#ÀFlorDaPele: envelhecimento feminino – é preciso falar sobre isso

Este artigo tem mais de um ano
Sabia que uma em cada cinco mulheres já foi vítima de comentários negativos e/ou discriminação devido à idade? Que 27% já deixaram de fazer algo por terem mais de 40 anos? Que 66% já foram discriminadas em contexto profissional por terem mais de 40 anos e que uma em duas mulheres dos 50 aos 59 anos tem auto-estima negativa? O impacto do envelhecimento na auto-estima da mulher é real e é preciso falar disso.
#ÀFlorDaPele: envelhecimento feminino – é preciso falar sobre isso
Marivi Pazos/Unsplash

Crescemos, enquanto mulheres, com a ideia imposta e incutida, primeiro pelos nossos familiares e amigos, depois pela sociedade em geral, de que temos um prazo de validade. Uma idade em que somos jovens, bonitas, saudáveis, férteis, que dá o seu primeiro sinal com o aparecimento da menstruação e que, lentamente, se vai desvanecendo à medida que os anos passam e envelhecemos. Durante esse período de tempo é suposto tornarmo-nos mulheres em pleno, o corpo desenvolve-se e define-se, estamos no auge do nosso potencial feminino e fértil, temos filhos e... de repente, damos por nós a passar a barreira dos 40, a achar que passámos o prazo de validade e a sofrermos uma crise de auto-estima. Será?

A Dove, marca que há muito desconstrói os padrões de beleza incutidos, quis perceber como é que o envelhecimento impacta verdadeiramente a auto-estima das mulheres portuguesas com mais de 40 anos. Por esse motivo, realizou um estudo inédito no nosso país, “Impacto do Envelhecimento na Auto-estima das Mulheres Portuguesas”, que se debruça sobre o tema. E as conclusões são avassaladoras.

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créditos: Jonathan Borba/Unsplash

O mais recente estudo da Dove é uma das iniciativas da campanha “De body aging a Body Love”, que tem como objetivo inspirar as mulheres a terem mais “good body days” durante o processo de envelhecimento e onde se percebeu, por exemplo, que a mulher portuguesa sofre uma crise de auto-estima a partir dos 50 anos, em parte provocada pela menopausa. Sessenta e um por cento das mulheres entre os 50 e os 59 anos assumem que a menopausa tem um forte impacto na sua esfera emocional e na sua confiança, impactando diretamente a auto-estima – com 40% a assumirem que têm baixa auto-estima.

Também cerca de 84% das mulheres entre 50-59 anos assumem não se sentirem apreciadas ou valorizadas, enquanto que 69% alegam não terem motivos para se orgulharem de si próprias; e 74% assumem que deixaram de tirar fotografias por se sentirem inseguras em relação à sua aparência. É também na meia idade que a mulher ouve mais críticas depreciativas: uma em cada três é alvo de discriminação, sobretudo de amigos ou conhecidos (53% dos casos), relacionada com o seu desempenho e funções (46%), com o seu corpo (36%), e com cabelos brancos ou falta de cabelo (28%).

Mas se a faixa dos 50-59 é aquela que aparece como a mais fragilizada do ponto de vista da auto-estima, a anterior, que vai dos 40 aos 49, é a mais empoderada. Nesta idade, 66% das mulheres assumem ter uma auto-estima positiva, com apenas 38% a referirem que a idade é uma preocupação, contra 55% que afirmam que a sua auto estima é melhor do que há 10 anos.

Nesta fase, a mulher tem a maturidade para aceitar as transformações que o seu corpo experienciou ao longo dos anos, sente-se empoderada e feminina, é ainda ativa e com vitalidade, e a confiança faz parte de uma vivência e sabedoria que foi adquirindo com os anos e da qual se orgulha.

Mas as mudanças e o impacto do envelhecimento não se manifestam apenas a nível físico, são também visíveis na discriminação que ainda existe e que as mulheres sentem em contexto profissional, com 66% a assumirem que sentem discriminação em relação à idade – 52% sentem que têm de competir com mulheres mais jovens e 46% são criticadas no desempenho das suas tarefas ou funções.

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Os desafios com que uma mulher tem de lidar e viver ao longo da sua vida são enormes, e as várias etapas etárias trazem sempre consigo desafios. É fundamental que haja uma maior consciencialização para que a mulher se sinta apoiada, reconhecida e refletida – seja em medidas, em empatia ou em acompanhamento – ao longo da vida. E isso parte de todos, da sociedade em geral mas, acima de tudo, das empresas, das marcas, do Governo, na implementação de um acompanhamento pluridisciplinar adequado (em saúde e na difusão e normalização), seja nos media ou em campanhas, dos processos fisiológicos naturais que fazem parte de uma mulher saudável, como a menopausa.

As alterações físicas e hormonais inerentes à menopausa alteram a forma como a mulher se vê, marcam o final de um ciclo fértil e abalam-na psicologicamente, o que não significa que o seu valor, atividade, contributo profissional, criatividade, ou beleza, estejam ultrapassados.

É necessário redefinir a ideia preconcebida de que há um prazo para se ser bela, como um carimbo que nos colocam com um temporizador. A beleza feminina não tem limite de idade, deve ser, sim, uma fonte de confiança e não de ansiedade. Desenvolver uma relação positiva com a sua aparência ao longo da vida, desde a juventude até à velhice, ajuda a dinamizar o potencial feminino.

É por isso que é tão importante falar deste tema, que é um assunto quase recorrente nos textos que escrevo por aqui. E onde me alegro, verdadeiramente, quando vejo que há marcas, como a Dove, que querem efetivamente mudar a forma como a beleza é encarada. E que podem fazer a diferença na opinião pública e na pressão que esta exerce sobre a mulher à medida que ela envelhece. Porque se a beleza não tem rótulos, padrões ou tamanhos, então também não tem idade.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.

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