Para muitos de nós, o pós-férias é o momento ideal para assumir que devemos começar a tratar da pele para corrigir os excessos do verão. Neste sentido, surgem algumas dúvidas frequentes relativamente aos passos da rotina de cuidados de rosto. Qual a sequência ideal? O que vem primeiro?

Defendo sempre um ritual simples. Acredito que na utilização de produtos cosméticos, o essencial é suficiente. E quanto mais simples e leve for esta logística, maior será a probabilidade de a repetirmos vezes sem conta, de manhã e à noite, sete dias por semana, ano após ano.

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Etapa 1: limpeza e desmaquilhagem

Esta etapa é essencial e tem como função libertar a pele da sujidade: poluição, poeiras, maquilhagem, mas também o excesso de sebo e suor que vamos acumulando na pele ao longo do dia ou até da noite. Não faz sentido colocarmos o que quer que seja no rosto sem limpar muito bem a pele, mesmo que não usemos maquilhagem. Só assim a libertamos das impurezas internas e externas, e garantimos a melhor penetração dos produtos aplicados posteriormente. Para além disto, a limpeza garante uma pele mais lisa, porque ajuda na remoção das células mortas e, consequentemente, uma pele mais luminosa —  sendo mais regular, reflete melhor a luz.

Os produtos de limpeza contêm tensioativos e os seus solventes, moléculas que em conjunto asseguram a limpeza e conseguem envolver as diferentes partículas, garantindo a sua remoção. Ninguém consegue limpar o rosto só com água, porque a água não tem esta capacidade detergente, mesmo que seja quente, como algumas pessoas tendem a acreditar e a usar erradamente.

O investimento num bom produto de limpeza é essencial, porque este passo pode efetivamente mudar o estado da nossa pele. Não pode ser demasiado detergente, para não alterar a proteção natural que todos temos, nomeadamente o microbiota (conjunto de microrganismos que habitam a nossa pele e que têm uma função protetora).

Quanto à textura e ao modo de utilização, podemos e devemos escolher um produto que se adapte às nossas preferências, independentemente do nosso tipo de pele. Se gostamos de passar o rosto por água, escolhemos um produto com enxaguamento. Se preferirmos não o fazer, escolhemos um leite ou uma água micelar, por exemplo.

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Quanto à questão se devemos ou não deixar estes produtos no rosto, a resposta é: idealmente não. Não devemos deixar ficar nenhum produto de limpeza no rosto, por isso, se usarmos algum que não exija enxaguamento, devemos passar um tónico como complemento, ou então um pouco de água termal. A utilização do tónico não é obrigatória na generalidade dos casos, porque os produtos de limpeza já são bastante equilibrados, mas se o usarmos devemos privilegiar as formulações sem álcool, para evitar a secura da pele.

No entanto, os tónicos podem ter outras funções interessantes: ajudar a remover partículas que tenham ficado na pele após a limpeza; equilibrar o pH e melhorar a penetração dos ingredientes contidos nos produtos aplicados posteriormente; fornecer à pele ingredientes que sejam importantes e que não estejam presentes nos outros cuidados.

A limpeza da pele deverá ser feita de manhã e à noite. Podemos fazer uma limpeza mais rigorosa à noite, porque temos a pele mais poluída, e de manhã usar algo mais simples apenas para retirar o excesso de filme hidrolipídico (sebo e suor) que formamos enquanto dormimos.

Os gadgets que ajudam na limpeza da pele podem ser usados como complemento, mas com moderação. Nem todas as peles aguentam uma passagem diária destes utensílios. A sua sobre-utilização pode causar-lhes alterações. A massagem que fazemos com as nossas próprias mãos ou com os materiais de aplicação dos produtos de limpeza (algodões, compressas, esponjas, toalhas) é já considerada uma ação mecânica complementar no dia a dia, suficiente para grande parte da população.

Etapa 2: contorno de olhos

A zona do contorno de olhos é extremamente sensível: a pele é muito fina e delicada. Assim sendo, nesta zona deveremos aplicar apenas os produtos formulados com indicação específica para esta parte do rosto. Por isso, depois da limpeza, os produtos destinados ao contorno de olhos serão os que vamos aplicar, garantindo assim que as nossas mãos estão limpas e que não contêm vestígios de qualquer outro cosmético.

Regra de ouro: pequena quantidade. Habitualmente apenas sobre o contorno ósseo e não junto à mucosa, evitando as pálpebras inferiores e superiores. Podemos aplicar o contorno de olhos usando os dedos anelares, fazendo leves toques, de dentro para fora e terminando de fora para dentro, na direção do canal lacrimal, fazendo assim a pressão certa e seguindo o trajeto ideal que garante uma melhor drenagem dos tecidos. Escolher sempre fórmulas sem perfume, para minimizar o risco de alergias. Como aplicamos acima das narinas, não será um inconveniente porque nem sentiremos o aroma.

Etapa 3: sérum

Nem sempre precisamos de um sérum, mas se o quisermos usar, será a nossa etapa 3. Um sérum é habitualmente um produto muito concentrado em componentes ativos e que pode potenciar a ação dos cremes que aplicarmos de seguida, seja qual for a sua função. Por norma, os séruns têm texturas muito leves, fluidas e pouco viscosas, que penetram bastante bem na pele. Exceto nas peles oleosas, que com um simples sérum podem sentir-se bem, não é suposto serem usados sem cremes. Isto deve-se ao facto de os séruns não terem ingredientes oclusivos e, como tal, não garantirem o conforto superficial que os cremes asseguram. Os modos de utilização podem ser variados e devem sempre cumprir as instruções do fabricante.

Dica importante: se o sérum vier acondicionado num frasco com pipeta, nunca tocar com a pipeta diretamente no rosto. Este é um erro comum, induzido pela publicidade de alguns produtos.

Etapa 4: creme de dia ou creme de noite

Alguns cremes são de aplicação bidiária, outros não. Seja qual for o nosso creme, ele deve ser aplicado depois do sérum (podemos fixar que será do menos para o mais viscoso). O facto de existirem cremes de noite não se deve apenas a um atrativo de marketing. De facto, a nossa pele comporta-se de forma diferente noite versus dia, cumprindo-se o ritmo circadiano.

No período noturno há uma redução das secreções sebáceas e sudoríparas, o que diminui a barreira formada pelo filme hidrolipídico, sendo esta a ocasião ideal para aplicar um creme, pois está garantida uma menor barreira à sua penetração. O pH da pele é mais ácido e a sua temperatura é ligeiramente superior.

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Os cremes de rosto devem ser aplicados numa quantidade equivalente a uma avelã e com movimentos alisadores: da parte mediana do nariz em direção às têmporas, cobrindo as bochechas. Ascender do queixo até às orelhas, seguindo o contorno do rosto. Por fim, tonificar as faces com um movimento suave de toque de piano. Na testa, o produto deve ser espalhado desde as sobrancelhas até ao início do couro cabeludo. Todos estes movimentos visam contrariar a ação da gravidade. Os cremes de rosto podem ser aplicados no pescoço, aqui com movimentos laterais ascendentes: como se formássemos as asas de uma borboleta (para um pescoço de girafa!).

Etapa 5: protetor solar

Terminamos o nosso ritual matinal com a etapa da proteção solar que, depois da limpeza, será a mais importante. A escolha do protetor solar é muito pessoal, mas o que importa saber é que, mesmo no dia a dia, a nossa pele precisa de estar protegida do sol. Escolher um protetor que se adapte ao nosso tipo de pele é crucial para que sintamos conforto. Se as peles secas adoram todas estas etapas, as peles mistas ou oleosas podem ter algum receio, mas tal não se justifica porque há imensas opções no mercado adaptadas às peles com maior teor de oleosidade e brilho.

A maquilhagem pode ser importante para algumas pessoas: se quisermos aplicar alguma base, esta virá depois da proteção solar.

Os cuidados de lábios, os esfoliantes e as máscaras podem ser interessantes na nossa rotina e devemos considerar a sua utilização. Os batons hidratantes e nutritivos poderão ser aplicados e reaplicados ao longo do dia, sempre que necessário. Escolher um stick labial com proteção solar para aplicar durante o dia poderá ser também uma boa opção, principalmente para quem sofre de herpes labial.

Os esfoliantes e as máscaras são de utilização pontual, com uma periodicidade variável, e que depende do tipo de produto e do tipo de pele.

Playlist: cuidados de pele

O cuidado com a pele é fundamental para o nosso bem-estar físico e mental, e a consistência é a palavra de ordem para alcançarmos resultados e conseguirmos os nossos objetivos. Cuidar da pele é um momento pessoal, de contacto connosco próprios e com um órgão vital e extremamente sensorial que é a pele.

Todo o investimento que fizermos ao longo da vida fará certamente diferença na prevenção do envelhecimento e até de algumas patologias. Não há nada melhor do que sentirmo-nos bem na nossa pele e isso, muitas vezes, depende apenas de nós.

Farmacêutica de formação e especialista em Cosmética, Joana Nobre trabalha na Indústria Farmacêutica desde 2005. O rigor é a sua imagem de marca, algo bem patente nesta nova rubrica que criou para a Miranda, que incluirá sempre a versão áudio do texto e uma playlist de Spotify criada também por ela, alusiva com o tema.

Para a realização deste artigo foram consultadas diversas fontes bibliográficas, tais como:

  1. Barata, Eduardo, Cosméticos, Lidel, 2018.
  2. Yang, Lilin, The Korean Skincare Bible, Cassell, 2019.
  3. Mahto, Anjali, Bíblia dos Cuidados da Pele, Ideias de Ler, 2019.
  4. Adler, Yael, O Fascinante Mundo da Pele, Lua de Papel, 2016.
  5. https://www.aad.org/public/everyday-care/skin-care-basics

Inclua este passo no seu ritual de Beleza!

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