Alguém se lembra do tempo em que ser belo era apanágio de um grupo muito restrito de pessoas? Era antes do Facebook, do Hi5 e do Orkut, no tempo em que só descobríamos pessoas novas quando saímos com amigos e íamos ao bairro alto, em que para ter acesso ao perfil delas bastava perguntar-lhes, olhos nos olhos, o que gostavam de fazer, onde trabalhavam, para onde tinham ido de férias.
Se houvesse empatia, e dependendo do grau da bebedeira, ainda nos era permitido ver algumas fotos pixelizadas que tinham guardadas no Nokia 6630. Depois, cada um ia à sua vida, podia ser que nos víssemos novamente.
Nesta altura, descobrir pessoas era uma experiência verdadeiramente empolgante! No campo da Beleza, quem nos davam a conhecer caras novas eram a televisão e as revistas, que se regiam por cânones rígidos e impermeáveis. Só a alguns eram concedidos os 15 minutes of fame, porque só alguns tinham o poder de os conceder.

O poder das redes sociais

Só que entretanto chegaram as redes sociais e foi power to the people! São pessoas a gostar de pessoas; pessoas de todos os tipos a seguir pessoas de todos os estilos, sem constrangimentos e sem filtros. Os smartphones sugerem-nos seguirmos os ilustres desconhecidos mais belos do Instagram, os quais ganharam poder por serem seguidos por milhares de pessoas, muitas dessas também seguidas por outros tantos milhares, tendo feito a imprensa e a televisão passarem para segundo plano.

Deixou de haver só os góticos, os punks e os betinhos. Agora há também os emos, os hipsters, os nerds, os geeks, os dandies e um sem-número de tribos urbanas, constituídas por pessoas que afirmam a sua identidade construída e afinada por várias viagens a incontáveis perfis de Instagram e facebook: Eu posso ser assim porque já vi serem assim.
As características que nos distinguem são também as características que nos tornam autênticos e carismáticos, também no que concerne ao corpo e à cara.

Nunca a célebre frase “A Beleza é uma questão de atitude”, de Estée Lauder, fez tanto sentido, passando a haver espaço para todos os tipos de beleza, desde a mais clássica à mais alternativa, sendo essa questão de atitude o ponto comum entre todas.

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Basta estarmos com atenção aos desfiles de alta costura dos últimos 3 anos para nos darmos conta de como tantos géneros diferentes de beleza são representados: orelhudos, narigudos, amputados, aparelhos nos dentes, estrábicos, albinos, falhas entre dentes, mono-sobrancelhas, carecas, trissomia 21, gordinhas, virtiligo...

Estamos muito mais inclusivos e já ninguém se revê em histórias de encantar

A beleza do mundo real, das imperfeições também nos faz sonhar, faz-nos acreditar em nós comuns-mortais-das-borbulhas-na-cara. É a altura certa para assumir com orgulho as minhas orelhas de Dumbo e a magreza. Espero não ter de assumir a careca, mas isso é outra história. Já partilhei aqui que não me vou resignar e espero, em breve, ter boas notícias.

Bruno Reis, colaborador da Miranda, é o fundador e director criativo da Teeorema, marca de luxo de t-shirts.