O relógio diz-me que passa das quatro da manhã e eu continuo acordada. Já dormitei, já acordei e já desesperei. O motivo? Um prurido intenso, como que um fogo que me queima o corpo, revela-se inesperadamente no fundo das costas, nas pernas, nos braços e toda eu desespero com uma vontade de me coçar até ao ponto de fazer ferida.
Levanto-me, vou à casa de banho e besunto-me toda em creme. Penso que vai aliviar e por momentos sinto-me mais confortável e calma, penso que resultou. Mas, instantes depois, volta tudo ao mesmo. A comichão vem novamente, em força, como se toda a minha pele gritasse por ajuda e estivesse presa e sufocada, também ela precisasse de liberdade.
Apesar de ter ictiose e de a minha pele ser, por regra, seca e desidratada, carecendo de quantidades generosas, diárias e constantes de hidratação, não tenho tendência a episódios de prurido intenso. E o que ando a sentir ultimamente ultrapassa o razoável, faz-me perder qualidade de vida, desespera-me.
Houve um dia desta semana em que, enquanto tomava banho, senti o corpo a picar com tal intensidade que só a água fria acalmou. Tive de terminar com água gelada pelo corpo todo, pois o ardor era tanto que me senti a desesperar, fiquei desorientada, cedi e fartei-me de chorar. Não tenho por hábito chorar ou fraquejar, sentir-me ‘coitadinha’ por causa de ter um problema de pele. Há momento mais complicados que outros, é verdade, mas sempre levei a coisa com relativo à-vontade. O que me fez quebrar naquele dia foi o desespero. A consciência de sentir que o meu corpo estava em conflito e eu a sentir-me impotente para o controlar.
Decidi que precisava de tomar qualquer coisa e que os cremes que tinha em casa não eram suficientes para me dar o conforto de que ando a necessitar. Socorri-me de um anti-histamínico, que pouco ou nada ajudou no problema em si, mas que me deixou de tal forma grogue que só tinha vontade de dormir – e ao dormir, sempre esquecia um pouco tudo.
O homem, solidário com a minha dor, passou na farmácia e trouxe-me um saco com três produtos da Eucerin: uma loção que prolonga o intervalo entre as crises agudas, um creme hidratante Intense Repair, e um óleo de banho específico para crises epidérmicas, que preserva a barreira protetora da pele e protege do prurido intenso. Gastou mais de € 54.
Aliviaram, é certo, e proporcionaram-me conforto e alguma tranquilidade mas, mais uma vez, digo: ter um problema de pele nos dias que correm é um luxo. Um luxo necessário para pessoas como eu. Onde cada produto custa uma pequena fortuna – sem descontos nem ajudas do Estado face a uma condição com a qual se nasceu – e onde, muitas vezes, temos de optar entre comprar um creme ou ter ordenado que nos permita chegar ao final do mês. Até porque um creme não me dá para um mês.
Depois de uma semana emocionalmente desgastante, a minha pele acalmou. Deu-me uma espécie de tréguas e eu agradeço. Mas a quarentena continua e eu, confesso, não sei quanto mais tempo irei aguentar assim. A falta de sol, de ar livre e de atividade física, têm repercussões diretas no nosso organismo, e a pele, sendo o maior órgão do corpo, é das primeiras a dar sinais ou a ressentir-se.
O stress e a ansiedade que todos andamos a sentir, a saturação da situação, o desgaste psicológico e a tensão, são tudo fatores que interferem com o nosso bem-estar e saúde mental. O stress leva ao excesso de níveis de cortisol e à produção de citocinas inflamatórias, o que aumenta a inflamação na pele e leva a condições como acne, rosácea, eczema, psoríase… com episódios agudos como os que senti esta semana.
A pele é apenas um reflexo de tudo o que vai cá dentro e a minha anda a gritar por socorro. E não, mesmo que depois tudo passe, não vai ficar tudo bem.
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