Já lhe disseram que range os dentes a dormir? Sente uma grande tensão na região maxilar ao acordar ou dores de cabeça? É bem provável que tenha bruxismo. Embora não se trate de uma doença, este pode ter consequências na sua saúde e bem-estar, sendo necessário tomar precauções, a fim de evitá-las.
A Miranda esteve à conversa com o Dr. Pedro Cebola, médico dentista diferenciado em disfunção temporomandibular, bruxismo e ATM, que respondeu a todas as questões sobre o tema, esclarecendo todas as dúvidas, desde em que consiste o bruxismo, as suas consequências e tratamentos. Continue a ler para saber tudo.
O que é o bruxismo?
Quando falamos de bruxismo é quase certo que somos remetidos para pensarmos em pessoas que rangem os dentes durante o sono e em dentes desgastados. No entanto, o bruxismo é muito mais do que isso.
Hoje em dia, este é considerado uma atividade muscular repetitiva dos músculos mastigatórios e consiste no ranger, apertar de dentes ou até mesmo na contração/empurrar da mandíbula sem contacto dentário. Esta condição pode ocorrer quando a pessoa está acordada (bruxismo de vigília) ou, por outro lado quando está a dormir (bruxismo do sono).
Quais os sintomas e sinais desta patologia?
O conhecimento científico mais atual, refere que o bruxismo é considerado como um comportamento muscular que pode ser um fator de risco e/ou protetor e não é considerado uma patologia em indivíduos saudáveis.
A maioria dos indivíduos com bruxismo são assintomáticos. No entanto, os sinais e sintomas desta condição podem apresentar várias formas de expressão e não estão confinados exclusivamente na cavidade oral. Alguns exemplos são:
- Ranger ou apertar os dentes com força;
- Língua e bochechas marcadas ou mordidas;
- Dentes desgastados ou fraturados, mobilidade e sensibilidade dentária, feridas nas gengivas;
- Restaurações, coroas ou implantes a abanar frequentemente;
- Dentes a desalinhar em idade adulta.
Em alguns casos, o bruxismo é um factor de risco para a disfunção temporomandibular e aí este pode potenciar a presença de:
- Dor ou desconforto nos músculos da face;
- Dor de cabeça;
- Estalidos, dor ou dificuldade em abrir/fechar a boca ou limitação do movimento.
Quais as suas consequências a curto e longo prazo? Este pode afetar a qualidade de vida?
Sim. Sendo o bruxismo um dos factores de risco de disfunção temporomandibular, existem vários estudos que segurem que este afeta diretamente a qualidade de vida diária, quer pela dor em si e/ou limitação funcional mandibular. Por, por exemplo, provocar dores orofaciais, cefaleias associadas a disfunção temporomandibular, sons articulares, limitação de abertura bucal, etc.. Sem esquecer, o desgaste dentário secundário ao bruxismo pode também levar a hipersensibilidade dentinária afetando, por exemplo, a dieta.
Estas consequências podem causar dificuldades de concentração, interferir no trabalho, nas atividades diárias e afetar as relações pessoais e sociais.
Existe diferença entre o bruxismo em crianças e em adultos?
O bruxismo em crianças e adultos tanto pode ser em vigília e/ou do sono. Agora, a criança tem tendência a apresentar mais prevalência de bruxismo do sono do que o adulto, apesar deste manifestar-se geralmente apenas com o ranger e/ou apertar de dentes, sem contribuir grandemente para disfunção temporomandibular.
O bruxismo do sono nas crianças tem, geralmente, alguns fatores de risco importantes já conhecidos que são: sensibilidade ao stress, níveis elevados de neuroticíssimo e de responsabilidade, exposição excessiva a ecrãs e consumo excessivo de açúcar;
É importante também avaliar se o bruxismo, tanto da criança como do adulto, é secundário a algumas patologias, tais como: apneia obstrutiva do sono, refluxo gastroesofágico e síndrome de pernas irrequietas.
Gostaria também de alertar que alguns fármacos podem potenciar o bruxismo, como por exemplo: antidepressivos tricíclicos (sertralina, citalopram, escitalopram, etc.), fármacos utilizados para o tratamento da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, antipsicóticos, entre outros.
A que especialidade médica deve recorrer para fazer um diagnóstico?
O bruxismo e a disfunção temporomandibular apresentam uma etiologia multifactorial, por isso, há várias especialidades médicas que podem realizar o diagnóstico, tais como: cirurgia máxilo-facial, estomatologia, medicina dentária, otorrinolaringologia, neurologia, pneumologia, entre outras. O que será mais preponderante é se o profissional de saúde estará diferenciado e rotinado para disfunção temporomandibular e bruxismo.
Quais os tratamentos existentes?
No bruxismo, o mais correto será falarmos de abordagem terapêutica e é importante que a mesma seja multidisciplinar. O estabelecimento de uma relação de confiança e empatia entre clínico e paciente é considerada o início da abordagem terapêutica. O objetivo é tornar o paciente um elemento ativo na recuperação, sendo essencial investir na educação e explicação de toda a informação envolvente sobre a sua condição.
Muitas vezes a terapêutica passa por um alívio de sinais e sintomas causados pelo bruxismo, ou seja, de alguns sintomas de disfunção temporomandibular, tais como: mialgia dos músculos mastigadores, desordens intra-articulares da ATM, fratura ou desgaste dentário, entre outros. Alguns exemplos de abordagens terapêuticas, são:
- Goteira oclusal;
- Fisioterapia;
- Psicoterapia;
- Farmacoterapia;
- Hipnoterapia;
- Biofeedback e Estimulação Elétrica Funcional;
- Acunputura.
É possível prevenir esta patologia e as suas consequências?
Sendo o bruxismo um comportamento muscular, a melhor forma de prevenir é apostarmos na literacia em saúde, estarmos bem informados dos possíveis fatores etiológicos e direcionarmos uma abordagem terapêutica personalizada. Contudo, com alguma regularidade e principalmente no bruxismo primário, realizamos abordagens terapêuticas direcionadas para os sinais e sintomas, com o intuito de minimizar as suas consequências.
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