As novas modas alimentares têm levado à criação de inúmeros mitos e teorias acerca dos benefícios de que certos padrões ou regras alimentares podem ter na nossa saúde. Um dos novos mitos e teorias é de que o jejum intermitente pode ter efeitos muito positivos no maior desgaste de gorduras, em vez da utilização da glicose (açúcares) como principal fonte energética e, consequentemente, trazer benefícios no padrão dos níveis e equilíbrio de insulina, diabetes e vitalidade — na medida em que deixarão de existir picos de açúcar no sangue, a tradicional energia gasta pelas nossas células, tornando o organismo mais eficiente.
O jejum não é uma prática para todas as pessoas e, na minha experiência clínica, só o recomendo em casos muito pontuais, onde o conhecimento alimentar dos nutrientes, suas combinações e noção real da alimentação, está perfeitamente compreendida e é demonstrada de forma regular. Não é por deixarmos de ingerir calorias durante 14, 16 ou mais horas que vamos, pura e simplesmente, encontrar o equilíbrio de saúde, emagrecer ou curar a diabetes. Na enorme maioria das vezes, se não vigiado e monitorizado, acontece precisamente o contrário.
Lembrar sempre que o equilíbrio de saúde acontece quando aplicamos de forma consistente e regular aquelas práticas alimentares, de hidratação e de exercício, ajustadas ao nosso caso. Não existem atalhos, ou planos milagrosos que por si só tornem isto possível. Importa, sim, criar rotinas, hábitos consistentes de saúde que, afinados de forma ajustada e contínua, possibilitam o máximo da nossa saúde.
Mas importa também defender que a prática orientada, intercalada de jejum, o chamado jejum intermitente, pode ter no nosso organismo uma ação positiva e eventualmente até contribuir positivamente na nossa saúde. Inúmeros estudos defendem o seu papel poupador nos receptores de insulina e melhor controlo dos níveis séricos de glicose, do aumento de energia, perda de peso e até de potencial aumento de longevidade. Mas não nos iludamos achando por isso que irá resolver simplesmente estas questões. Todas as mudanças que iniciamos devem ter um propósito de valorizar a nossa vida, a nossa saúde e que nos permitam criar rotinas de equilíbrio. Não meras modas que, por capricho ou por vermos nas redes sociais, vão funcionar. A sua saúde merece mais que isso!
Para aqueles que querem iniciar esta prática, importa lembrar sempre a importância da hidratação correcta. Podemos viver algumas semanas sem alimento, mas apenas poucos dias sem água. Torne este um princípio da sua nova rotina alimentar: beba mais líquidos. Sob a forma de água, chás, infusões, quentes, frios, à refeição ou fora dela. A norma de hidratação terá sempre como mínimo 1 litro a 1,5 l de água, que deve ser reforçada com a prática de exercício — aqui é mesmo fundamental! — sempre que faz um dia de jejum intermitente. Neste caso, os níveis devem subir para 2 a 2,5 l de água, pois na ausência dos alimentos (que também contêm elevadas quantidades de água), temos de reforçar os líquidos ingeridos.
Volto a lembrar que a prática de jejum intermitente pode ter um papel motivador e desbloqueador para a sua situação actual, mas deve mesmo ser sempre vigiada e acompanhada, para que a sua saúde possa alcançar os níveis que deseja. Se optar pelo jejum, escolha alimentos nutricionalmente ricos, equilibrados e que valorizem indiscutivelmente a sua saúde. Não interessa jejuar algumas horas para depois nos descuidarmos e avançarmos em picos emocionais, com escolhas alimentares desequilibradas. O importante da alimentação é o equilíbrio. Encontre-o com a ajuda do seu nutricionista.
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