Ligar a televisão à sexta-feira à noite na RTP é viajar no tempo. A série 3 Mulheres, realizada por Fernando Vendrell e produzida pela David & Golias, coloca-nos entre 1961 e 1973, no início da Guerra colonial e às portas da Revolução de Abril. Sem surpresas, a Beleza que vemos a cada novo episódio é um reflexo das tendências da época. "Focamo-nos mais nos cabelos para marcar bem a época. A transição das ondas, os cabelos meios e rolos para entrar nos anos 70, onde se começa a ver mais compridos e soltos, sobretudo nas mulheres mais novas", conta Magali Santana, maquilhadora e responsável pela caracterização da série.
"Quando fazemos ficção com personagens reais, como é o caso, toda a referência e informação verídica é aproveitada ao máximo. Às vezes podemos estilizar um pouco, mas sempre com a referência original". Criar a caracterização de cada uma das personagens foi para Magali "um desafio", já que "são três mulheres que contribuiram de uma foram corajosa para a cultura de um país em ditadura".
A poetisa Natália Correia, a editora Snu Abecassis e a jornalista Vera Lagoa (pseudónimo de Maria Armanda Falcão) dominam a trama sobre os últimos anos do Estado Novo. "Como estamos a falar de personagens reais não pude sair muito do contexto original. Foram horas e horas a ver vídeos delas de entrevistas, de documentários, fotografias, revistas, livros... Tudo que me pudesse ajudar a criar um visual que se adaptase às nossas actrizes sem deixar comprometer o visual verdadeiro das próprias figuras", recorda a maquilhadora.
Figuras essas que se distinguem por looks absolutamente ímpares. A série, que vai já no terceiro episódio, deixa reconhecer aquelas que são as preferências de Beleza de cada personagem. No caso de Vera Lagoa (Maria João Bastos), isso significa cabelo domesticado em perfeitas ondas largas, e, na maquilhagem, uma clara predilecção por um batom vibrante.
"Chegámos a essa conclusão falando com a Maria João em reunião, a Maria Armanda, nome original da Vera Lagoa, foi uma das primeiras apresentadoras da RTP e como tal o visual dela era sempre bem cuidado, adepta do bom gosto e das modas da época, o batom carmim, que não é bem vermelho... Foi a escolha mais certa para ela", confessa Magali.
Já quanto a Natália Correia (Soraia Chaves), "escolhemos tons mais sobrios, vermelho escuro, bordeaux". Nesta personagem, o cabelo é um dos traços distintivos. "O cabelo está sempre apanhado, mas sempre com um certo glamour, para ficar orgânico com o guarda-roupa que, neste caso, é mais exuberante do que o da Vera", explica a makeup artist.
Da exuberância para a simplicidade, foi em Snu Abecassis, interpretada por Victoria Guerra, que recaiu o look mais minimalista. "A Snu, alcunha de criança, o nome verdadeiro era Ebbe, era dinamarquesa, estudou num colégio interno em Londres... Com a pesquisa que fizemos [guarda-roupa e caracterização], chegámos à conclusão que os tons neutros eram os mais adequados para esta personagem, visto que toda a sua grandeza se vai mostrar na garra de mulher lutadora que vai conseguir fundar uma editora num país ditador."
Produtos chave
E porque o trabalho não se fica apenas pela teoria, é na altura de aplicar a prática que se percebe quais são os produtos mais indicados. "Numa ficção são usadas múltiplas marcas e produtos", revela a maquilhadora, enquando destaca aqueles que foram para si os produtos essenciais para criar os visuais: "usámos uma linha de batons mate da Kiko nas três mulheres. São super cremosos e duradouros e com um pigmento maravilhoso. Também os pós compactos foram um produto chave."
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