Ora bem, domingo, isto é, há dois dias, comecei a ficar chata.
Começámos a nossa quarentena voluntária na passada quarta-feira, deixámos que tudo o que tínhamos para fazer começasse lentamente a ser adiado ou empurrado para a frente, apressamo-nos a fazer tudo o mais depressa possível e ficámos em casa a fazer aquilo que ainda poderia ser feito remotamente.

O tal teletrabalho.
Terça-feira, depois de vir d’O Programa da Cristina, tive uma reacção física terrível àquilo que foram as advertências do Dr. Almeida Nunes. Deixei-me dormir a caminho de casa, fiquei completamente sem energia, como se estivesse muito doente. Quarta-feira tive uma última reunião, fomos ao supermercado, apanhámos os Bebés e viemos para casa, onde estamos desde então.
Pela janela conseguimos ver que a vida teima em não abrandar, e contra todos os conselhos e avisos a malta continua a passear e beber cafés e cervejas descontraidamente.

#Lynda4Eva: a rotina não me domina 
#Lynda4Eva: a rotina não me domina 
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E domingo comecei assim mais ou menos a tripar, porque eu adoro passear e não posso. E porque no meu telefone o conta-passos está no canto inferior esquerdo do ecrã, e há vários dias que não se regista a minha média.
Todos os dias, só nas deslocações para levar os Bebés à escola, a ir para o trabalho e depois ao jardim e ao parque, mercearia e tal, ando cerca de dez quilómetros.
Pá, eu AMO andar al fresco.
Serei a velha mais gaiteira de todas, sei bem desde sempre.
E se poderíamos ter ido para o Alentejo onde temos uma grande casa cheia de terreno ao ar livre?
Não.
Porque embora pareça muito inofensivo, no meio disto tudo, se tivéssemos ido, teríamos sido extremamente irresponsáveis.
Por isso aqui estamos.
Em casa.
De quarentena.
Desde quarta à tarde.
E no Domingo acordei com altíssima telha.
Tipo telha total.

Em quarentena não dá para telhas.
Porque a má onda, em espaços confinados, é mais contagiante que o vírus do qual estamos a tentar proteger-nos.
Vai daí, e depois de um episódio particularmente clássico, agarrei em mim, enfiei-me no banho, enchi-me de cremes, vesti-me e calcei-me com um look há muito imaginado para o dia de sol que estava domingo e fiz uma maquilhagem a condizer.

E como de repente isto tudo está a ser emitido pelas poderosas redes sociais, operadas pelos poderosos aparelhos inteligentes de que dispomos na palma da mão, e que até proporcionam filtros para ficarmos mais belos naqueles até há bem pouco tempo raros dias em que ficamos em casa, mas queremos comunicar, o meu marido olhou para mim e disse “hoje a makeup está de selfie”.
E assim fiz um vídeo selfie.
Que publiquei no meu instagram.
Com o intuito de passar duas mensagens:

PRIMEIRA:

Se estão em casa, com ou sem neura, aproveitem o tempo para se amarem um pouco. Para o self-love, sim.
Para se cuidarem.
E aproveitem também para se embelezarem de forma extraordinária, porque para tempos extraordinários que nem na legislação estão previstos, belezas extraordinárias.

Isto motivado pelo relato de várias pessoas que depois de vários apelos para trabalharem a partir de casa, conseguiram que as entidades suas superiores acedessem ao seu pedido, mas que ainda assim, neste tempo tão bizarro e maluco e assustador, são rigorosamente controladas por essas entidades superiores através de videochamadas regulares para controlar se os ratinhos continuam a andar na roda. Sugeri-lhes que usassem a maquilhagem como arma de rebelião. Sugeri-lhes que se maquilhassem incrivelmente para quando as entidades voltassem a ligar.

O que é que poderiam fazer-lhes?
Sempre o punk no back of my mind.

SEGUNDA:

São muitos os jovens que andam sempre a mil e que nunca param em casa, nem sempre necessariamente bem dispostos ou felizes ou cheios de alegria. A verdade é que há muitos jovens a viver sozinhos, um pouco deprimidos por variadíssimos motivos, que não estão a saber lidar com o isolamento social. Por muita aplicação de smartphone que haja nada equivale a possibilidade de ser sem restrições. E numa época em que tudo é tão incerto e duro, em que o Futuro parece um bicho de mil cabeças, não poder sair para dançar, beber a tal cerveja, ver um filme, ir ao teatro ou a um concerto, ver a Avó, dar beijos aleatoriamente, menes, ninguém merece.
E em casa o pijama é tentador.
O pijama todo o dia parece uma belíssima ideia.
Só que não.
O pijama não ajuda mesmo nada o astral, a moral e o visual.
Vai daí o #LYNDAEMCASA .

#LYNDAEMCASA é o meu convite a todx x que quiserem shake it off, como cantaria a Taylor Swift, sendo que “it” será a neura, a seca, a agonia, a fartura…
É um convite à expressão e celebração da subjectividade da beleza individual num espaço livre e aberto, apenas agrupado por um hashtag que criei para sabermx quem somx e para nx darmx força unx a outrx.
É um convite a uma acção tão simples como a da montação individual, para sairmx disto melhor do que entrámx.
É uma coisa simples, mesmo, para praticar todos os dias, como aquele telefonema que fazemos para saber se x amygx e a família estão bem.

Nisto lembrei-me de perguntar à Susana [Chaves]  se quereria associar a MirandabySapo a este movimento, e ela disse que sim!
Só precisam de usar o hashtag #lyndaemcasa no vosso post ou story e de taggar três amygx para o desafio!

Joana Barrios divide-se entre o teatro, a televisão, a Internet, e cozinhas. Há mais de uma década criou o TRASHÉDIA.com e a nossa vida nunca mais foi a mesma - muito menos a dela.