Em Janeiro de 2018, o Reino Unido proibia a utilização de microplásticos no fabrico de produtos cosméticos, tendo Mary Creagh, Secretária do Comité de Auditoria Ambiental, afirmado que "as micro-esferas em esfoliantes, géis de duche ou pastas de dentes são parte [do] problema de poluição de plásticos, [que] pode ser evitada. Um único duche pode resultar em 100,000 partículas de plástico a entrar no oceano”.

Na base da decisão esteve uma investigação do Environmental Audit Committee, que explica que as micro-esferas de plástico são apenas uma parte dos microplásticos presentes nos ecossistemas marinhos (entre 0.01% e 4%), mas que são uma parte evitável e uma das fontes de microplásticos “sobre a qual mais se sabe”.

Esta proibição mereceu destaque nos media e a melhor atenção de algumas entidades investigadoras, como a GESAMP (um grupo de investigação focado em proteção dos ecossistemas marinhos que aconselha as Nações Unidas), que fez um relatório específico relativamente a microplásticos, e também entidades reguladoras, como a ECHA (que na UE faz a ponte entre a investigação científica e as autoridades reguladoras no que diz respeito a produtos químicos).

Com efeito, apenas um ano depois, a ECHA submeteu uma proposta de restrição para a adição de microplásticos em produtos para utilização por consumidores ou profissionais. Podemos ler no site da agência que, se adotada, esta restrição poderá ajudar a reduzir a quantidade de microplásticos descartada no ambiente na União Europeia em cerca de 400.000 toneladas ao longo de 20 anos. Igualmente, lemos que os dados sobre os efeitos destes microplásticos são ainda limitados e que, embora se saiba que possam entrar na cadeia alimentar, não se conhecem ainda os potenciais efeitos na saúde humana — respiremos fundo, ainda não há garantia de que sejam nocivos para a saúde. "Apenas" sabemos que se alojam nos ecossistemas terrestres e marinhos, onde permanecerão algumas centenas de anos, até serem consecutivamente degradados pela luz, água, forças físicas, e transformados em nanoplásticos cada vez mais pequenos.

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Ora se esta proposta ainda não está legislada e não tem carácter vinculativo, o que significa isto? Que existe o alerta de uma autoridade ambiental europeia para a utilização de microplásticos com menos de 5 mm de diâmetro em várias indústrias, nomeadamente na cosmética. E que ainda existem a circular produtos que não vão de encontro a esta proposta.

E o que podemos então fazer, enquanto consumidores?

No que respeita aos esfoliantes, temos três opções, se quisermos respeitar as recomendações da ECHA: optar por esfoliação química, enzimática ou física com substâncias biodegradáveis.

No que diz respeito à esfoliação química, remeto o leitor para quem percebe muito do assunto, a farmacêutica Marta Ferreira, Mestre em Tecnologia Farmacêutica e Doutoranda em Ciências Farmacêuticas, que me ajudou a perceber que existem três grandes "grupos" de esfoliantes químicos:

  • os alfa hidroxiácidos — como o ácido glicólico e o ácido láctico, que têm origem em frutas;
  • os (erradamente denominados) beta hidroxiácidos — como o ácido salicílico;
  • e os poli hidroxiácidos — como o ácido lactobiónico ou a gluconolactona.

Para além destes, existem ainda os esfoliantes enzimáticos, como a papaína (enzima extraída da papaia) ou a bromelina (extraída do ananás) que, como todas as enzimas, apesar de terem origem em frutas, metabolizam reações químicas. Estes esfoliantes enzimáticos são altamente biodegradáveis — tanto que, em muitas situações, até se torna difícil garantir a estabilização dos mesmos nas embalagens dos cosméticos.

No que diz respeito à esfoliação física ou mecânica, existem muitas opções biodegradáveis, como feijões de azuki moídos, sal marinho, extrato de caule de bambu, frutos secos moídos, pedra pomes em pó, açúcar, etc.

#MirandaFeelGood

Para além da composição dos esfoliantes (que importa então serem biodegradáveis e, para tal, é importante não conterem micro-esferas), podemos também pensar no 'packaging' e na forma do próprio esfoliante. À semelhança do que acontece com os champôs sólidos, também no caso dos esfoliantes o facto de serem sólidos pode gerar eficiências de transporte e utilização e, como tal, ambientais.

Assim, para um esfoliante mais amigo do ambiente, poderá ser muito interessante encontrar uma ação enzimática ou física biodegradável num formato sólido ou em pó, evitando o transporte pesado de água. E não, não é difícil! Deixo algumas sugestões abaixo, terminando com uma outra solução que me parece interessante, por resultar do aproveitamento de um resíduo orgânico que de outra forma seria descartado: as borras de café — o esfoliante GRUMS, que é produzido com uma "mistura de borras recicladas de café espresso orgânico, angariadas de bicicleta em cafés locais na cidade de Aarhus, na Dinamarca".

NOTA: embora seja relativamente simples realizar um esfoliante caseiro com borras de café ou açúcar, importa referir que as soluções caseiras, por não terem estabilizantes nem conservantes, podem ser mais voláteis e têm tempos de conservação muito curtos (e não regulamentados, claro). Assim, se for experimentar alguma solução caseira, verifique sempre primeiro numa pequena zona do pulso se faz alguma reação e evite ao máximo produzir em grande quantidade.

Confira as escolhas de Catarina na galeria:
Catarina Barreiros formou-se em Arquitetura, foi stylist de moda, tirou um Mestrado em Gestão, trabalhou em Marketing Digital e, no meio de voltas e contravoltas, descobriu na sustentabilidade a base da sua vida, primeiro privada e depois profissional. No projeto "Do Zero", explora a temática a fundo e encontra respostas para perguntas que não sabia existirem... será que precisamos mesmo de usar papel higiénico?