Há um exercício bastante comum na psicoterapia, que envolve criarmos um lugar seguro na nossa mente. Devemos imaginá-lo ao mais ínfimo pormenor: cheiros, texturas, o que temos vestido, o que vemos quando olhamos para os lados, quem ou o quê está lá connosco.
A ideia é que possamos viajar até ele sempre que precisarmos de nos reconectar, de nos sentirmos confortáveis, de certa forma escaparmos à realidade que estamos a viver. Nunca precisei de puxar muito pela minha imaginação – o meu lugar seguro já existia antes de mim mesma e foi-me apresentado ainda eu não sabia andar ou falar. É um lugar que me faz sentir bem, que me relembra quem sou, que me acalma, que me traz memórias e um sentimento de felicidade que não encontro em mais nenhuma localização (sim, nem mesmo no provador da Zara ou numa Sephora).
O meu lugar especial é a praia, em particular a da Poça, que fica aqui na linha do Estoril, a cinco minutos a pé de minha casa. E é lá que passo a maioria dos tempos livres que tenha. Primeiro, tudo naquela paisagem me transmite a sensação de lar, de pertença; depois, acredito que a água do mar tem um poder de ‘limpeza’ que nenhum desmaquilhante conseguirá igualar. Um mergulho na água salgada e sinto que carreguei a minha bateria pessoal à corrente. Sempre gostei de praia, praticamente de todas, mas aquela tem qualquer coisa de única, e se quem lê tem o seu lugar preferido do mundo, saberá do que estou a falar.
A ciência está do meu lado: já foi estudado e provado que ter um lugar especial nos traz sensações de bem-estar que não se ficam por ali e são transportadas para outras situações. É como se, mesmo que tudo o resto pareça correr mal, aquele lugar está ali para nós a qualquer momento, como um porto de abrigo à espera de nos abraçar de volta.
Mais do que qualquer objeto, ter um sítio que nos faça sentir bem ajuda-nos a reavaliar as nossas preocupações, a pôr algumas coisas em perspetiva e a amenizar os sentimentos de ansiedade que cada vez mais parecem andar colados a nós. Outra das descobertas interessantes das pesquisas relacionadas com locais especiais é a de estes parecerem fazer parte da identidade, ou pelo menos ajudarem a moldá-la.
Dizem que não se deve voltar onde fomos felizes – não sei quem inventou este ditado, mas com certeza ainda não tinha encontrado o seu lugar especial.
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