O olfacto é um sentido mal-tratado no nosso dia-a-dia. Andamos alheados com tudo o que passa à nossa volta e nesta era do digital, e da cada vez maior dependência de smartphones, tablets e afins, mais do que nunca os sentidos têm uma importância incontornável na nossa relação com os outros e com tudo o que nos rodeia.
A verdade é que somos humanos, seres únicos e sensoriais. Por isso, o que está à espera para começar a ser menos digital e começar a usar os sentidos integralmente? Há quanto tempo não pára e se deixa ficar a apreciar o aroma da laranja que acabou de descascar ou sente verdadeiramente o que está à sua volta, na rua, em casa ou no escritório? Nessa experiência sensorial, o olfacto pode ser uma arma poderosíssima. Não paga mais por isso e, acredite, a vida fica bem mais divertida e ganha mais sentido.
Para o cérebro, o olfacto é uma porta de entrada para o mundo exterior. Quando sentimos um perfume, a informação viaja fulminantemente até aos nossos neurónios. O que se passa a seguir? De que forma um aroma desperta a memória? Como funciona o olfacto?
Uma viagem ao processo olfactivo, da detecção à percepção
Assim que nos aproximamos de uma flor e a cheiramos, em breves instantes o aroma é captado e enviado ao nosso cérebro gerando uma reacção emocional - como gosto ou não gosto, ou faz-me lembrar algo ou alguém...
Este processo, que demora fracções de segundo, apesar das várias etapas, acontece porque o aroma da flor é composto por moléculas odoríferas, muito leves e voláteis e que dão razão de existir ao nosso sistema olfactivo. Tudo começa no nariz e termina no cérebro.
Respiramos A primeira etapa do nosso processo olfactivo começa no simples acto de respirar. Sempre que inspiramos estamos a recolher moléculas odoríferas com o nariz, as quais através das cavidades nasais chegam à mucosa olfactiva onde as moléculas são solubilizadas e retidas por momentos. A mesma mucosa que quando estamos constipados não se contém e liberta o excesso de líquidos nasais naqueles dias que nada funciona a não ser uma rolha!
Captamos e identificamos Este tempo de retenção permite aos receptores olfactivos detectarem as moléculas odoríferas e processarem a informação enviando um sinal ao cérebro.
Consciencializamos A informação é então recebida no bolbo olfactivo, composto por neurónios responsáveis por traduzir a informação e criar um código de identidade, o qual segue o seu caminho para as estruturas cerebrais relacionadas com a percepção sensorial (córtex piriforme), memória (córtex entorrinal e hipocampo) e as emoções (complexo amigdalóide).
As três projectam então a informação para o córtex orbifrontal, onde é finalmente processada uma percepção consciente do odor.
Porque este é um processo complexo importa realçar que o olfacto é o único dos cinco sentidos que primeiro gera uma emoção e só depois se inicia o processo cognitivo.
Esta é talvez uma das viagens mais rápidas do mundo e certamente das mais magníficas.
Números a reter
Número médio de receptores olfactivos: 400 (no humano) 800 (no cão) 2000 (no elefante)
1 Segundo A duração máxima do percurso da informação olfactiva no cérebro, do momento em que sentimos até consciencializarmos
10 Milhões o número de neurónios olfactivos que temos na mucosa olfactiva
É um apaixonado por aromas e perfumes. Formado em Composição de Perfumes na Cinquième Sens, em Paris, membro da Société Française des Parfumeurs e júri do Prémio Máxima de Beleza, Lourenço Lucena cria perfumes e organiza formações e eventos, sempre em torno deste universo mágico. Adoramos fazer com ele esta viagem olfactiva.
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