Em Portugal, utilizamos cerca de 7.4 kg de papel higiénico por ano e por pessoa. Os números têm vindo a aumentar, até porque cada vez vemos papel higiénico com mais “folhas”. O papel higiénico de folha simples, ou mesmo dupla, já não nos enche as medidas e seguimos para folha tripla e quádrupla. Quem sofre é o ambiente. Ou melhor, quem sofrerá mais seremos nós.

Porquê? Porque, segundo a WWF, por cada tonelada de papel higiénico produzida são necessárias 1.75 toneladas de fibra virgem. Para além disto, segundo Bill Worrel, diretor da Autoridade de Gestão de Resíduos de San Luis Obispo, na Califórnia, a produção de cada rolo de papel higiénico requer um consumo médio de 140 litros de água.

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Por extenso: cento e quarenta litros de água por rolo, vezes os 148 rolos de papel higiénico que cada português utiliza por ano (considerando que cada um pesa cerca de 50 gramas), são mais de 20 mil litros de água por ano! Quase 400 litros de água por semana, mais de 11 garrafões de 5 litros por dia. Todos os dias. Para limpar... xixis e cocós. Que conseguiríamos lavar com água. Ironicamente, com menos água do que a necessária para produzir o dito papel higiénico, já que por cada utilização do bidé consumimos qualquer coisa como meio litro de água.

Se formos cinco vezes por dia à casa de banho, e em todas utilizarmos o bidé, gastamos 2.5 litros de água por dia. Menos de 20 litros de água por semana. Comparando com os 400 do papel higiénico, dá que pensar...

Utilizar água para nos limparmos, em vez do papel higiénico, tem ainda a vantagem ambiental de não serem necessários "lixiviamentos" (que continuam a emitir gás de cloro elementar no ar e na água, impactando os ecossistemas aquáticos) nem abate de árvores que, como sabemos, são fantásticas aliadas na absorção de gases com efeito de estufa e, como tal, muito necessárias para garantir o equilíbrio dos ecossistemas. De facto, a cada ano, as florestas mundiais absorvem cerca de um quarto de todos os gases de efeito de estufa produzidos pela Humanidade.

“Certo, mas se eu usar bidé não tenho de me limpar? Lavar o pano ou toalha não é pior para o ambiente?”

Já ouviram falar das toalhas de bidé? Aquelas pequeninas que vêm em todos os conjuntos de toalhas... não, não são para enfeitar. São mesmo para usar. Depois de ficarmos bem lavadinhos com a água, basta limpar com a toalha de bidé. Tal como as de banho, como são utilizadas depois de nos lavarmos, não precisam de ir para lavar após cada utilização. Uma vez por semana basta.

E mesmo que a máquina de lavar gaste uns estonteantes 150 litros de água (as mais recentes gastam bem menos), a toalha de bidé dificilmente será responsável por mais de 5 (cinco) litros de água. Continua a compensar.

Mesmo que utilizem paninhos feitos de restos de tecido, o espaço que irão ocupar na máquina de lavar é irrisório quando temos em conta a poupança de água ao não utilizar papel higiénico.

“Não tenho bidé. Estou livre de fazer esta mudança?”

Nem por isso! Existem tantas opções no mercado, que não implicam colocar bidés nem fazer obras, que deixar de usar papel higiénico está mesmo ao alcance de todos.

Ora vejamos que soluções existem:

Panos

Para "Nº 1", basta perfeitamente utilizar paninhos feitos de trapos velhos ou toalhitas reutilizáveis. Dado que a urina é asséptica, depois basta colocar os panos na máquina de lavar.

Bidé

Uma das opções mais conhecidas. Existem na maioria das casas portuguesas, embora grande parte das pessoas não os use. Sempre usei desde pequena e, talvez por isso, nunca me tenha feito confusão deixar o papel higiénico. Sempre me senti melhor depois de utilizar o bidé do que depois de utilizar umas folhinhas de papel para me limpar...

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Chuveirinho

Quer tenha ligação direta a uma fonte de água, como acontece com um bidé, ou ligando à entrada de água da sanita, existem muitas opções de chuveirinho. Tem a vantagem, face ao bidé, de não ter de se colocar mais uma louça sanitária na casa de banho. Excelente para espaços pequenos e mais económico do que qualquer outro utensílio equivalente. Por pouco mais de € 10, encontram-se opções de chuveirinho muito práticas e funcionais.

Assento para sanita

Há com água quente e água fria. Com regulador de intensidade. Até com aquecimento de assento. Assentos de bidé para a sanita são já bem conhecidos, sobretudo no Oriente. Pela Europa já se encontram vários, a todos os preços. Há opções de menos de € 50 até mais de € 5000. Uma opção prática, que não requer obras nem instalação especializada.

“Bidé” portátil

Para fora de casa, também existem opções! Desde pequenas garrafas que fazem irrigação, até peças que se adaptam a qualquer garrafa de plástico — mas como andamos sempre com garrafas reutilizáveis, esta opção não é para nós, certo?? ;)

Convencidos e com vontade de se juntarem ao movimento #adeptosdobidé? Bem-vindos! Por aqui somos todos pessoas asseadas, que reconhecem que água lava melhor do que papel, e que as árvores são mais importantes na nossa vida do que o conforto da folha tripla.

Catarina Barreiros formou-se em Arquitetura, foi stylist de moda, tirou um Mestrado em Gestão, trabalhou em Marketing Digital e, no meio de voltas e contravoltas, descobriu na sustentabilidade a base da sua vida, primeiro privada e depois profissional. No projeto "Do Zero", explora a temática a fundo e encontra respostas para perguntas que não sabia existirem... será que precisamos mesmo de usar papel higiénico?