Sexta-feira, 18.30h em ponto, envio o meu último e-mail e exclamo de alegria “fim de semana aqui vou eu”. Silêncio. Nada acontece. Estou em casa como todos, em teletrabalho como muitos, e se há muita coisa a mudar durante este isolamento a excitação de terminar uma semana de trabalho mantém-se inabalável. Só que, mal empurro para baixo o ecrã do computador, nada acontece. Não tenho planos, não há sítios para ir, não há comidas absurdamente caras para o seu tamanho para experimentar, não há nenhuma festa hot a acontecer que não seja no House Party, nem sequer há vinho no horizonte. OMD, não há nada para fazer.
Espera lá, não era este o nosso maior sonho (à parte de ser algo forçado por uma pandemia mundial)? Não estávamos todos extremamente ocupados, sem um segundo na agenda para qualquer coisa extra, desesperados por um dia sentados no sofá? Cuidado com aquilo que desejas, sempre se ouviu dizer. Agora que fomos obrigados a parar, o que mais se tem vistos são formas de ocuparmos este aborrecimento. Receitas, treinos, maquilhagem, arrumações – o limite para os planos #stayhome parecem, tal como o isolamento, não ter um fim à vista. Alguém tem tempo (ou disposição) para tanta agitação? Será que mesmo quando o mundo todo nos está a dizer para estarmos quietos temos de nos pôr a inventar? Entendo, convém mascarar esta ansiedade pegada com qualquer coisa que nos distraia. Mas de repente estar em casa sem nada para fazer é o novo FOMO. Como assim não começaste o dia com um pão fermentado durante a noite, seguido de uma aula de costura e um curso em Harvard?
Claro que todos sabemos não fazer nada (eu sei que sabem). Mentalmente, a conversa poderá ser outra. O dolce far niente não é um conceito que se cinge aos italianos – nem esta nossa mania de controlar tudo enquanto nos abstraímos da realidade. Nos últimos dias, posso dizer que me tornei um mestre na arte de não fazer nada. Não o aplico a todos os momentos, até porque não posso - simplesmente porque não posso - mas guarda-o para momentos em que me deixar relaxar da euforia geral e centrar-me no meu pequeno casulo de vazio [som de fardos de palha a rolar no deserto].
Como? Aconselho começar por pequenos pedaços de nada. Desligue as possíveis distrações, feche os olhos e respire (não convém ‘não fazer nada’ em relação à respiração, é chato). Relaxe – e aqui entra a parte difícil, porque é algo a que a maioria de nós não está habituado – e deixe a sua mente aceitar esta nova realidade (olá, pensamentos intrusivos, não tínhamos saudades). Durma uma sesta. Tome um banho longo. Sente-se na varanda a apanhar sol. Deixe uma máscara facial repousar no seu rosto enquanto se deita no sofá. Ponha a sua música preferida a tocar enquanto olha pela janela. Percebe a ideia? Se não pense num gato - não fazer nada parece ser bastante fácil para eles. E também parecem muito felizes.
Comentários