É importante salientar que embora a K-Beauty (cosmética oriunda da Coreia do Sul) e a J-Beauty (cosmética oriunda do Japão) tenham abordagens diferentes aos cuidados com a pele, partilham os mesmos objetivo e atitude quando se trata da saúde cutânea: concentram-se na hidratação, bem como na redução ou prevenção da pigmentação (manchas castanhas e melasma). Ambas envolvem evicção solar e barreiras protetoras contra a exposição solar, fazendo do protetor solar o cosmético mais relevante de todos.

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Embora ambas deem grande ênfase à limpeza (as mulheres Japonesas inventaram a dupla limpeza), à hidratação e às fórmulas potentes feitas com os ingredientes da mais alta qualidade, K-Beauty e J-Beauty - diferem frequentemente nos seus métodos. Os cuidados de pele japoneses são mais simples. Embora considerada inovadora e orientada para a ciência, a J-Beauty é mais focada na funcionalidade e no minimalismo, com foco nos resultados a longo prazo, demonstrando uma filosofia de maratona em vez de sprint, no que aos cuidados cutâneos diz respeito.

A J-Beauty mantém as coisas simples

Uma rotina japonesa de cuidados com a pele envolve:

  • Dupla limpeza: com um produto oleoso e outro com enxaguamento.
  • Loção hidratante ou essência: aquosas, são aplicadas suavemente na pele, e não como um tónico adstringente. São utilizadas para proporcionar hidratação e contêm frequentemente aloé vera, ácido hialurónico, ceramidas e chá verde.
  • Óleos: têm um papel central no cuidado da pele japonês, especialmente na dupla limpeza, mas funcionam também como hidratantes, através do mecanismo de emoliência.
  • Protetor solar: embora tanto a K-Beauty como a J-Beauty deem grande ênfase à proteção solar, o Japão é mais conhecido pelas suas formulações mais avant-garde.

Além disso, há o gosto na massagem do rosto com as próprias mãos para uma drenagem linfática, ou o uso de rolos faciais. Gostam de aplicar camadas leves de poucos produtos, para uma pele mais mate, mais macia quase aveludada.

A K-Beauty adora camadas de hidratação

Entre 1920 e 1950 não houve muita evolução na cosmética coreana, pois os produtos japoneses dominavam o mercado. O hype da K-Beauty tem apenas 15 anos no Ocidente e começou com um cosmético que, na verdade, nem é Coreano: o BB Cream  –  Blemish Balm – um bálsamo anti-imperfeições com várias ações (uniformizar, hidratar e proteger do sol), desenvolvido pela Dermatologista alemã Dra. Christine Schrammek com o objetivo de proteger a pele do rosto dos seus pacientes depois de peelings ou cirurgia. O conceito cresceu na Coreia, a fórmula coreana começou a ser vendida em 2011 e é, à data de hoje, responsável por cerca de 13% do mercado cosmético na Coreia do Sul, sendo um verdadeiro ícone de beleza. Da Coreia chegaram-nos, também, as máscaras de tecido, os patches de hidrogel e ingredientes da Farmacopeia Asiática como a centelha asiática ou os chás fermentados. Muitos destes ingredientes têm como foco a preservação do microbioma da pele, essencial para o seu correto funcionamento como órgão de barreira.

Na Coreia da Sul, a aparência da pele reflete a personalidade da pessoa e cuidar da pele é sinónimo de respeito pelos outros. Os objetivos principais da rotina, complexa por natureza, são a uniformidade de tez, a luminosidade e a naturalidade do aspeto. A rotina de beleza coreana faz parte de um lifestyle, acima de tudo, e é encarada como um momento de autocuidado, não apenas para parecer melhor, mas essencialmente para cuidar física e emocionalmente, daí a exigência da sensorialidade nos cosméticos.

A rotina coreana de rosto dura em média 50-60 minutos por dia e engloba de 12 a 15 produtos. Começa com uma dupla limpeza, depois a esfoliação, segue-se uma bruma, um tónico, uma essência, vários séruns (consoantes as necessidades da pele), contorno de olhos, loção (emulsão muito fluida óleo em água), creme mais untuoso, protetor solar, BB Cream. O uso de máscaras está também contemplado. Precisamente pela sobreposição de produtos, as texturas da K-Beauty são leves e muito sensoriais.  Também pelo número de produtos, e devido às preocupações ambientais, tem havido uma necessidade de usar produtos com múltiplas funções, mas está longe de ser a sociedade mais consciente neste aspeto. A ideia principal por detrás da K-Beauty é utilizar uma combinação de produtos de beleza personalizados para cada indivíduo.

Embora ambas as rotinas de pele variem drasticamente no que diz respeito ao número de produtos utilizados, têm alguns aspetos comuns como a dupla limpeza, a hidratação e a fotoproteção.

A estética e as fórmulas também se relacionam com a cultura e o património de ambos os países, e com a forma como se querem apresentar. Enquanto a K-Beauty se inspira na cultura pop e em elementos divertidos, a J-Beauty orgulha-se das suas antigas tradições de beleza, bem como de certo um luxo subestimado e, por isso, valorizam-se as embalagens elegantes e minimalistas, que deixam que a funcionalidade do produto chame a atenção do consumidor.

Em suma, quando se trata da melhor rotina de beleza entre as duas, não há um vencedor claro. É sempre melhor personalizar a rotina de cuidados de pele, adaptando produtos que possam funcionar em conjunto e dar-lhe os resultados desejados.

K-Beauty ou J-Beauty são tendências relativamente recentes na cultura Ocidental, mas que estão para ficar e com as quais podemos aprender muito para termos uma pele mais saudável e bonita, nomeadamente na limpeza, na proteção solar e no momento de autocuidado que devemos, todos, aprender a privilegiar no dia-a-dia. O investimento que fizermos na nossa pele, será certamente recompensado.

Farmacêutica de formação e especialista em Cosmética, Joana Nobre trabalha na Indústria Farmacêutica desde 2005. O rigor é a sua imagem de marca, algo bem patente nesta nova rubrica que criou para a Miranda, que incluirá sempre a versão áudio do texto.