Apesar de toda a comunicação positiva e de aceitação que rodeia o tema atualmente, estas pequenas marcas afetam-nos muito desde sempre, física e psicologicamente, e já no Antigo Egito os artefactos de toilette continham preparações destinadas à sua correção. Foram descritas como uma entidade clínica há centenas de anos e apareceram na literatura médica pela primeira vez em 1889.
As estrias são lesões dérmicas muito comuns, com uma etiologia multifatorial, mas ainda não totalmente esclarecida. Sabe-se, no entanto, que estão implicados na sua formação fatores genéticos, mecânicos e hormonais.
Existem três estádios de desenvolvimento das estrias:
- inicialmente, na fase aguda, as estrias têm cor vermelha, devido à inflamação e ao edema. São alinhadas perpendicularmente à direção de tensão da pele, sem depressão cutânea, podendo ser sintomáticas e assumindo carater temporário;
- evoluem depois para um estádio sub-agudo, caracterizado pelo tom púrpura;
- e depois, no estádio crónico, são cicatrizes atróficas brancas nacaradas, hipopigmentadas, enrugadas e permanentes, o que as torna um verdadeiro desafio cosmético. São múltiplas, simétricas, dispostas de um modo linear ou concêntrico, em sítios anatómicos variáveis de acordo com as circunstâncias fisiológicas e patológicas nas quais se desenvolvem.
Fatores de risco
A origem exata das estrias permanece desconhecida, com os seus fatores desencadeantes pouco definidos. Pensa-se que esteja relacionada com os componentes da matriz extracelular da pele, incluindo a elastina e o colagénio. A pele é um tecido elástico, que pode ser distendido quando ocorrem alterações no nosso corpo. No entanto, esta capacidade de distensão é limitada e, quando é ultrapassada, pode ocorrer a formação da lesão que afeta a estrutura da derme e da epiderme.
As estrias podem decorrer de várias causas, tais como alterações hormonais (adolescência e gravidez), variações bruscas de peso (engordar ou emagrecer de repente), exercício físico intenso, crescimento rápido na adolescência, medicação (corticoides orais ou tópicos, contracetivos), intolerância aos hidratos de carbono, insulinorresistência.
A predisposição genética é também um fator importante. As estrias são mais frequentes no género feminino do que no género masculino. Afetam 10-40% dos homens e 50-80% das mulheres, 55-90% das grávidas e, em média, 71% no pós-parto. Não são identificadas em crianças antes dos cinco anos nem em adultos depois dos 50 anos.
Quais os melhores ingredientes para tratá-las?
Existe uma enorme variedade de produtos para o tratamento da pele com estrias. Contudo, até à data, não existe cura. Apesar disso, com a utilização dos cosméticos, a melhoria pode ser muito significativa e ter um impacto importante na autoestima e na qualidade de vida da pessoa afetada, devendo ser fortemente encorajada.
Os ingredientes cosméticos com alguma evidência científica são a tretinoína tópica, a vitamina A e outros derivados da vitamina A, a centelha asiática, a rosa mosqueta, o silício coloidal, o ácido hialurónico, o lupeol e alguns alfa-hidroxiácidos (principalmente o ácido glicólico).
Sabe-se também que a massagem da pele potencia a ação dos cosméticos. O óleo de amêndoas doces ou a manteiga de cacau não têm eficácia comprovada, apesar da reputação secular no mercado.
Os anti-estrias deverão ser os primeiros cuidados a aplicar no corpo após o banho. Fazer uma massagem com esfoliante suave uma vez por semana permite uma melhor penetração dos cuidados e é, por si só, uma técnica funcionalmente corretiva das estrias.
A fotoproteção das zonas com estrias é fortemente recomendada, devendo ser escolhido um FPS 50+, uma vez que nas estrias não há pelo, nem sebo, nem suor, e trata-se, portanto, de uma pele muito frágil e sensível.
Para além dos cosméticos, a microdermoabrasão, alguns lasers, a terapêutica combinada de lasers com radiação UV ou radiofrequência, ou o microneedling, parecem ter muitos bons resultados.
No caso da gravidez, e mesmo depois do parto, as estrias podem aparecer. Apesar de neste período existirem contra-indicações relevantes que justificam um aconselhamento médico ou farmacêutico, há muita coisa que pode e deve ser feita.
Como prevenir?
Adotando um estilo de vida saudável, com uma alimentação equilibrada, que evite a obesidade, e com exercício físico regular. Com a utilização de produtos cosméticos de boa qualidade, do gel de duche ao creme hidratante. Evitar os banhos com água muito quente, que desidratam a pele e perturbam a sua função-barreira, pela alteração dos lípidos superficiais.
Sabendo que temos um ou mais fatores de risco, aplicar preventivamente os cosméticos com os componentes ativos de eficácia comprovada. E, claro, persistência, hidratação, fotoproteção, massagem e esfoliação.
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