As consequências sociais e económicas do idadismo

O idadismo afeta não só os indivíduos mais velhos, mas também a forma como a sociedade os vê e valoriza. De acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2021, uma em cada duas pessoas em todo o mundo tem atitudes idadistas. Isto significa que metade da população mundial adota, conscientemente ou não, preconceitos que limitam as oportunidades, a participação e a contribuição das pessoas mais velhas.

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As consequências sociais desta discriminação são devastadoras. As pessoas mais velhas enfrentam barreiras no acesso ao emprego, na obtenção de cuidados de saúde, na forma como as suas competências e capacidades físicas e cognitivas são percecionadas e até no exercício de direitos civis e políticos. Estas restrições não só limitam a liberdade individual e a qualidade de vida, mas também perpetuam a ideia de que o envelhecimento é algo negativo, um fardo para a sociedade. O idadismo – termo reconhecido pelo dicionário de língua portuguesa desde abril de 2023, no qual o trabalho e esforço desenvolvido pela associação portuguesa #stopidadismo foi essencial – define o idadismo como “um estereótipo e preconceito em relação à idade”, sendo possível ser sentido tanto pelas pessoas mais velhas como pelas mais jovens, sendo a terceira maior forma de discriminação, depois do racismo e do sexismo. É, assim, essencial falar do tema, assumir a idade, colocá-lo na agenda mediática e torná-lo visível nos vários espectros da sociedade.

Como o idadismo está enraizado nos padrões de beleza

O idadismo está profundamente enraizado nas perceções de beleza e envelhecimento, particularmente no mundo ocidental. Durante décadas, a juventude tem sido exaltada como o padrão de beleza, o que reforça uma visão distorcida do envelhecimento. As rugas, os cabelos brancos e outros sinais naturais da passagem do tempo são, muitas vezes, retratados como algo a ser corrigido, seja através de intervenções estéticas, seja através da ocultação desses sinais, colocando uma pressão nos indivíduos – mas principalmente nas mulheres, às quais há uma exigência maior em prolongar a juventude e a beleza quando comparadas com os homens.
Além da estética, o idadismo também afeta a perceção das capacidades das mulheres mais velhas, sendo muitas vezes vistas como menos competentes no trabalho ou desatualizadas em relação às tendências culturais e tecnológicas – um preconceito que contribui para aumentar a exclusão social e marginalização, gerando um ciclo de invisibilidade e solidão.

O impacto do idadismo no local de trabalho

Para além das implicações sociais e psicológicas, o idadismo tem também um impacto económico significativo. A exclusão de trabalhadores mais velhos do mercado de trabalho representa uma perda de potencial humano e de produtividade. De acordo com um estudo de 2020 da AARP International, uma organização norte-americana que promove os interesses de pessoas com 50 anos ou mais, o impacto económico da discriminação por idade nos Estados Unidos é de 850 mil milhões de dólares anuais. Este número inclui a perda de produtividade, a diminuição do consumo e o aumento dos custos com cuidados de saúde.

Na Europa, o envelhecimento demográfico está a transformar-se numa realidade incontornável. Com a população idosa em crescimento, a sustentabilidade dos sistemas de segurança social e de pensões dependerá da capacidade de integrar e valorizar o contributo das pessoas mais velhas no mercado de trabalho. No entanto, o idadismo impede esta inclusão, levando à perda de talentos valiosos e ao aumento das desigualdades económicas.

Estratégias para combater o idadismo

Mudar a forma como a sociedade encara o envelhecimento exige um esforço coletivo, que passa pela educação, pela reformulação de políticas públicas e pela mudança de atitudes individuais. Existem várias estratégias que podem ser adotadas para combater o idadismo e promover uma sociedade mais inclusiva:

  1. Educação e Sensibilização: A educação desempenha um papel fundamental na desconstrução de estereótipos. As campanhas de sensibilização devem focar-se na valorização das pessoas mais velhas, destacando o seu contributo para a sociedade e a importância do envelhecimento ativo.
  2. Promoção da Diversidade Etária no Local de Trabalho: As empresas devem adotar políticas inclusivas, que incentivem a contratação de trabalhadores mais velhos e a criação de equipas intergeracionais. Estudos demonstram que equipas com uma diversidade etária tendem a ser mais inovadoras e produtivas, dado o vasto leque de perspetivas e experiências que são partilhadas.
  3. Desconstrução dos Padrões de Beleza: A comunicação social e a indústria da beleza e da moda têm um papel crucial na desconstrução dos estereótipos associados à juventude e à velhice. A inclusão de pessoas de todas as idades em campanhas publicitárias, sem esconder os sinais naturais do envelhecimento, ajuda a normalizar todas as fases da vida e a celebrar a diversidade.
  4. Iniciativas de Envelhecimento Ativo: Governos e organizações devem promover políticas que incentivem o envelhecimento ativo e saudável. Isto inclui o acesso a oportunidades de formação ao longo da vida, a criação de ambientes urbanos inclusivos e o fomento de redes de apoio comunitário que envolvam todas as gerações.

Envelhecimento ativo: uma solução para uma sociedade mais inclusiva

Para combater o idadismo e construir uma sociedade mais justa e inclusiva, é necessário que haja uma transformação cultural profunda. À medida que a população mundial envelhece, será cada vez mais crucial desmantelar os estereótipos negativos associados à idade e criar uma cultura que celebre o envelhecimento como uma parte natural e valiosa da vida.

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Construir um futuro sem preconceito etário

A transformação passa pela tomada de consciência, pela desconstrução de crenças enraizadas e pela promoção de uma mentalidade que reconheça a contribuição inestimável das pessoas mais velhas para o tecido social e económico. Um futuro inclusivo é aquele onde todas as idades são valorizadas e onde o potencial humano é respeitado, independentemente da data de nascimento.
A batalha contra o idadismo é uma oportunidade para refletirmos sobre o nosso próprio envelhecimento e sobre o tipo de sociedade que queremos para o futuro – uma onde a idade seja vista não como um fardo, mas como uma força. E hoje, é um bom dia para pararmos e pensarmos sobre isso.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.