Lançado em 2006 pela Hermès, com a assinatura de Jean-Claude Ellena, um dos mais notáveis compositores de perfumes de sempre, Terre d’Hermès atingiu desde logo o merecido sucesso e de lá não saiu mais.
Aliás, a marca tentou aproveitar o sucesso da versão original, como é hábito na indústria, lançando em 2009 a sua versão Parfum, com uma personalidade olfactiva amadeirada chypre, e em 2014 a Eau Très Fraîche, bem mais cítrica e aromática face à composição original, ambos interessantes, embora sem a originalidade e carácter distintivo do primeiro. De uma forma em geral, em quase todas as extensões de gama que conheço de um perfume, não há nada como o primeiro. Ou o último como descobrirá de seguida.
Terre d’Hermès e as razões para o sucesso
Com uma personalidade amadeirada e especiada, Terre foi descrito no seu lançamento como uma viagem através dos elementos. Uma fragrância que funde aromas cítricos, notas minerais, plantas e especiarias e que termina com uma revelação térrea extraordinariamente sensual, onde se destacam com responsabilidade as notas amadeiradas, com a sua estrutura e riqueza aromática.
Jean-Claude Ellena disse sobre esta sua criação que era “simples e complexa, terna e determinada. Como um sonhador com os seus pés bem firmes no chão”. Afinal, quem não gosta de sonhar?
Esta história perfumada começa por se apresentar com a alegria e boa disposição da laranja, o amargo provocador e aromático da toranja e a pimenta que nesta relação se revela atrevida e notada de uma forma discreta e elegante.
Um início cítrico apimentado que nos desperta e prepara para o que se lhe segue...uma inusitada e incomum referência ao sílex, rocha sedimentar silicatada muito dura e extremamente densa, que aporta uma mineralidade única e que se funde na perfeição com um patchouli sedutor na quantidade certa. As notas de coração só ficam completas fazendo referência às folhas de gerânio, que trazem a faceta vegetal e subtilmente floral inconfundível.
O final que se precipita, e neste caso deseja, acontece de forma magistral, com os níveis emocionais e de sensualidade ao mais alto nível pela presença de uma tríade poderosa. Um benjoim envolvente, com o seu aroma amendoado inconfundível, o vétiver aromático e térreo e a madeira de cedro, masculina e resinosa, que fecha com a força e determinação tão própria das madeiras e do cedro em particular.
Terre d’Hermès, na sua versão original, eau de toilette, é uma fragrância masculina extraordinária que não deixa ninguém indiferente. Patamar onde só algumas, muito poucas, têm a capacidade de chegar.
O recém-chegado
E se Terre está na sua lista de preferidos, como na minha, nesse caso convido-o a descobrir o mais recente membro do clã, a Eau Intense Vétiver. Christine Nagel, perfumista da Hermès, assumiu a responsabilidade de revisitar a fórmula mítica original e ultrapassou o desafio de criar uma nova fragrância, capaz de marcar uma nova fase na história de Terre.
Esta nova proposta destaca-se por ter um início reforçadamente cítrico, com destaque para o limão e bergamota, seguido de uma pimenta de Szechuan, crepitante e aromática e, na minha opinião, a principal responsável, em ligação com um vétiver igualmente notado, pela forma bela e especial como se apresentam. Eau Intense Vétiver tem mais alguns aromas novos, face ao original, mas não as vou revelar, para que a boa surpresa seja ainda maior.
Boa viagem.
É um apaixonado por aromas e perfumes. Formado em Composição de Perfumes na Cinquième Sens, em Paris, membro da Société Française des Parfumeurs e júri do Prémio Máxima de Beleza, Lourenço Lucena cria perfumes e organiza formações e eventos, em torno deste universo mágico. Adoramos fazer com ele esta viagem olfactiva.
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