansativo e nem sempre fácil. Pré-parto até ao terceiro trimestre, tudo óptimo. Por creme na barriga é lindo, eu costumava sentar-me à noite no sofá a ler ou a ver televisão ou a escrever e aproveitava para ir empapando a barriga com o anti-estrias da Lierac ou da ISDIN, intercalei os dois, e às vezes reforçava com óleo de côco ou azeite, por exemplo. E tratava da pele do rosto com cremes do mais exótico, e até tinha um contorno de olhos, mas a verdade é que nunca me senti tão bela como quando estive grávida. Duas vezes. Por duas vezes já me senti um misto de Carmen Miranda com Monica Vitti e Bimba Bosé. No pós-parto há um único creme do qual NUNCA me esqueci, que é o creme reparador de mamilos da Medela, que é, no fundo, o santo padroeiro das mamocas das Mães. Tenho também uma excelente pele nas mãos por causa, lá está, dos cremes para a pele atópica da minha mais velha, e da pele magnífica do meu mais novo, que depois de os besuntar saídos do banho aproveitava e esfregava as minhas próprias mãos. Agora, nunca vi um rabo assado não sei como é, não me assistiu jamais e isso devo-o ao Eryplast da mais velha e ao Bepanthene da muda da fralda do mais novo. Os cuidados que poderia ter tido, quase nos últimos cinco anos, comigo, transferi-os para os cuidados que tenho para com x meus Filhx. E se aplicar no meu corpo um dos cremes dos seus corpos, sinto-me extremamente culpada e a pior Mãe, a desviar bombadas vitais de Enidryal Extra Emollient, Lipikar AP+ ou o BioOil.

Que. Mãe.

Posto isto, e porque o assunto eram as Mães que negligenciam cuidados de beleza no pós-parto, acredito profundamente no poder regenerador da baba dos meus Bebés, nas propriedades antioxidantes de um bom bolsado, nas características rejuvenescedoras de um cocó ou de um xixi.

Em bom rigor, creio que os cremes que não aplicamos rigorosamente todos os dias, Andreia, não nos vão deixar ficar mal.

Um dia acho que foi a Catherine Deneuve que disse que só punha creme no corpo de dois em dois dias, porque não queria que a pele se habituasse ao creme, uma vez que ela não sabia se iria ter sempre tempo e dinheiro para a alimentar assim.

Eu sei que o tempo das Mães é uma conquista psicológica e não física nem do calendário, e que na maioria das vezes as Mães se castigam demasiado em quase tudo. O tempo dos cremes também regressa. E das idas ao cabeleireiro, da manicure… Mas e se… fazer isso tudo deixar de ser importante ali durante um tempo? Será que somos piores Mulheres?

Joana Barrios divide-se entre o teatro, a televisão, a Internet, e cozinhas. Há mais de uma década criou o TRASHÉDIA.com e a nossa vida nunca mais foi a mesma - muito menos a dela.