O que é a deficiência de ferro?

Trata-se de um quadro clínico onde o corpo não tem ferro suficiente para funcionar corretamente. O ferro é essencial para o crescimento e desenvolvimento, sendo um componente crucial da hemoglobina, a proteína do glóbulo vermelho que transporta oxigénio para as nossas células, órgãos e músculos. Sem ferro, o corpo não consegue produzir hemoglobina suficiente, resultando numa série de sintomas desagradáveis.

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O papel da ferritina

A ferritina é uma proteína que armazena ferro e ajuda a manter os níveis saudáveis deste mineral no nosso corpo. Embora a maioria do ferro se encontre na hemoglobina, o restante é armazenado principalmente como ferritina. Isto é vital, porque níveis excessivos de ferro podem causar danos oxidativos e envelhecimento celular. A ferritina protege contra estes danos, armazenando o ferro de forma segura até que o corpo precise dele novamente.

Quais são então os sintomas da deficiência de ferro e baixa ferritina?

Os sintomas de deficiência de ferro e ferritina baixa podem ser vagos e facilmente confundidos com outras situações. Alguns sinais comuns incluem:

  • Fadiga extrema ou falta de energia.
  • Fraqueza inexplicável.
  • Pele pálida.
  • Mãos e pés frios.
  • Inflamação ou dor na língua.
  • Unhas quebradiças ou queda de cabelo.
  • Desejos incomuns por substâncias não nutritivas, como gelo ou terra.
  • Falta de apetite, especialmente em bebés e crianças.
  • Dores no peito, batimentos cardíacos rápidos ou falta de ar.
  • Dores de cabeça, tonturas ou vertigens.

Como se faz o diagnóstico da deficiência de ferro?

O hemograma é um dos primeiros testes de sangue de rotina, muito acessível e essencial, que deve ser solicitado assim que se suspeite de sintomas de deficiência de ferro. No entanto, o problema de olhar apenas para o hemograma é que, idealmente, queremos saber sobre a deficiência de ferro antes que ela se transforme em anemia. Portanto, testar outros marcadores também é importante quando temos uma visão integrada da medicina funcional.

Testes funcionais importantes a pedir

Quando olhamos para os resultados das análises, devemos fazê-lo com uma visão personalizada a cada pessoa, idade e individualidade. Enquanto um intervalo de referência convencional indica os valores laboratoriais considerados normais para a população em geral (diferença entre doença ou não doença), já o nível óptimo é uma faixa mais restrita, usada na medicina funcional, tendo em conta a saúde ideal e a prevenção. Enquanto o intervalo convencional mostra o que é comum, o nível óptimo foca no que é ideal para o bem-estar máximo da pessoa.

Um painel de biomarcadores mais abrangente deve incluir:

Ferro

O ferro (também pedido como ferro sérico) mede a quantidade de ferro no sangue. É uma boa medida de onde o corpo está atualmente em termos de suficiência de ferro.

Faixa Laboratorial Convencional: 10 - 150 ug/dL

Faixa Ótima: 40 - 100 ug/dL

Ferritina

A ferritina é uma proteína de armazenamento de ferro. É um marcador das reservas totais de ferro no corpo. Compreender quanto ferro está armazenado no corpo é tão importante como entender quanto ferro está a ser utilizado pelos glóbulos vermelhos, porque pode nos dizer o quão esgotadas estão as nossas reservas. Medir a ferritina também é essencial para alguém que está ou esteve com deficiência e começou a suplementar com ferro. Queremos garantir que o corpo não está sobrecarregado com ferro ao aumentar demais.

Faixa Laboratorial Convencional:

  • homem adulto 12 - 300 ng/mL
  • mulher adulta 10 - 150 ng/mL

Faixa Ótima:

  • homem adulto 30 - 190 ng/mL
  • mulher adulta 20 - 130 ng/mL

Transferrina

A transferrina é uma proteína que transporta ferro por todo o corpo. Queremos saber se há transferrina suficiente, pois se o ferro não puder ir onde precisa, será inútil para nós.

Faixa Ótima: 250 - 400 ug/dL

Capacidade Total de Ligação de Ferro (TIBC)

A capacidade total de ligação de ferro (TIBC) mede o quão bem o ferro se liga à proteína transferrina no sangue. Isto é importante, porque podemos ter ferro e transferrina suficientes, mas se a transferrina e o ferro não se estiverem a ligar, ainda nos podemos tornar deficientes em ferro.

Faixa Ótima: 250 - 400 ug/dL

Saturação de Transferrina

A saturação de transferrina diz-nos quanto do nosso ferro está ligado à proteína transferrina e é tipicamente medida como uma percentagem.

Faixa Laboratorial Convencional: 15 - 50 %

Faixa Ótima: 20 - 35 %

Quando os níveis de ferritina diminuem, o corpo tem menos capacidade de manter o equilíbrio do ferro. Isso resulta numa produção insuficiente de hemoglobina e na diminuição da entrega de oxigénio aos tecidos. Sem oxigénio adequado, surgem sintomas como fadiga, fraqueza muscular e batimentos cardíacos rápidos. Além disso, menos ATP (energia) é produzido, exacerbando a sensação de cansaço.

O que pode causar esta deficiência de ferro?

Existem várias causas para a deficiência de ferro:

  • Perda de sangue: a perda de sangue, como em mulheres com períodos menstruais abundantes ou úlceras gástricas, pode levar à perda de ferro.
  • Dieta pobre em ferro: uma dieta que não inclua alimentos ricos em ferro resulta em níveis baixos deste mineral.
  • Problemas de absorção: quadros como a doença celíaca ou inflamações intestinais crónicas, desencadeadas por intolerâncias alimentares, podem afetar a absorção de ferro.
  • Gravidez: durante a gravidez, as necessidades de ferro aumentam significativamente.
  • Grupos de risco: a deficiência de ferro é mais comum em crianças e mulheres menstruadas, mas pode afetar qualquer pessoa.

Como corrigir os níveis de ferritina para combater a fadiga?

Nutrição

Aumentar a ingestão de alimentos ricos em ferro é essencial para combater a deficiência. Fontes animais, como carne de vaca e frango, são melhor absorvidas pelo corpo. Fontes vegetais, como feijões e espinafres, também são importantes, especialmente quando consumidos com alimentos ricos em vitamina C, para melhorar a absorção.

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Suplementação

A suplementação é essencial para algumas pessoas, pois nem sempre conseguimos obter todo o ferro necessário apenas através da alimentação. Existem várias formas de suplementos de ferro. Os mais comuns e acessíveis são os sais ferrosos, como sulfato ferroso. No entanto, muitas pessoas relatam desconforto gastrointestinal, especialmente prisão de ventre, ao tomar esses suplementos. Alternativas mais recentes, como o glicinato de ferro, tendem a causar menos problemas digestivos. Se optar por tomar suplementos de ferro, lembre-se de adicionar um suplemento de vitamina C e tomá-los juntos, para melhorar a absorção.

Não adivinhe. Teste.

A deficiência de ferro é uma condição comum, que afeta muitas pessoas, mas infelizmente pode passar despercebida. A visão da medicina funcional oferece ferramentas para uma análise mais detalhada dos exames laboratoriais e, normalmente, preferimos não esperar que a doença se manifeste. Em vez disso, procuramos identificar padrões e, com uma abordagem integrada, utilizando nutrição e suplementação adequadas, a deficiência de ferro pode ser revertida facilmente.

Então, não desanime! Com um pouco de atenção e os cuidados certos, pode deixar de lado o cansaço constante e redescobrir uma vida cheia de energia. Afinal, quem não quer sentir-se como uma estrela que brilha, cheia de energia? Vamos lá, rumo a uma saúde de ferro!

Até à próxima, e cuidem-se.

Dra Andreia de Almeida, é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. Escreveu o livro “Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.