Eu não assisto Big Brother Brasil. Talvez seja uma das brasileiras não impactadas pelo reality show, mas é inegável o sucesso do programa, que tem quase um quinto da — GIGANTE — população brasileira de audiência. A edição 22 registou a maior audiência da TV brasileira este ano e foi a melhor estreia do programa em quatro anos.
Dito isto, tudo o que é feito na Casa é visto e acompanhado por milhões de pessoas. E o comportamento delas pode ser um bom exemplo ou não. Apesar de alheia ao que acontece no BBB, esta semana não parei de ler publicações e mensagens da “Bárbara”. A modelo e participante do reality, Bárbara Heck, tem claramente problemas com comida.
Ela comeu um doce e passou o resto do dia todo sem comer por causa disso, misturou gin com água, porque “engorda menos”, e trocou uma refeição por um limão. Um limão.
Bárbara é magra e é linda, mas o que está em questão são os hábitos alimentares prejudiciais à saúde. Ela come doces nas festas e faz jejum de horas no dia seguinte, para “compensar” o excesso. Já comentou que "não passaria pela porta" depois de comer uma coisa pouco saudável. Não é engraçado e não é brincadeira.
Não sou médica, mas sei de algumas coisas: ficar longos períodos sem comer, sentir-se gorda, mesmo com um peso equilibrado, fazer compensações duvidosas na alimentação e/ou alimentar-se apenas de um único alimento, seja ovo, banana ou limão, são padrões de comportamento graves e precisam mesmo de tratamento especializado.
Se eu, que não acompanho o programa, vi as ações da Bárbara no Twitter, Instagram e TikTok, imagina os adolescentes que se inspiram nela e vêem o BBB. Há demasiadas bandeiras vermelhas nesses comportamentos que são característicos de transtornos alimentares. Isto deve ser debatido.
Outro ponto preocupante é o comportamento de punição e a não aceitação do próprio corpo e aparência. Viver constantemente em guerra com os alimentos pode ser um dos principais sinais de que algo não está bem. E privar-se de um alimento pode fazer com que a pessoa tenha ainda mais vontade de comê-lo depois, e vá ingerir as calorias que queria perder, em excesso.
Se, de facto, a Bárbara tem um transtorno alimentar, também não cabe a ninguém culpabilizá-la. O debate sobre alimentação saudável deve ser feito exatamente para acolher pessoas como ela e para ajudar telespectadores que se identificam com o comportamento dela. Falar do assunto é importante para apontar comportamentos preocupantes, mostrar porque não são saudáveis e estimular as pessoas a buscarem ajuda profissional, seja com um psiquiatra, um nutricionista e/ou um psicólogo.
Comentários