Este é um site de beleza, eu sei eu sei. Mas de que adianta enchermo-nos de cremes e maquilhagem e perfumes se parece que estamos todos dentro de uma bolha de plástico anti-entusiasmo? Achava que era só eu. Depois as minhas amigas. De repente estava pelo Instagram, desconhecidos relatavam-me este sentimento a meio de uma festa, colegas de trabalho acordavam com vontade de voltar para a cama e ligar o OOO. E de repente um nome para o feeling mais trendy de 2021 e um alívio: calma, sofremos todos de languishing, a sensação de que não estamos nem tristes nem felizes. Estamos meh. Não nos concentramos. Não estamos em pulgas com nada. Queremos chegar a casa e deitar-nos no sofá. Já podemos sair mas não nos convidem porque a nossa energia está lá mas também não assim tanto. Estamos estagnados, parados, a ver os dias passarem. “A absência de bem-estar”, a “indiferença à indiferença”, resume um artigo publicado no New York Times que apresentou a melhor resposta à pergunta “então, como é que estás?” e que, claro, se tornou viral.
É das poucas pessoas que não se tem sentido assim-assim? Vou tentar explicar. “O languishing caracteriza-se por estados emocionais e comportamentais que, apesar de não preencherem critérios de diagnóstico de depressão ou de outra patologia do foro psicológico, comprometem o bem-estar da pessoa”, resume a psicóloga Lina Raimundo. Languishing é o termo criado pelo psicólogo Corey Keyes, para referir o “vazio”, “entorpecimento” e “desinteresse” que as pessoas afetadas mencionam sentir. Fadiga? Check. Maior tendência para o envolvimento em tarefas e hobbies sem a presença de terceiros? Check. Insatisfação constante, falta de objetivos, olhar ao espelho e não gostar do que vê ou ter a sensação de se ir arrastando pelos dias? Check, check, check. A ‘cura’? Com certeza não passa por um otimismo desmesurado, arco-íris e paus-santos, nem tão pouco por nos deixarmos estar enfiados na fossa. No artigo de Adam Grant é-nos recomendado ‘flow’, que é uma espécie de solução meio-termo e que não nos irá esgotar ainda mais energias. Ficarmos mais imersos nos nossos projetos. Darmos atenção a pequenas coisas. Partilharmos mais as nossas emoções o que envolve, claro, dar mais atenção à saúde mental geral (olá, terapia às terças). “Não podemos curar uma cultura doente com pensos pessoais”, escreve o autor americano. Lina Raimundo aponta o autocuidado, a realização de atividades prazerosas, os afetos positivos e genuínos, o suporte familiar, social e de amigos como parte da lista de estratégias para lidar com esta emoção. No fundo, cuidar de nós – algo que, tal como o languishing, já sabíamos antes da pandemia, mas que por todos os motivos que já sabemos continuamos a deixar para segundo plano.
Nada que não possa ser explicado. Neste período de isolamento, fomos obrigados encarar os nossos medos, desejos, coisas que não conseguimos realizar de forma ainda mais intensa e sem espaço para escapatórias. Quem já sofria de ansiedade (quem não sofre?) só veio a piorar. Por muito cliché que seja, é mais importante do que nunca estar presente, não nos rendermos à lógica da anestesia, alimentar a nossa capacidade de encantamento e que nos permite sair deste modo de sobrevivência que vivemos há quase 2 anos. Também é importante começarmos a ser todos um pouco mais honestos - não nos sentimos tão sozinhos e podemos partilhar momentos de ‘meh’ em conjunto, o que pode tornar-se ligeiramente mais divertido. Agora vou só ali fechar as janelas de casa, ligar a Netflix e colocar uma máscara facial. Estou não posso, estou a languishing.
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