Quem olha para o cenário idílico espelhado nas imagens dos Açores está longe de imaginar que é de lá que provêm os ingredientes que estão presentes nos produtos de cosmética de algumas das maiores figuras mediáticas mundiais. Bella Hadid, Kim Kardashian ou a reconhecida facialista Joanna Czech são apenas alguns dos nomes usam produtos da Ignae, a marca 100% portuguesa, cruelty-free, que se baseia, entre outros ingredientes, no colostro bovino.
Falámos com o fundador, Miguel Pombo, um são-miguelense de 33 anos que precisou de viver em Bruxelas para perceber que era na ilha que podia estar o seu futuro. E que este passava pela Beleza.
Como é que surgiu a ideia de criar a Ignae?
Eu trabalhava numa consultora em Bruxelas, que trabalhava para clientes da área da farmácia e cosmética. A parte que me era incumbida era a análise regulatória de cada um dos ingredientes que era usado pelos nossos clientes, para perceber a nível europeu o que é que era permitido, quais é que eram os efeitos dos ingredientes... E isso permitiu-me perceber, primeiro, o que é que está dentro de um creme de cosmética, e, segundo, como é que ele age na pele. À medida que ia vendo isso fui percebendo que nós tínhamos muitos desses activos aqui nos Açores. Foi aí que decidi voltar para S. Miguel e fazer esta linha.
Foi esse conhecimento que despoletou interesse na área da Beleza?
Quando fui para a consultora não tinha qualquer tipo de interesse. Surgiu depois pela questão profissional, quando percebi que tinhamos muitos daqueles ingredientes, e isso fez-me perceber que podia haver potencial aqui nos Açores.
Hoje já usa produtos?
Sim, diariamente. Experimento vários todos os dias desde há uns anos para cá.
O nome, Ignae, como surgiu?
Nós usamos a água termal do Parque Terra Nostra, de onde nós extraímos a água e o óleo das camélias. E um dos primeiros relatos do Vale das Furnas, que é onde existe o Terra Nostra Garden Hotel, é o termo "ignae", para dizer que o vale estava em erupção. E nós achámos que era um nome bonito, até porque a água termal vem de um aquífero que está em cima de uma rocha ígnea. Achámos muito giro ter esta referência e que fazia sentido com o espírito da marca.
Falava da água termal. Que outros igredientes da ilha é que são utilizados?
Além da água termal do Terra Nostra, que é rica em sílica, magnésio, cálcio e ferro, usamos também o mel de abelhas. Os Açores, S. Miguel especificamente, é um dos únicos sítios do mundo em que as abelhas não tomam antibióticos. Há outros, como a ilha Ouessant, em França, de onde a Guerlain extrai o seu mel, mas existem muito poucos sítios assim. Usamos também o óleo das camélias também do Terra Nostra. E o principal ingrediente que é o colostro bovino, que é o primeiro leite após o parto.
Este último é talvez o ingrediente-estrela da marca. Porque é que ganhou esta popularidade?
Primeiro pelo inesperado, pelo menos em Portugal, as pessoas não estavam habituadas a pensar nesta substância como um activo bom para a pele. Mas há uma série de marcas, sobretudo de tratamento, que usam colostro nas suas formulações. Porque o colostro é de facto uma substância feita para a cria crescer em poucas semanas, está carregada de factores de crescimento. É uma das substâncias naturais mais ricas que se conhece.
E há diferenças entre colostros?
Sim. Nós estudámos os constituintes do colostro, e já havia trabalho de base de vários investigadores aqui nos Açores sobre o colostro, com comparações sobre o colostro aqui dos Açores. Como as vacas estão ao ar livre o ano todo, e se trata de uma ilha, elas nunca estão longe do mar, e o facto de serem agredidas o ano inteiro pelos ventos do Atlântico Norte faz com que o sistema imuntário delas seja mais forte. Como consequência disso, quando comparado com o colostro de outras partes do mundo, comprovamos que o dos Açores tem maiores percentagens de alguns destes constituintes que o tornam especialmente indicado para tratamentos de pele.
Todos os produtos têm o ingrediente?
Cada creme tem colostro, mas depois nos tratamentos de gabinete utilizamos apenas este colostro liofilizado em bruto.
A produção é toda feita em Portugal?
O desenvolvimento e recolha dos ingredientes é feito cá [S. Miguel], bem como uma parte do processamento, e a produção e o fabrico são feitos em Sintra. É tudo em Portugal.
A marca está agora no gabinete de Joanna Czech. Como que isso aconteceu?
Tivemos a sorte de conseguir entrar no leque restrito da sua prática diária e [Joanna] ter utilizado em muitas caras conhecidas foi certamente um marco para a Ignae. Os ingredientes eram os mesmos antes (risos), mas a verdade é que as pessoas começaram a prestar mais atenção depois de isto ter acontecido. E depois da Met Gala em Nova Iorque, que foi quando se soube que muitas daquelas pessoas tinham usado os produtos. Isso ajudou muito a impulsionar a marca. Mas sim, foi completamente inesperado, nós não temos sequer orçamento de marketing que se compare a outras marcas, é quase inexistente.
Entretanto já se conheceram?
Sim, ela já esteve aqui nos Açores connosco, a ver como processávamos o colostro... Também esteve a ver o nosso Spa no Terra Nostra Garden Hotel, que também é de onde retiramos os ingredientes.
"Devemos ter poucos produtos, mas que resolvam efectivamente."
Para já existem apenas cinco produtos, contando com a máscara. É uma estratégia manter um número reduzido de produtos?
Nós nunca vamos ter muitas referências, porque a linha é feita para cobrir todas as necessidades e para atacar as três principais causas de envelhecimento da pele. Portanto nunca vamos criar muitos produtos, achamos que o foco deve ser um cuidado global da pele e que com esta linha conseguimos oferecer isso.
Mas há alguma novidade em que andem a trabalhar?
Acabámos agora de finalizar duas novas substâncias, uma delas até vai ser patenteada, porque é um péptido estraído das fumarolas vulcânicas das furnas, que faz a pele produzir mais colagénio quase imediatamente e vamos criar dois séruns que vão incluir esses novos péptidos. Mas é um complemento bem específico, é mais um coadjuvante. Também não queremos alargar muito o âmbito de produtos. Queremos focar aquilo que sabemos fazer bem. Não sou fã de linhas muito alargadas. Devemos ter poucos produtos, mas que resolvam efectivamente.
A marca chegou agora ao Spa do Ritz. Como é que aconteceu esta entrada dos tratamentos em Lisboa?
A marca foi tendo alguma notoriedade, fomos sendo recomendados por algumas editoras de Beleza que experimentaram os nossos produtos e a conversa aconteceu informalmente. Surgiu o interesse e depois a equipa do Four Seasons, que é bastante informada sobre estes assuntos, experimentou a linha completa, demos formação à equipa para fazer os tratamentos de assinatura e agora há três tratamentos disponíveis, um de corpo e dois de rosto.
Fora Portugal, há planos de expansão para outros mercados?
Sim, neste momento Estados Unidos, estamos também na Suíça, vamos estar muito brevemente no Reino Unido, Arábia Saudita e vamos estar provavelmente dentro de pouco tempo na China. São muito boas notícias a nível de projecção da marca.
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