Trago um apanhado de algumas marcas que analisei mais a fundo e que me parecem muito interessantes ao nível do trabalho que desenvolvem em prol da sociedade e do Ambiente. Porque as grandes marcas têm também um enorme potencial: o de investir em grande escala para melhorar o mundo. E algumas conseguem, como vamos ver.

RENÉ FURTERER
#DoZero: cinco marcas amigas – a sério! – do Ambiente
Noz de karité, Burkina Faso créditos: @renefurterer

Pertencente ao grupo Pierre Fabre, do qual fazem parte outras marcas como Avène, Klorane, A-Derma, este laboratório teve, desde a sua criação, práticas responsáveis, quer a nível social, quer ambiental. Para os ingredientes que se colham da natureza, existe uma reposição. Para todo o trabalho com produtores, existe uma melhoria na sua vida.

Quem detém a maioria do grupo é uma fundação estritamente humanitária (Pierre Fabre Foundation) para melhorar o acesso à saúde nos países do Sul em todo o mundo. Esta fundação foi a única herdeira de Pierre Fabre (1926-2013), farmacêutico francês e criador do laboratório. Desde a criação do grupo que o mesmo é, como eles próprios dizem, “inspirado pela natureza”. Mantêm mais de 15 mil amostras de plantas (a maior coleção privada no mundo), investigam Botânica há mais de 40 anos e têm como valor absoluto a preservação da biodiversidade (97% das plantas que utilizam nas marcas do grupo são colhidas sem qualquer impacto na sua sustentabilidade) e o aprovisionamento ético.

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Quanto a René Furterer, era um cabeleireiro (ou melhor, exerceu no cabeleireiro da sua mulher) da Provença, apaixonado por botânica. Dizia que “o cabelo bonito cresce num couro cabeludo saudável, como uma planta num solo fértil”. Por isso, inspirado na Natureza, foi desenvolvendo formulações que respeitassem o couro cabeludo e o cabelo.

E em que é que esta marca é interessante para a sociedade e para o Ambiente?

  • Os produtos da marca são fabricados — embora não todos — em Gaillac (Sul de França), seguindo duas grandes premissas: a eficácia do “savoir-faire” e tecnologia de ponta que respeite o Ambiente. São, aliás, certificados ISO 14001 e ISO 14001.
  • Para responder à vontade de fazer parte de uma abordagem de ação Equitativa, Solidária e Responsável, a marca criou o FAIR4LIFE, com quatro projetos de responsabilidade:
  1. Pfaffia do Brasil
    Através deste programa, a marca compromete-se a melhorar a qualidade de vida de pequenos produtores no estado brasileiro do Paraná, adquirindo as raízes de Pfaffia exclusivamente em conjunto com uma cooperativa de produtores de ginseng em Querência do Norte — a ASPAG —que é certificada 'Fair For Life' em agricultura biológica e também certificada 'Comércio Justo' pela Ecocert.
    Desde 2005, a quantia paga aos agricultores aumentou cinco vezes, para ajudar a diversificar as atividades agrícolas de pequenos produtores numa região em que a maioria das culturas são OGM (organismos geneticamente modificados) e destinadas à exportação. Através da produção da Pfaffia, a René Furterer compromete-se a combater a desflorestação e a preservar recursos naturais locais numa reserva de bioesfera, na floresta Atlântica da bacia Amazónica.
  2. Karité ético
    Para a produção de Manteiga de Karité Ética, a René Furterer compromete-se desde 2007 com uma parceria a longo prazo com a Sotokacc, uma pequena empresa no Burkina Faso, que se especializa na produção de manteiga de karité, e com a qual René Furterer quis trabalhar depois de conhecer a história de Nathalie Ouattara, uma mulher burquinesa que luta pelo desenvolvimento económico e social da sua aldeia.
    Através desta parceria, a René Furterer consegue estabelecer relações justas, responsáveis e de longa duração, certificadas com o selo Ecocert de Comércio Justo, e compra a manteiga a valores acima dos praticados no mercado, garantindo autonomia para as 24 mulheres da Sotokacc e as mais de 1500 mulheres que produzem e colhem as nozes de karité.
  3. Moringa de Madagáscar
    Num país em que a má nutrição afeta 8 milhões de habitantes, a René Furterer compromete-se, através da sua cadeia de aprovisionamento da Moringa, a apoiar fornecedores locais em Madagáscar e a assisti-los nos seus projetos de desenvolvimento social e ambiental, como as batalhas diárias contra a má nutrição.
    Desde 2008, esta cadeia foi reconhecida como uma Empresa Responsável, na categoria "Exemplar", de acordo com a referência ESR (comércio justo, de apoio, responsável) da Ecocert. Uma vez que as folhas de moringa são ricas em vitaminas, proteínas e minerais, a marca tem feito um trabalho de educação com as famílias e doa as plantas jovens aos agricultores. Com a moringa, a René Furterer  apoia agricultores de Ranopiso, cidade do Sul da ilha, através da SEAR (Société d'Exploitation Agricole de Ranopiso), para aumentar o seu rendimento de agricultura através de técnicas de produção que complementam as existentes, de modo a garantir a sua auto-suficiência.
  4. Óleo de Argão de Marrocos
    Para o óleo de argão, que é produzido em regiões pobres e isoladas de Marrocos, onde as mulheres representam a força e o desejo de criar novas áreas de atividade económica, a René Furterer apoia três cooperativas, todas detentoras da certificação orgânica e de comércio justo ESR (comércio justo, apoiado e responsável), da Ecocert, adquirindo o óleo de argão exclusivamente através da UCFA (Union de Coopératives de Femmes de l’Arganeraie, união das cooperativas femininas de produção de argão) e prolonga o seu compromisso com três jardins de infância que cuidam das crianças das mulheres que trabalham nestas cooperativas, com o objetivo simples de fazer com que seja possível elas terem uma profissão. Para além de comprar o óleo através desta cooperativa, a marca forma as mesmas em controlo de qualidade e gestão, e ensina às mulheres competências literárias básicas.
KLORANE
#DoZero: cinco marcas amigas – a sério! – do Ambiente
Cupuaçu, Paraná (Brasil) créditos: @klorane_france

A Klorane é outra marca do Grupo Pierre Fabre com um profundo compromisso com o Ambiente e a com a sociedade. Entre as suas ações de mais impacto, destaco as seguintes:

  • Klorane Botanical Foundation e UNESCO
    No Senegal, a Klorane Botanical Foundation, em parceria com o Centro Nacional (francês) de Pesquisa Científica (CRNS), assegura a plantação de 10 mil tamareiras do deserto por ano. Esta ação contribui para a reconstituição do revestimento vegetal e proporciona uma fonte sustentável de comida e rendimento para as populações locais. Duas ações consideradas pela UNESCO como exemplos emblemáticos de educação para o desenvolvimento sustentável no âmbito do programa “UNESCO Green Citizens, torna-te pioneiro da mudança”.
  • Combate à desflorestação na Amazónia
    Em parceria com o Instituto Beraca (uma ONG brasileira) a Klorane Botanical Foundation envolveu-se no combate à desflorestação na Amazónia, ao promover a transmissão de conhecimentos entre duas comunidades: a experiente comunidade de Santa Luzia e a inexperiente e isolada comunidade de Bela Aurora.
    As técnicas de agrossilvicultura (que associa diversas plantas nativas complementares, para proteger o ecossistema e valorizar a diversidade vegetal e alimentar) e a valorização sustentável do Cupuaçu (pequena árvore da família do cacaueiro, cujo fruto é localmente usado para diversos fins), permitem um consumo integral do fruto (sementes, polpa…) e são partilhadas para melhorar a vida diária destas famílias.
  • Combate à erosão da biodiversidade
    A erosão da biodiversidade é, infelizmente, conhecida há já muito tempo. Há 25 anos que a Klorane Botanical Foundation age em prol da proteção do património vegetal. O programa “Graine de Botaniste” permitiu sensibilizar mais de 600 mil crianças em todo o mundo desde a origem da
    fundação.
    Todos os anos são disponibilizados recursos educativos no âmbito da Botânica aos professores do ensino básico que desejem mostrar a Natureza às crianças. A iniciativa é complementada com oficinas de criação de herbários, saquetas de sementes e jardinagem.
  • Preservação da água
    Sabendo a importância da água e percebendo que muita da que utilizamos fica contaminada, a Klorane Botanical Foundation, em parceria com o Laboratório de Química Bio-Inspirada e Eco-Inovação (CRNS), está envolvida num ambicioso programa ecológico de despoluição do rio Vis, que atravessa a região administrativa francesa da Occitânia, e que se encontra contaminado por metais pesados provenientes de uma antiga mina. As propriedades das raízes da menta aquática, utilizada pela Klorane numa das suas gamas capilares, são aproveitadas para a captação de metais pesados, como o chumbo, o zinco ou o cádmio.
  • Resíduos de produção
    Os produtos Klorane são fabricados em França com recurso a uma caldeira de biomassa que converte 99% dos resíduos em energia. Desde o cultivo até à fórmula para enxaguar biodegradável, incluindo o design das formulações preservadas, todos os produtos são preservados em embalagens recicláveis e com, pelo menos, 25% de material reciclado, de modo a promover a reutilização de recursos e a minimizar o impacto ambiental.
A-DERMA
#DoZero: cinco marcas amigas – a sério! – do Ambiente
Terre d'Avoine, França créditos: @aderma_officiel

Para terminar a referência a marcas responsáveis pertencentes ao grupo Pierre Fabre, trago-vos a A-Derma, responsável, em exclusivo, pela produção da Aveia Rhealba®, o que resulta num forte compromisso de apoiar o seu desenvolvimento sustentável. E o que tem a A-Derma de tão interessante?

  • Todos os produtos da A-Derma são produzidos exclusivamente em França, desde a plantação até aos produtos acabados e ao embalamento, de modo a reduzir a pegada carbónica.
  • A plantação é garantida por produtores locais e o cultivo é realizado de acordo com os princípios de agricultura biológica e consumindo pouca água.
  • Num esforço contínuo de poupar água e energia, a fábrica da marca esteve, durante quatro anos, numa experiência de HEQ®, que resultou na redução de 32% da utilização de água na fábrica e na redução de 9% no consumo energético.
  • O “bagaço” de aveia obtido durante a extração é utilizado para abastecer a central de Soual, uma comuna no Sul de França.
  • É a única marca de cosmética francesa cuja fábrica tem uma caldeira de biomassa: 80% da energia utilizada é renovável e 99% dos resíduos da produção são reciclados.
  • A marca está ainda envolvida num programa de neutralidade carbónica local (plantação de sebes florestais), apresentada no COP21. Este programa reconhece a importância dos arbustos como fonte de biodiversidade, protegendo os ecossistemas do vento e os solos da erosão. Uma vez que França perdeu cerca de 500 mil km de arbustos desde o início dos anos 80, a A-Derma comprometeu-se a apoiar o desenvolvimento de sebes rurais durante 20 anos, através do projeto Climat Local®.
  • Para proteger o ecossistema no qual a Aveia Rhealba® é cultivada, a A-Derma compromete-se, em parceria com a Bird Protection League, a proteger os pássaros da Terre d’Avoine e a preservar o seu habitat natural. Reconhecendo também que a presença de abelhas selvagens é um indicador da saúde do ecossistema, a marca monitoriza as abelhas da zona e compromete-se a melhorar as práticas de cultivo, de modo a atrair mais abelhas.
  • A fábrica onde se transforma a Aveia Rhealba® é certificada a nível de gestão ambiental pela ISO 14001 e a produção local encontra-se de acordo com a iniciativa Botanical Expertise Pierre Fabre, reconhecida pelo selo europeu EFQM®.
  • Tudo nos produtos que nos chegam a casa é pensado ao detalhe, de modo a preservar a eficácia das fórmulas, produzindo o mínimo impacto possível:
    - os produtos de enxaguamento da A-Derma são todos 100% biodegradáveis,
    - as caixas dos produtos são feitos de papel de florestas geridas de modo sustentável,
    - a tinta utilizada nas embalagens é de base vegetal
    - e todo o embalamento é livre de PVC e ftalatos.
  • Os produtos da marca também não vêm com folhetos dentro das caixas, estando toda a informação necessária impressa no interior das mesmas.
CLARINS
#DoZero: cinco marcas amigas – a sério! – do Ambiente
Medronho, Portugal créditos: @clarinsfr

Esta foi uma das marcas que mais me surpreendeu. Não costuma comunicar avidamente sustentabilidade nos canais publicitários e, como tal, foi muito interessante descobrir o que tem vindo a fazer pelo mundo.

  • A Clarins dá preferência a ingredientes orgânicos, autóctones e, se vierem de mais longe, plantas plantadas e colhidas de acordo com práticas de comércio justo. O objetivo é, com todos os ingredientes utilizados, o de proteger os ecossistemas, capacitar comunidades locais e, acima de tudo, respeitar a biodiversidade.
  • Uma vez que, para criar os seus produtos, a Clarins utiliza plantas, existe um profundo respeito pelos ecossistemas, o que se traduz, entre muitas outras coisas, na utilização de toda a planta, sem desperdiçar nenhuma parte, desde talos a sementes e pétalas. A marca percebe que, para ter plantas no futuro, tem de proteger o ambiente em que elas crescem e ajudar as comunidades que as cultivam. Nunca são utilizadas plantas em vias de extinção e todas as plantas cultivadas são substituídas, sendo os seus ecossistemas protegidos.
  • A Clarins fez, em 2008, a primeira auditoria carbónica em França. Gradualmente, foi estendendo este trabalho a todos os seus negócios na Ásia (em 2012), Estados Unidos (2014) e Europa (2015).
  • O packaging dos materiais é, segundo uma auditoria da marca feita em 2013, a maior fonte das emissões carbónicas da Clarins, representando 24% de todas as emissões geradas – impressionante, se pensarmos que, em grande parte das marcas, a maioria do impacto estará na produção e no transporte dos produtos (posso estar a ver mal, mas parece-me que isto significará que reduziram muito o impacto carbónico nestas duas etapas).
    Assim, uma das prioridades atuais da marca é o eco-design no desenvolvimento de produto. Para este eco-design, é medida uma série de indicadores para analisar e decidir com base nas emissões de CO2e, consumo de água, percentagem de material reciclado, reciclabilidade do packaging, escolha de materiais já existentes, e produzidos (ou novos), menos poluentes…
  • Têm nas suas infraestruturas (fábricas, escritórios), ferramentas para monitorizar o consumo de água, lixo e gestão de resíduos. Os produtos são transportados do armazém de Amiens quase exclusivamente por estrada ou mar. O transporte aéreo é excecional, acontecendo em menos de 2% dos produtos enviados.
  • O novo edifício da Clarins em Paris tem certificação HWA e BREEAM. Foram instaladas três colmeias no telhado, que albergam um total aproximado de 160 mil abelhas, como forma de promover a biodiversidade na região.

A marca apoia ainda uma série de projetos muito impactantes no que diz respeito à sustentabilidade, tais como:

  • ALP ACTION: no início da década de 90, o grupo Clarins juntou-se à Alp Action, iniciando uma parceria de longo prazo com a associação ASTERS, para proteger a biodiversidade na região dos Alpes. Ainda com esta associação, a marca promove programas de reflorestação na China e na Amazónia.
  • FEED: a Clarins é, desde 2011, parceira da FEED, uma organização social com fundos redirecionados para o Programa de Alimentação das Nações Unidas, com o objetivo de acabar com a fome infantil no mundo e, através da implementação destes projetos em escolas, facultar o acesso das crianças ao ensino. Esta parceria já permitiu doar, até à data, mais de 10 milhões de refeições escolares.
  • JARDINS DU MONDE: ao lado do etnobotânico Jean-Pierre Nicolas (primeiro vencedor do prémio “Clarins Men Environment Award”), a Clarins participa na criação de jardins pedagógicos em Madagáscar e no Burkina Faso, que permitem empoderar as populações mais isoladas e pobres, garantindo a sua saúde e desenvolvimento.
  • PRÉMIO CLARINS: iniciativa criada em 1997, para apoiar mulheres que se dedicam a melhorar a vida de crianças desfavorecidas. Atualmente, o prémio existe em 14 países e já foram distinguidas mais de 75 mulheres no mundo inteiro.
  • ÉTINCELLE e BELLE&BIEN: Com o objetivo de levar momentos de beleza, carinho e atenção às mulheres que sofrem de cancro, a Clarins apoia duas associações.
    Com a Étincelle, a marca preparou cabinas de tratamento e formou esteticistas.
    Com a Belle&Bien, sob o patrocínio da Liga Contra o Cancro, a Clarins organiza ateliers de beleza em 22 hospitais de França, para prestar apoio psicológico a mulheres que sofrem de cancro.
  • FUNDAÇÃO ARTHRITIS: apoiada pela marca desde 1989, a Clarins suporta na íntegra todos os custos de funcionamento da instituição, que tem como objetivo estimular investigação médica que vise melhorar a qualidade de vida dos doentes com artrite.
  • SOLAR IMPULSE PROJECT: o grupo Clarins realizou uma parceria com o projeto “Solar Impulse”, do suíço Bertrand Piccard (segundo vencedor do prémio “Clarins Men Environment Award”, e filho e neto de famosos cientistas e exploradores), cujo objetivo é desenvolver um avião que consiga voar dia e noite utilizando exclusivamente energia solar.
  • PLASTIC ODYSSEY: em 1999, ao velejar na Ásia e ao encontrar muito plástico nos oceanos, Christian Courtin-Clarins tomou a decisão de banir todos os sacos de plástico das lojas. É fácil perceber por que se apercebeu então o filho do fundador do grupo Clarins pela visão da Plastic Odyssey, tendo apoiado o projeto quando ainda estava no papel, e permitindo trazer ao mundo o barco-laboratório que transforma plástico em combustível. Um ano e meio depois, o projeto arrancou numa volta ao mundo e a Clarins, claro, decidiu embarcar na viagem, assinando uma parceria oficial por cinco anos.

E só mesmo para rematar, deixo uma frase de Christian Courtin-Clarins que achei a epítome do bom senso: “Os nossos ingredientes não precisam de ser todos certificados orgânicos. Em África [alguns produtores] não utilizam pesticidas. Por isso, em vez de gastar dinheiro para obter um selo de certificação orgânica, preferimos investir num poço de água para a comunidade que nos fornece esses ingredientes”.

LUSH
#DoZero: cinco marcas amigas – a sério! – do Ambiente
Charity Pot (hidratante feito com ingredientes do SLush Fund, cujas vendas revertem a favor de causas ambientais e de direitos humanos e animais) créditos: @lush

Uma marca que já viram muitas vezes nas minhas recomendações. Preocupada com o comércio justo, a origem dos ingredientes, as comunidades que trabalham para os obter, embalamento, produtos duráveis e seguros, a Lush pauta a sua atividade por uma série de compromissos sustentáveis.

  • Existe uma enorme transparência da marca no que diz respeito aos ingredientes dos seus produtos. No site, em cada produto, a lista de ingredientes indica claramente se cada um é de origem natural (a verde) ou se é um sintético seguro (a preto).
  • Quando há necessidade de embalamento, a marca procura parceiros transparentes, com boas práticas alinhadas com os seus princípios éticos. Um exemplo é a Monadnock Paper Mills, que fornece papel. Esta empresa é certificada FSC e todos os seus papéis são fabricados de modo carbonicamente neutro, com energia 100% renovável.
  • Para garantir o alinhamento com os seus parceiros e fornecedores, a Lush reúne nas instalações dos mesmos, em todo o mundo, para garantir que os funcionários são tratados de acordo com as práticas de comércio justo.
  • Uma vez que a Lush considera que a certificação de óleo de palma sustentável (RSPO) não é credível – algo com que, pessoalmente, não concordo – a marca preferiu ir eliminando todo o óleo de palma dos seus produtos, tendo já conseguido remover cerca de 250 toneladas deste óleo. No entanto, ainda não o conseguiu retirar de alguns sintéticos que dele derivam e comunicam esta sua falha com muita transparência (procurem no site por “óleo de palma”, para verem a lista completa).
  • Através do fundo “SLush” (Sustainable Lush Fund), a marca vai além do comércio justo e procura investir milhões de dólares em empréstimos (sem juros ou qualquer compensação) a agricultores e comunidades, para ajudar a regenerar os ecossistemas que produzem as matérias-primas utilizadas.
  • Mais de 30% dos produtos da marca são vendidos sem embalagem (os chamados produtos “Naked”). Todos os produtos que precisam de embalagem, como garrafas ou potes, são de plástico 100% pós-consumo ou plástico reciclado dos oceanos, através de uma parceria com a Ocean Legacy Foundation.

Permitam-me acrescentar ainda aquilo que mais adoro na marca: não se deixam cair em "modinhas da sustentabilidade". Não entram na guerra do “natural vs. sintético” – já nem consigo escrever a palavra químico, de quase sentir que é vista como o Voldemort da cosmética...

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A preocupação da marca com a sustentabilidade dos produtos não leva desinformação, mesmo num mundo em que a concorrência o faz. As escolhas são baseadas em Ciência e não em modas publicitárias. Não dizem que todos os sintéticos são bons e todos os naturais são maus. Dou-vos um exemplo: a marca utiliza parabenos, porque os outros conservantes que existem não são mais seguros. Não existem ainda conservantes que sejam alternativa mais segura aos parabenos. E os conservantes são necessários, sobretudo para todos os produtos com água, já que esta permite que as bactérias cresçam e se multipliquem. Se querem evitar produtos sintéticos de todo – e, como tal, parabenos e outros conservantes – estão no vosso direito. Mas então evitem produtos feitos com água.

Aliás, a Lush está a encontrar alternativa a produtos com água, não só para poupar água, mas também para poupar ingredientes. Por isso, para quem não quer usar sintéticos, há opção na marca. Quase 70% dos produtos da Lush são auto-conservantes ou sem embalamento: têm papel sabonete, gel de duche sólido, hidratante sólido, henna capilar sólida, óleo facial sólido, disco de limpeza reutilizável, maquilhagem sólida...

Para terminar, deixo-vos um dos produtos que acho mais interessantes da marca: o Charity Pot. Um creme hidratante da Lush, que existe em Portugal desde 2015 e que é feito com ingredientes do SLush Fund, cujas vendas revertem a 100% (menos o IVA) para causas de direitos humanos, animais e ambientais. Ao comprar o Charity Pot, os clientes estão a apoiar algumas das iniciativas do SLush Fund, bem como outras campanhas e iniciativas. O melhor: este ano (2020), passou a existir também em versão sólida! Chama-se Charity Pot Coin.

Nota importante, porque algumas pessoas que procuram opções mais sustentáveis procuram também alternativas que não testem em animais: na Europa é proibido testar em animais. O único país que ainda obriga a testes de animais é a China. Qualquer marca que venda na China tem de submeter os seus produtos a testes em animais. No entanto, os testes em animais são uma questão ética, não necessariamente ambiental. A opção de qualquer marca que queira não ter produtos testados em animais é não vender no mercado chinês. Para muitas marcas que têm na China, há muitos anos, o seu principal negócio, retirar-se deste mercado significaria a perda de inúmeros postos de trabalho. Não é uma escolha simples e, reforço, considero que se trata de um dilema ético, não ambiental.

Das marcas apresentadas, apenas a Lush não vende os seus produtos na China.

Catarina Barreiros formou-se em Arquitetura, foi stylist de moda, tirou um Mestrado em Gestão, trabalhou em Marketing Digital e, no meio de voltas e contravoltas, descobriu na sustentabilidade a base da sua vida, primeiro privada e depois profissional. No projeto "Do Zero", explora a temática a fundo e encontra respostas para perguntas que não sabia existirem... será que precisamos mesmo de usar papel higiénico?