Quando tinha 15 anos, decidi pegar na pinça da minha mãe e destruir pela raiz a mono-celha inestética que insistiu em fazer-me aquele pedido de amizade descarado. Senti-me forçado a aceitar, mas percebi logo à primeira que não falávamos a mesma linguagem e que fazíamos parte de universos distintos. Ganhei coragem algum tempo depois e bloqueei-a.
Vivi alguma ansiedade nos momentos seguintes, já que havia aniquilado uma intrusa e mais tarde ou mais cedo os meus próximos haveriam de perguntar por ela. Todos ao meu redor se haviam habituado à sua presença da infame, mais depressa do que eu, e sendo homem, o natural seria conformar-me com o bouquet piloso que me havia calhado acima da cana do nariz....
Parece que tive sorte e saí ileso deste crime, já que nunca deram por falta da vítima, apesar de terem reparado que alguma coisa estava diferente em mim.
Só mais tarde é que a metrossexualidade se banalizou, portanto só mais tarde deixei de me sentir um criminoso.
Nunca mais tive vergonha de arranjar as sobrancelhas
Cheguei a experimentar depilar as pernas (o peito nunca precisou) e a imagem de um homem sem pêlos, um David Beckham, tornara-se o meu ideal de beleza masculina. Nunca mais tive vergonha de arranjar as sobrancelhas e havia cada vez mais homens a fazê-lo.
Entretanto, tornei-me adulto e percebi que não havia nada de errado em ter umas pernas e um rabo peludos. Só tinha de me preocupar em ter umas boas pernas e um bom rabo! A mono-celha é que nunca mais se formou. Tanto pêlo arranquei pela raiz, que cada vez menos pêlo nasceu e deixei de ser tão rigoroso em ter duas sobrancelhas simétricas. Simplesmente passei a tirar o excesso e deixo as arestas livres e irregulares. À homem!
Do metro para o lumbersexual
Esta atitude vem no seguimento da evolução do metrosexual para o lumbersexual e parece que não escapei à tendência. “Lumber” de “lenha” - o termo é para definir o estilo rústico do lenhador, em que os pêlos são assumidos orgulhosamente. Podem-se aparar, mas a imagem viril deve predominar. Aquelas sobrancelhas feitas com cera ou com linhas, esqueçam.
Assumam a monocelha (e contra mim falo!). Saber lidar com pêlos indesejados é uma arte. É preciso chegar à proporção certa e saber casar o que há com a imagem que se quer transmitir. No meu caso, assumi os pêlos das pernas e do rabo, mas nunca tive orgulho nos pêlos do peito. Nunca foram o suficiente para sentir que os tenho, então prefiro apará-los por completo com a máquina aparadora. Atenção ao uso de lâmina. Já basta serem indesejados, não vamos querer que encravem.
Ainda há uns pêlos compridos e mal semeados nas omoplatas e ombros. Esses, se pudesse, eliminava-os definitivamente, mas como mal se notam, a não ser num ângulo de maior intimidade, ainda sou um pouco displicente com eles.
Mas nada até hoje superou a repulsa que sinto ao ver a flora entusiasta que decidiu aflorar nos meus ouvidos. Será que há aqui uma questão de atitude e umas orelhas peludas também têm o seu nicho no mercado e também podem ser apreciadas?
Os pêlos em regiões privadas
Um homem com pêlos nas omoplatas e nos ombros até atrai, mas nos ouvidos já considero um atentado à higiene visual. Por isso, regularmente, com a caneta depiladora, faço por ter umas orelhas de bebé.
Mas lumbersexual que se preze também cuida da sua “lenha” e neste caso a depilação deverá ser mais cuidada na região púbica e no órgão sexual. Eu aparo com a máquina e se puder ainda passo a lâmina (no sentido do crescimento dos pêlos) para ter mais pele à mostra, o que se traduz em maior sensibilidade no toque e mais prazer.
Se é para ser lenhador, é para atear fogo à fogueira com a melhor das lenhas. Seria um crime não o fazer.
Bruno Reis, colaborador da Miranda, é o fundador e director criativo da Teeorema, marca de luxo de t-shirts.
Comentários