Existem muitos elementos externos e internos que sabemos que prejudicam a saúde e aparência da nossa pele. O sol, uma alimentação desequilibrada, stress e ansiedade e, recentemente descoberta, a luz azul emitida pelos aparelhos eletrónicos. Como se não bastassem estes exemplos, falta um na lista: a poluição.
Quais os efeitos da poluição na nossa pele e como preveni-los foram questões respondidas pelo Dr. Alexandre Catarino, médico dermatologista e assistente hospitalar de Dermatovenereologia no Centro de Dermatologia de Lisboa. Proteja a sua pele dos seus efeitos, com uma rotina adequada e evite o envelhecimento precoce. Nós contamos tudo.
A que tipo de agressões externas está a nossa pele exposta?
A pele é o nosso maior órgão e está diretamente sujeita a vários tipos de agressões. Esta atua como obstáculo físico ao ambiente externo, regula a entrada e saída de água, eletrólitos e outras substâncias e protege contra agentes microbianos, radiação eletromagnética, agentes tóxicos e agressões físicas, como temperaturas extremas ou o vento. A pele, principalmente a epiderme, atua como barreira contra os poluentes.
Como é que a poluição pode afetar a nossa pele?
A poluição atmosférica é um dos principais problemas da atualidade, exercendo efeito nocivo no sistema cardiorrespiratório e noutros órgãos, nomeadamente na pele. Esta é definida como a contaminação do ar por qualquer agente químico, físico ou biológico que modifica as características naturais da atmosfera e que pode causar efeitos prejudiciais nos humanos, animais ou plantas.
Os poluentes não só atuam a nível da superfície da pele, como também têm a capacidade para penetrar em profundidade dado serem partículas de dimensões muitíssimo reduzidas. Essa entrada pode acontecer via transepidérmica ou através dos folículos pilosos e ductos sudoríparos.
A interação dos poluentes com a pele resulta na ativação de vias de inflamação e stress oxidativo. Os próprios poluentes vão interagir entre si e com a radiação ultra-violeta aumentando ainda mais o seu efeito prejudicial.
Quais os seus efeitos a curto prazo?
O stress oxidativo vai levar à formação de espécies reativas de oxigénio (ERO). As ERO são moléculas chave nas vias de sinalização celular, levando à produção de factores pró-inflamatórios, peroxidação de lípidos, dano do ADN das células, morte de células e ativação de enzimas que degradam o colagénio e a elastina que constituem a derme. Todo este estado pró-inflamatório vai contribuir para um envelhecimento cutâneo acelerado e para outras patologias.
A poluição atmosférica vai também ter impacto no microbioma cutâneo, o que pode contribuir para o desenvolvimento de dermatite atópica ou acne, e ainda estimular a produção de melanina juntamente com a radiação ultra-violeta.
E a longo prazo?
Apesar dos mecanismos não serem ainda bem compreendidos a exposição aos poluentes pode estar associada ou contribuir para um envelhecimento cutâneo precoce, ao acne, à dermatite atópica, ao cancro cutâneo não melanoma, a psoríase, a rosácea, a lupus eritematoso e a outras patologias auto-imunes.
A disfunção da barreira cutânea é uma característica essencial na dermatite/eczema atópico, levando a uma maior suscetibilidade à penetração das partículas poluentes, ao mesmo tempo que os próprios poluentes vão agravar essa disfunção. A perda de água transepidérmica vai se acentuar comprometendo a hidratação cutânea.
Diferentes estudos mostram ainda que residentes em áreas urbanas apresentam maior número de rugas e manchas solares, manifestações típicas de envelhecimento cutâneo. A exposição ao fumo do tabaco também agrava estes sinais de envelhecimento. Alguns estudos mostram também uma associação entre exposição a poluentes e o acne, ocorrendo um estado de excesso de produção de sebo motivado por estes.
Como podemos prevenir estas consequências?
A exposição aos poluentes leva a redução dos antioxidantes (vitamina C, vitamina E, glutationa, niacinamida…), a desidratação, perda de luminosidade, inflamação, hiper-seborreia, manchas, rídulas e rugas.
A evicção da exposição a ambientes poluídos, o não fumar e os cuidados com a exposição à radiação ultra-violeta são aspetos muito importantes para prevenir as suas consequências. Além destas medidas, o uso de dermocosméticos adequados parece contribuir também para minimizar o impacto desta exposição.
É importante o uso de produtos que consigam remover eficazmente os agentes tóxicos que se encontram sobre a pele, promover uma boa hidratação e evitar um excesso de lavagem que possa deteriorar a capacidade de função barreira. O uso de anti-oxidantes ou moléculas que previnam a inflamação como a vitamina C, vitamina E, resveratrol, aloé vera, entre outros, poderá também ser uma mais valia.
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