Há cada vez mais pessoas e marcas a contribuir para o alerta da autenticidade e da beleza real. Seja por não existirem corpos perfeitos, seja porque somos todos diferentes e todos temos direito a sentir-nos bonitos — mesmo quando temos características físicas que não se encaixam dentro dos cânones do que a sociedade considera “belo”. Todos temos direito à inclusão.
Uma pele com imperfeições, como acne, rosácea ou vitiligo, uma mãe que após uma gravidez ficou com estrias na barriga ou cicatrizes de cesariana, uma mulher com celulite ou derrames nas pernas, quem nunca tentou esconder estes defeitos? Mas a questão é: são mesmo defeitos ou é algo natural, que devíamos aprender a aceitar?
Anos e anos de mensagens e imagens de mulheres e homens perfeitos, de sorrisos simétricos e peles imaculadas, influenciadoras que todos os dias nos entram no ecrã do telemóvel ou do computador a bradar as maravilhas da cirurgia estética, para defeitos ou imperfeições que só elas veem... como se colocar botox no rosto aos vinte e poucos anos fosse algo natural para combater “a passagem do tempo”. Tudo em busca de uma perfeição que se exige cada vez mais, a todo o momento e a qualquer custo.
Felizmente há marcas, artistas e inclusive influenciadoras atentas, que tentam remar contra esta maré de perfeccionismo com que somos bombardeados constantemente. E que dão a cara e o corpo ao manifesto, mostrando a realidade como ela é, desmistificando-a e enaltecendo a sua normalidade.
A Mattel, empresa detentora da boneca mais famosa do mundo, lançou recentemente uma linha de seis bonecas Barbie que visam promover a inclusão — porque não somos todas 'barbies' louras e magras, de peito grande e longas pernas. Há já vários anos que a Mattel tem tentado combater o estigma que durante anos lhe foi associado, lançando para o mercado bonecas que não obedecem ao protótipo “loura, esguia, olhos azuis”. Depois das Barbies de várias etnias, começaram a aparecer as Barbies com diferentes tipos e formatos de corpo, mais baixas e curvilíneas, fazendo com que meninas de todo o mundo se sintam representadas.
Em fevereiro de 2019 apareceu também a Barbie em cadeira de rodas, e outra com uma perna biónica. Mais recentemente, em janeiro deste ano, foi lançada uma Barbie com a doença de pele vitiligo e uma Barbie careca. Estas Barbies pertencem à linha Fashionistas, que a marca identifica como “a mais diversa linha de bonecas” e onde constam Barbies de diferentes tipos de tons de pele, penteados e cabelo, assim como diversos formatos de corpo, tudo para que as meninas de hoje cresçam a sentirem-se mulheres bonitas e reais, independentemente da sua etnia, cor de olhos, pele, tipo e cor de cabelo, ou eventuais limitações físicas.
Também o fotógrafo e artista nova-iorquino Peter de Vito tem trabalhado para a divulgação e normalização de peles imperfeitas como algo natural e que a sociedade deve saber aceitar. Na sua conta de Instagram, de Vito partilha habitualmente fotografias de pessoas com peles imperfeitas, como acne, rosácea, vitiligo, sardas, albinismo, espinhas ou, tão somente, rugas e diferentes tipos de cor de pele. A sua mensagem é forte e clara: somos todos humanos e diferentes, e nessa diferença há beleza.
O que parece fácil nem sempre o é, e Peter de Vito sabe-o. O seu trabalho tem tanto de belo e de alerta social como de polémico, já que é frequentemente acusado de glorificar problemas como o acne, algo que o próprio recusa. O seu objetivo é o de partilhar a mensagem de que temos de saber aceitar a diferença e estar confortáveis com a nossa própria pele, saber amar a nossa imagem – independentemente da nossa cor de pele ou condição física. E recorrer a um médico sempre que seja algo sério e passível de tratamento.
Já Sarah Nicole Landry, mais conhecida por The Birds Papaya no Instagram, é a típica influenciadora que, quando vemos as suas fotos de rosto, pensamos: “Mais uma com uma beleza de revista, sobrancelhas perfeitamente alinhadas e um ar de deusa inatingível”. Mas se espreitarmos o seu feed, vemos que esta mãe de três filhos e de beleza nórdica fala e mostra a realidade sem filtros e sem vergonhas. A sua barriga disforme após três gravidezes, as suas pernas e rabo com celulite, as suas estrias no peito e na barriga. Sem pudores. E nós pensamos: “miúda de coragem!” e identificamo-nos imediatamente com ela, pela força, pelo testemunho e por dar o corpo ao manifesto, por colocar ali, numa conta aberta a qualquer um, aquilo que a maioria de nós tenta tapar, disfarçar e esconder do mundo: a vergonha de o seu corpo não corresponder ao que a maioria espera de nós.
São estes testemunhos e trabalhos que vão trilhando caminho para uma mudança de mentalidade e de aceitação. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Anos e anos de medidas e imagens perfeitas, de desfiles da Victoria's Secret ou de cânones de beleza não se apagam facilmente. Mas enquanto houver pessoas de coragem a lutar por eles, e marcas a difundir mensagens de que todos temos beleza para mostrar ao mundo, ele será certamente melhor.
Comentários