No momento em que partilhei no Instagram uma imagem minha, deitado confortavelmente numa marquesa e ligado a um saco de soro, as reações foram de solidariedade e compaixão, desejando-me as melhoras e força.
Não era caso para tanto, já que a ideia era apenas experimentar um tratamento de suplementação de vitaminas por via intravenosa. É um recurso cada vez mais usado por atletas de alta competição, imediatamente depois de provas importantes, ou mesmo por quem apenas deseja um boost de vitaminas que melhore a imunidade e a capacidade das células se regenerarem.
Estamos a falar de vitaminas do complexo B, vitamina C, e também glutationa, um dos antioxidantes mais benéficos para o organismo. A verdade é que eu já me sentia óptimo! Só não me culpem por querer sentir-me ainda melhor, OK? Sinto que este tipo de tratamentos resolve muito bem situações em que o corpo pode estar sob algum desgaste, com noites mal dormidas, recuperação muscular comprometida, má alimentação, desidratação e eventualmente algum jet-lag.
Eu estava em Londres e este tratamento não existe em Portugal. Tinha acumulado algum cansaço de viagens para o Bahrain, Bruxelas e Maastricht nas semanas anteriores, andava a dormir pouco e mal, e achei a oportunidade ideal, até porque estava a começar a sentir-me adoentado com as diferenças de temperatura. Dirigi-me à The Wellness Clinic no Harrods e agendei o 'IV drip' que no menu me pareceu mais indicado: o miniboost, com vitamina C, vitamina B12 e ainda a dita glutationa.
Os 'IV drips' já estiveram disponíveis em Portugal, há uns anos, contudo rapidamente foram removidos por uma acção da Ordem dos Médicos, por considerarem desadequado atribuir este tipo de tratamentos a pessoas plenas de saúde. Medicina preventiva, funcional e anti-ageing, parecem ser conceitos com os quais a medicina convencional ainda tem algum tipo de atrito. Não entende a importância de melhorar o que já é bom e de prolongar a longevidade. “Se não está doente, não mexe!”, parece-me ser esse o lema.
Questiono-me sempre como seria se tivéssemos um sistema que, em vez de procurar doenças, procurasse mais saúde. Talvez as doenças fossem mais difíceis de encontrar… o que já deve ser um grande problema. Já é difícil conseguir as curas, ainda vamos ter mais dificuldade em conseguir encontrar as doenças?! A meu ver, no que diz respeito ao tema saúde, ainda há infinitos patamares por atingir e por explorar, que a perspectiva fechada em apenas curar doenças limita a maneira como olhamos para nós mesmos todos os dias: somos seres que aguardam uma doença ou somos seres que previnem uma doença?
Antes da minha sessão, tive de ler e assinar vários documentos nos quais atestava a minha responsabilidade e que estava em pleno estado de saúde. A sessão durou apenas 40 minutos, foi bastante rápida. Há sessões que duram mais tempo, em que a quantidade de vitaminas é maior. Segundo a enfermeira que me acompanhou, eu estava ligeiramente desidratado, uma vez que o meu braço “bebeu” sofregamente aquele “bionéctar”. A mesma referiu que no dia seguinte eu ia acordar a sentir-me óptimo e cheio de energia. O que não aconteceu. Mas também não piorei da constipação. Não piorei e rapidamente recuperei da garganta inflamada. Ficarei, contudo, com a eterna dúvida: terá mesmo surtido algum efeito? Ou ter curado uma pequena doença em ebulição não é suficiente para declarar o sucesso do tratamento?
Estava a ser irónico. Eu sei a resposta.
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