Estamos em plena era antagónica no que diz respeito à maquilhagem. Por um lado, enquanto sociedade somos cada vez mais apologistas do “aceita-te como és”. Por outro, continuamos a reconhecer o empoderamento que a maquilhagem nos traz e apoiamos a liberdade de cada um expressar a sua confiança através das ferramentas que tem à disposição.

No que diz respeito à maquilhagem (como em tudo na cosmética... e na sustentabilidade), importa analisar não só o embalamento dos produtos mas também os ingredientes neles utilizados e, sobretudo, as condições de extração dos mesmos. Na indústria cosmética existem vários ingredientes de origem altamente suspeita no que se refere às condições sociais dos trabalhadores – que, em muitos casos, são crianças.

Um dos ingredientes mais utilizados nesta indústria, a mica (que se encontra na forma de pigmentos refletores de luz) está envolta em polémicas relacionadas com escravatura e tráfico infantil, segundo um relatório muito completo da Terre des Hommes.

Por ser um mineral difícil de substituir em cosmética, a solução está a passar por cada vez mais marcas apoiarem a sua extração responsável, em iniciativas como a Responsible Mica Initiative, da qual fazem parte empresas como a L’Oréal, Oriflame, Shiseido, Sephora, Body Shop e a própria, acima referida, Terre des Hommes.

Tal como em relação à mica importa perceber as empresas que procuram melhores soluções (e que encontramos através da Responsible Mica Initiative), também o óleo de palma, utilizado em surfactantes e aparecendo muitas vezes na forma de glicerina, um dos seus sub-produtos (de notar, no entanto, que existe glicerina que não deriva de óleo de palma), é um ingrediente envolto em problemas ambientais.

#DoZero: é possível ter sustentabilidade na cosmética?
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Na realidade, o óleo de palma continua a ser um dos óleos mais eficientes: vem de árvores com crescimento rápido e necessita de um consumo moderado de água. No entanto, devido à elevada procura – para utilização nas indústrias de transformação de combustível, alimentar e cosmética – tem vindo a provocar um desmate exaustivo de florestas autóctones para as substituir por plantações intensivas de palma, o que leva a perdas de biodiversidade e dá azo à fraca conotação ambiental que sabemos que este produto tem (Tan et al. 2009).

No entanto, podendo o óleo de palma vir de origens controladas (através da certificação RSPO), ele pode ser uma opção bastante satisfatória. De facto, de acordo com uma revisão sistemática deste ano da revista ‘Nature’ (Parsons et al. 2020), “no curto-médio prazo, garantir a sustentabilidade no setor do óleo de palma é a única abordagem realista para reduzir o seu impacto ambiental”.

Posto este início complexo ao tema dos ingredientes, estamos aptos a falar da parte mais fácil – sim, desta vez há uma parte fácil! – que é o embalamento.

Se quando falamos de cremes é difícil garantir o correto acondicionamento e preservação das fórmulas com embalamentos mais simples, na maquilhagem – pensada para estar bem visível e “ao ar” – existem já muito boas opções de embalamento. Marcas como a ZAO, Elate Cosmetics, Antonym e Kjaer Weis, já oferecem uma enorme gama de produtos “refillable”. Ou seja, paletes que podemos personalizar e comprar apenas as cores que queremos ou que se nos vão acabando.

Outras marcas, como a Lush, vendem mesmo a chamada “Naked Makeup”, que é maquilhagem sem embalagem. É especialmente relevante mencionar a base e o corretor sem embalagem, já que são dois dos produtos de maquilhagem mais difíceis de encontrar em refill, embora a Kjaer Weis e a Elate tenham versões compactas. Melhor ainda: existem 40 (quarenta!) tons de base. Também os batons são dignos de destaque, nesta opção “naked”.

Produtos disponíveis em 'refill' e/ou em ‘packaging’ sustentável:

Na realidade, o refill não é novidade na maquilhagem. É muito comum nas linhas profissionais (e mesmo em algumas de venda massificada) encontrarmos produtos mais pequenos e com opção refill.

Vejamos o exemplo da Inglot, da Make Up Forever, da MAC. Pode ser uma excelente opção para quem gosta de variar ou não se maquilha frequentemente, uma vez que os produtos menores mais facilmente se consomem dentro do prazo de validade da maquilhagem.

Em resumo: não é (assim tão) difícil escolher maquilhagem com a sustentabilidade em mente. Os conselhos que temos vindo a dar em relação aos outros artigos aplicam-se aqui de igual modo: escolher os mais adequados às nossas necessidades, optar por ingredientes obtidos de forma responsável (olhar para certificações, quando existem) e dar preferência a embalamento que permita a reutilização, no tamanho que nos garante a correta utilização dentro do prazo de validade. Transições simples que nos podem tornar tão bonitos por dentro como por fora.

Catarina Barreiros formou-se em Arquitetura, foi stylist de moda, tirou um Mestrado em Gestão, trabalhou em Marketing Digital e, no meio de voltas e contravoltas, descobriu na sustentabilidade a base da sua vida, primeiro privada e depois profissional. No projeto "Do Zero", explora a temática a fundo e encontra respostas para perguntas que não sabia existirem... será que precisamos mesmo de usar papel higiénico?

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