Têm destas coisas, os sonhos. Nascem de ideias que vamos criando de mansinho, damos um primeiro passo, o universo dá-nos um empurrão nas costas e quando damos por nós a realidade ultrapassa qualquer uma das nossas expectativas. A história da Organii parece saída de um livro de contos de fadas da vida real, mas por detrás de cada momento que personaliza a imagem do sucesso do agora, estão escolhas, sacrifícios e ideias liderados pela paixão enorme que guia as irmãs Curica. O começo foi, como reza a lenda da maioria das histórias de marcas de sucesso, natural. O conceito de bio surgiu-lhes primeiro no menu com a horta da avó, para lhes encher as medidas ao prato, e daí à cosmética foi um pulinho. “A Cátia começou por ser macrobiótica aos 16 anos e como vivíamos juntas, isso influenciou-nos", explica Rita à Miranda, na loja Organii da Lx Factory, um espaço que nasceu como escritório numa altura em que ainda era uma rua de vizinhos. “Estando mais na área da farmácia, percebeu que a reação da sua pele podia estar associada à componente sintética usada na cosmética. Começámos a procurar alternativas”, que vinham sobretudo de fora, de listas que passavam a amigos que fossem viajar. Em Portugal, contava-se pelos dedos de uma mão os espaços que respondessem às necessidades de quem se ia interessando pelo assunto. A Internet não era o fantástico mundo de escolhas num clique que é hoje. Para Rita, era novidade usar não sei quantos produtos e não criar eczema. Claro que não tardou a começarem a sonhar com uma loja. Os amigos alertavam-nas para o período de crise que se vivia - “Mas vocês não leem jornais?”. Mas Rita e Cátia muniram-se de algo que é resistente às oscilações do mercado - intuição, paixão e, claro, uma boa dose de coragem.

“Ao início era para ser uma loja em part-time, que nos possibilitasse continuarmos com as nossas profissões, longe de pensarmos que algum dia iriamos trabalhar juntas”, conta. Escolheram o Chiado de então como localização por conveniência: Rita trabalhava por perto e Cátia morava no Bairro Alto. E mesmo que grande parte da aventura tenha começado por um formigueiro na barriga, traçaram objetivos claros: informar o consumidor para ajudá-lo a fazer escolhas conscientes e dar a conhecer marcas com histórias e projetos verdadeiramente interessantes. “O crescimento da Organii foi muito orgânico. Lembro-me que o nosso plano mais arrojado seria abrir uma loja em Cascais, que ainda hoje não aconteceu. Foi nascendo de situações. O Porto apareceu porque uma colega minha de faculdade que tinha uma série de problemas de saúde e de pele, se interessou imenso pelo projeto e quis abrir uma loja no Porto. E foi uma espécie de parceria – entretanto estamos nós com a gestão da loja, mas foi crescendo de uma forma apaixonada, mais do que muito estruturada.” Agora estão a tentar fazer o processo inverso, aquilo que Rita descreve como “um esforço para estruturar, consolidar a empresa, para podermos crescer nos próximos 10 anos”. O universo Organii hoje soma hoje sete espaços, um Eco Market (mais do que um mercado, “um espaço de partilha Bio, Eco, Faire-trade, Cruelty free” que regressa a 27 e 28 de outubro, em Marvila), uma marca própria de produtos, a Unii, day spas e artigos para bebé. A base, essa, mantém-se inalterada: “Queremos criar a experiência Organii, que as pessoas venham e se sintam bem acolhidas, que sintam que é um espaço onde podem tirar dúvidas, aprender sobre estes temas, mas acima de tudo este modo que vida que acaba por cruzar-se".

O que podemos fazer para não adoecer? É esta a pergunta que querem semear nas pessoas que as visitam, e que é a base do princípio da cosmética bio (que, já agora, é diferente de natural: “natural quer dizer que tem extrato natural, independentemente da forma como foi obtido, pode ou não ter formulação sintética”.) “Prevenir a saúde é uma maratona, não é um sprint”, alerta Rita. “É a pensar na qualidade de vida que queremos ter até morrer. É um conceito que não é fácil de explicar, e na beleza há o efeito do “já”, a pessoa tem uma borbulha e quer que desapareça naquele preciso momento. ” A Organii não nasceu como um penso-rápido, mas como um bálsamo de consciencialização e amor-próprio que começa na atitude de querermos tratar de nós com respeito e cuidado – sem julgar, faz questão de salientar Rita. “O que sinto e aprendi ao longo destes 10 anos é ter uma grande humildade e respeito pelo percurso de cada um e pelas escolhas de cada um. Eu estou aqui para ajudar e para aconselhar para o seu objetivo. E é sempre essa a nossa postura. Sem julgar. Tentamos mostrar que é uma alternativa, pela positiva.” Claro que estes últimos 10 anos fizeram uma positiva diferença e trouxeram até à loja um público menos apressado e mais informado, que vai desmontando o preconceito de que a cosmética bio é menos eficaz ou mais cara. “Nós pensamos a Organii como uma marca inclusiva: já atendemos desde pessoas que vivem na rua até uma primeira dama. Temos de todos os estratos sociais e temos para todos os valores”, desmistifica Rita. “Claro que as pessoas têm de perceber que quando compram um frango inteiro por 2 euros alguma coisa está errada. Quando compram um gel de duche por 1 euro alguma coisa não está bem, alguma coisa nesse processo está adulterada. Existe a produção do ingrediente, o custo da embalagem, a mão de obra... Por isso alguma coisa no caminho falhou. Ou as pessoas não foram pagas justamente ou o que está lá não pode ter grande qualidade. Acho que é mais fácil dizer que é caro porque implica repensar a forma como consumimos. É muito difícil lutar contra a força do hábito.”

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Um passo de cada vez, bem ao sabor do vento que bate nas costas da Organii e que as impulsiona a criar coisas novas. Como a marca própria, Unii, 100% nacional, que nasceu no final de 2018. “Fomos falando tanto disso, ‘um dia, um dia, um dia’, que a dada altura percebemos que isso ser inevitável. Nasceu de um conjunto de fatores, não só de coisas que sentimos que fazia falta no nosso mercado, mas também porque também queriamos dar voz a alguns ingredientes que achamos que temos, incríveis – ainda ontem a Cátia falava numa conferência e dizia ‘se não formos nós a promover o tomilho bela luz, que só existe em Portugal e Espanha, ninguém se vai lembrar das propriedades maravilhosas que tem. Havia muitas pessoas que nos perguntavam, ‘então e marcas portuguesas? Também foi uma oportunidade de mostrar as pessoas que nos visitam que temos coisas especiais e únicas.” Mais uma vez escolheram o caminho mais difícil. Criaram produção própria, com laboratório e engenheiro e tudo, e foram fazendo frente às burocracias com largas doses de tenacidade e outras tantas de paciência (chegaram a estar meses à espera de uma alteração de uma legenda no armazém para poderem começar a produção). E nem por isso deixaram de se preocupar com os detalhes: as embalagens dos produtos da UNII são todas em vidro e se os clientes as devolverem depois de usadas, conseguem voltar a colocá-las no circuito. E até os rótulos são feitos com um tipo de papel que é um aglomerado de desperdícios de pedra e, mesmo molhado, não perde as informações. Não deixam de ser uma empresa pequena: e o custo da independência, de não estarem sujeitas a regras ditadas por um investidor, por exemplo, exige racionalidade. “Não é o mar de rosas que as pessoas pensam. Já o dissemos muitas vezes: se soubéssemos o que para aí vinha nem tínhamos começado”, diz, entre risos. “Mas há alturas em que é muito avassalador.”

Como no ano em que estiveram grávidas ao mesmo tempo, e nos seguintes, em que os filhos as seguiam para todo o lado para conseguirem cumprir os horários exigentes da amamentação. “Nós agora olhamos para atrás e dizemos ‘vá lá, nada vai ser tão caótico como aquilo’.”  A Organii tem sido uma fábrica de sonhos, é verdade, mas nem todos os momentos foram algodão-doce cor-de-rosa. Para Rita, criar um negócio envolve dedicação, humildade, aceitar os erros e aprender com eles. “A paixão é importante, mas também terem plano a e b e questionarem-se e terem humildade de a cada passo que dão pensarem: ‘se as coisas não estão a funcionar como esperávamos vamos experimentar doutra forma”, ter essa abertura. Há toda uma parte não romântica que as pessoas tem de pensar e pôr na balança antes de avançarem com um negócio. Desde a construção da equipa, aos sacrifícios que estão dispostos ou não a fazer pela empresa, ter a honestidade para dizer ‘eu não sou a melhor pessoa para fazer isto, vou chamar alguém que perceba mais disto para me ajudar’ - às vezes estamos tão apaixonados ‘eu vou a todas eu faço tudo’ que acabamos esgotados, sem energia para repensar o negócio e as decisões que tomamos.” Há projectos que ficam na gaveta durante algum tempo, outros para sempre, e outros que se vão materializando, como a criação de uma experiência de proximidade maior entre a marca e os consumidores que lhe chegam pela via mais ‘fria’, a da Internet. O segredo do negócio, esse, parece estar mais relacionado com algo que não deriva de números, mas que tem medição prática: os sorrisos dos seus clientes. Já mudaram a vida a alguém, pergunto. “Tenho a certeza que algumas”, responde Rita, com um brilho nos olhos. “E é das coisas que mais me deixa feliz.” “Tenho a certeza que não há ninguém que passe pela Organii e não mude qualquer coisa. Eu acho que quando as pessoas sentem que é genuíno, que estamos a dar um conselho mesmo para melhorar a vida das pessoas e não porque queremos vender. Isso toca-as.” Mais do que melhorar a aparência da nossa pele ou do nosso cabelo – que também faz – a Organii acolhe-nos como um todo, ouve-nos, ausculta-nos e indica-nos um caminho possível para uma vida melhor. E se isto não é tudo aquilo que queremos encontrar dentro de um frasco, então não sei o que será.

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