Desde os anos 90, quando tinha 12 anos e em que assistia ao programa de televisão “86-60-86” apresentado pela Sofia Aparício, que comecei a acompanhar mais ou menos todas as caras que têm feito parte da indústria da Moda nacional. Digo “mais ou menos”, porque, sem querer, acabo sempre por me focar só naquelas que me falavam mais ao coração.
Quando ando na rua, tornou-se normal fazer o exercício de imaginar determinada pessoa a desfilar, a deixar-se fotografar num editorial de uma revista ou a fazer uma campanha de moda só por causa dos seus traços especiais, da sua altura, da maneira como se movimenta, e que me prendem a atenção.
De facto, isto já são muitos anos a ver rostos, expressões e poses e onde ainda o que mais se destaca é a atitude, no seu todo. Cada roupa que se veste é uma história que se conta, é um personagem que se incorpora. Talvez não tenha sido por acaso que numa fase da minha vida fui coordenador de castings. O tempo suficiente para perceber que nem todos têm what it takes para estar ali. Se pensam que para ser manequim basta ter os atributos físicos, estão muito enganados. A auto-confiança, a boa energia, a capacidade de interpretação, a educação fazem toda a diferença, tal como em qualquer profissão, se quisermos vingar nela. Chegar a horas, aceitar um não, aceitar 10 nãos, continuar e insistir com leveza e frescura, estar cansado de tantas viagens e ainda sorrir quando ainda nos tratam como mais um naquela sala são requisitos básicos na vida de um manequim. E num patamar superior, da alta competição, lá onde estão os deuses e as deusas (e os anjos da Victoria Secrets) que fazem as campanhas das maisons de luxo, aí a roupa e o styling certos também contam. Ou pensam que ir calçados em Saint Laurent ou Zara é a mesma coisa?
Estive a assistir à última edição do Portugal Fashion e fiquei empolgado o suficiente para fazer a minha lista de apostas nos manequins que vão dar que falar nos próximos tempos. Os homens portugueses têm tido boa cotação no mercado internacional, como já estão a ter o Francisco Henriques, o Joaquim Arnell ou o Pedro Pinto, para dar alguns exemplos. E acho que muitos mais lhes vão seguir as pisadas:
Quando vi o Martim Canavarro neste desfile para a Nycole, fui surpreendido porque nunca o tinha visto num editorial ou concurso de beleza e duvidava se era português. Descobri depois que a agência que o representa - a Da Banda Model Management, é a agência angolana que também representa algumas manequins de primeira linha como a Alécia Morais ou a Amilna Estevão, sempre presentes nos desfiles das maiores casas de alta costura. Ficou logo tudo claro para mim: nada menos que o óptimo, mesmo no mercado português. Basta olharmos para o Martim para sentirmos que fomos transportados para a categoria onde tudo é mais caro e brilha ao sol.
O Rodrigo Pereira, cruzei-me primeiro com ele nos instastories da Karacter, e reconheci-lhe logo uma maneira de estar espirituosa e alguma determinação. Tem uma atitude rock star. É filho de um músico, portanto a escola do palco já a tem. Em todas as fotos que vi dele, li-lhe um pensamento diferente. Tanto era o menino-anjo aprumado que vai à missa ao Domingo como era o rebelde sem causa que desfaz os corações das mais incautas. Foi, para mim, a melhor surpresa de todas as caras novas.
O Rafael foi o vencedor do Elite Model Look 2018 e basta olhar para ele uma vez para perceber porque ganhou. A pureza, a candura e a inocência estão em cada olhar e paralisa-nos porque não parece real, não é deste mundo. E para quê contentarmo-nos com este mundo se podemos ter o outro? O Rafael aparece e é como se nos desse a mão para sermos canonizados com ele.
Mas para quem uma canonização possa ser um tanto ou quanto aborrecida, eis que surge o António Pires para nos dar velocidade furiosa. Os olhos ligeiramente rasgados, os piercings cirurgicamente bem posicionados no rosto e o queixo quadrado inspiram-me a:
- levantar do meu lugar, ir para o Maus Hábitos ser the baddest badass that I can be e pegar fogo àquilo tudo.
- ir para a rua manifestar-me pela protecção da Amazónia.
- as duas opções anteriores. Quieto é que eu não fico.
O Tiago Danu venceu a edição deste ano do Karacter Model Tour. Tem a mesma beleza pura do Rafael (em cima), mas num registo ainda mais sublime e delicado. Seria interessante ver um editorial de moda com os dois. Já está agenciado nas Elite Model World de Paris, Londres, Milão e Madrid, o que quer dizer que a coisa promete!
O Pedro Francisco estreou-se neste Portugal Fashion. Foi apresentado pela We Are Models em Setembro, por isso ainda tem muito que palmilhar, mas já se sabe que é uma questão de meses para mostrar o que vale. Ou não estivesse ele na mesma casa onde estão também os gémeos Sampaio e a Maria Borges, just to name a few.
O Rafael Mayers foi o vencedor do Face Model Of The Year deste ano e cada vez que o vi, senti uma energia diferente e sempre poderosa. Nas poucas fotos que vi dele, senti a mesma coisa. Esta capacidade de se multiplicar é uma ferramenta que nem todos possuem. E quem se multiplica vai a todo o lado. Quem é que também se deixou enfeitiçar por ele?
Tenho uma obsessão por traços orientais. Para mim, no Oriente está o Futuro, a Inovação, o Equilíbrio, a Força, o Carácter, a História e a Tradição. É tudo isso que sinto quando olho para o Ye Zinchao e acho que Portugal é pequeno para ele.
Bruno Reis, colaborador da Miranda, é o fundador e diretorcriativo da Teeorema, marca de luxo de T-shirts
Comentários