Um estudo deu o mote em 2015 (Downs et al., 2015) e outros se seguiram, até que outro estudo (Schneider & Lim, 2018) relatou que existem quatro filtros solares que a comunidade científica tem vindo a avaliar devido às preocupações levantadas acerca das consequências ambientais da sua utilização dos mesmos.
São eles:
- oxibenzona
- 4-metilbenzilideno-cânfora
- octocrileno
- e octinoxato.
O alerta estava lançado: seria possível que a oxibenzona – um dos produtos mais utilizados como filtro solar orgânico – pudesse estar a causar “coral bleaching”, o branqueamento dos corais, que leva à sua morte?
Mesmo antes de se perceber se haveria consenso na comunidade científica acerca do perigo deste ingrediente, já dois Estados proibiam a venda de protetores solares com oxibenzona (Hawaii e Palau). Seguiram-se reposicionamentos de marcas de cosmética, lançamentos de novas gamas "sem oxibenzona" em particular, e na generalidade "sem produtos que danifiquem os oceanos".
Mas será que danificam mesmo? Serão os filtros inorgânicos (ou minerais) a solução?
Em primeiro lugar, importa dizer que todos os filtros acima descritos se encontram aprovados pela União Europeia e que, inclusivamente, a oxibenzona (um filtro solar muito utilizado por ser altamente eficiente e muito pouco reativo na pele) foi novamente revista em 2017, tendo sido reduzida de 10% para 6% a sua concentração máxima nos protetores solares e produtos cosméticos.
Num dos estudos conduzido in vitro sobre este tema (Mao et al, 2017), foi utilizada uma espécie de alga verde, exposta a concentrações de oxibenzona que variaram das encontradas na Natureza (0.01 a 0.1 partes por bilião) até concentrações muito (mesmo muito!) acima das encontradas na Natureza: 5000 partes por bilião, num claro contraste com o máximo encontrado na Natureza, no Japão, de 3.8 partes por trilião. O que se verificou foi que os valores mais elevados (as tais 5000 partes por bilião que não existem na Natureza) resultaram numa diminuição da clorofila e do crescimento da alga.
Outro estudo (Danovaro et al, 2008) explicou que alguns destes filtros UV ativam vírus nos corais, o que resulta em stress oxidativo, expulsão das algas e resultante branqueamento e morte dos corais. Verificou-se que seria necessário existir uma concentração de 33 a 50 partes por milhão de oxibenzona para se dar este resultado. Um número muito longe da realidade, se virmos que as concentrações mais elevadas são, no máximo, de 1400 partes por bilião (nas Ilhas Virgens) ou de 19.2 partes por bilião (no Hawaii, um dos primeiros locais a banir o ingrediente).
Percebemos assim que os valores que se encontram nos ecossistemas marinhos reais (e não nas modelações in-vitro) são claramente inferiores aos apontados nos estudos como potencialmente nocivos. No entanto, um outro estudo, também in vitro (Chen et al, 2018), explica que a oxibenzona é bioacumulativa, o que faz com que tenhamos de controlar periodicamente os seus níveis nos oceanos, para verificar o seu potencial de toxicidade (coisa que, aliás, já se faz).
A verdade é que, por muito que seja mais “fácil” dizer-se que temos de substituir filtros orgânicos (ou "químicos"), como a oxibenzona, por filtros inorgânicos (ou "minerais"), esta é apenas uma pseudo-solução que TODOS os cientistas dos estudos citados explicam carecer de mais investigação.
Para além de a investigação sobre filtros orgânicos precisar de ser mais aprofundada, também a dos filtros inorgânicos carece do mesmo problema (Schneider and Lim, 2019), já que entre os filtros minerais mais comuns se encontram o óxido de zinco e o dióxido de titânio. Outro estudo recente (Siddiqi et al, 2018) confirmou que as nanopartículas de óxido de zinco podem fazer desintegrar as membranas celulares e ficar acumuladas no citoplasma, onde interagem com biomoléculas, causando apoptose celular, o que leva à morte celular.
Num dos últimos estudos conduzidos sobre este assunto (Sirois, 2019), ressalva-se que a evidência científica explica, de modo consensual, que as mudanças nas temperaturas dos oceanos (resultado das alterações climáticas) continuam a ser o principal fator que contribui para o branqueamento dos corais.
As alterações climáticas são então apontadas como as principais responsáveis pela morte e branqueamento dos corais (Hughes et al., 2017), existindo também outros factores que contribuem para os mesmos branqueamento e morte:
- a acidificação dos oceanos (Cyronak et al., 2018);
- o escoamento dos oceanos (Brodie et al., 2010);
- e as descargas de esgotos, cujo impacto no branqueamento dos corais pode ser consequência de inúmeros factores, como mudanças na salinidade (Aguilar et al, 2010) ou contagem de bactérias (Stanley et al, 2017).
Estão preocupados com os oceanos e querem “prevenir” o branqueamento dos corais?
Perfeito, eu também quero! Então vamos prevenir o aquecimento das águas do mar e a erosão das mesmas, combatendo as alterações climáticas. Antes de mudar de protetor solar, podem:
- reduzir o desperdício alimentar;
- adotar uma alimentação de base vegetal;
- poupar energia em casa;
- mudar para um serviço de energias renováveis ou instalar equipamentos de aproveitamento de energias renováveis;
- fazer um uso responsável da água potável;
- fazer um uso HIPER-responsável do consumo.
Tudo isto (cada um destes factores e a sua soma) ajudará mais o ambiente – para já, e daquilo que se sabe – do que substituir a utilização de filtros orgânicos por inorgânicos.
Se, ainda assim, preferirem utilizar filtros minerais (porque têm algum receio em relação aos orgânicos), estão também no vosso direito. A recomendação que posso fazer, com base nas investigações que li, é a de que escolham filtros minerais sem nanopartículas (vem descrito na lista de ingredientes). Existem já inúmeras opções, tanto em farmácia como em grandes superfícies e lojas de cosmética orgânica. Percebam apenas que não está confirmado que os filtros orgânicos levem à morte dos corais e que os inorgânicos não o façam.
Mais importante do que o filtro que decidirem escolher é mesmo... continuarem a utilizar protetor solar se vão estar expostos ao sol!
Comentários