Era 2018 e parecia ser o ano da minha vida. Estava melhor do que nunca profissionalmente, em casa tudo corria bem, e de repente a minha pele deu de si. Umas pequenas borbulhas vermelhas começaram a surgir pelo corpo, primeiro na barriga, depois na parte interior das pernas, braços e depois costas. Cheguei a ter algumas também nas mãos. Sem comichão ou qualquer desconforto associado, elas começavam a secar e escamar, para depois se iniciarem num novo ciclo.
O primeiro dermatologista a que fui disse-me que tinha sarna. Escusado será dizer que não tinha. O segundo, eczema; o terceiro não se pronunciou e receitou-me umas pomadas; o quarto fez-me uma biópsia. Alergia ao Sol foi o resultado – e sem querer duvidar da Ciência, mas aquele diagnóstico não me soava bem.
No verão seguinte, essas borbulhas já não apareceram – tinha-me despedido do emprego de sonho mas extremamente stressante, e em casa, bom, ‘the kids weren’t alright’ afinal e em 2019 estava muito mais feliz. Até hoje, as borbulhas não voltaram a aparecer – nem nunca mais tive um ano tão ansioso quanto 2018.
Eczemas por trás dos joelhos quando estou nervosa, acne quando estou a dar demasiada importância aos problemas, a pele do rosto brilhante depois de uma noite romântica – sinto que a minha pele é como um mapa pelos meus estados de espírito mensais. Quem olhar para mim com atenção depressa perceberá que algo não está bem, e sempre assim foi desde criança. Por muitos cuidados que tenha, e que sei que funcionam, as minhas emoções parecem falar mais forte do que qualquer skincare. E sei que não sou a única: há quem tenha estômagos reativos, há quem tenha pele.
Ao mesmo tempo, com o passar dos anos fui aprendendo a olhar para ela não como um inimigo que me expõe, mas como um amigo que me toca no ombro – ela não está a fazer mais do que o seu papel de cuidadora, avisando-me quando algo na minha vida não está bem e eu escolho não parar para o resolver. Quando a poeira está toda depositada debaixo do tapete, a minha pele reage para que vá buscar o aspirador e comece o trabalho.
Tranquilidade. Acho que a tranquilidade é, muitas vezes, o bálsamo necessário para tratar os problemas da pele – e tenho muita pena que não seja vendida em boiões (e que não esteja em desconto na próxima Black Friday). Claro que tudo funciona melhor num todo: plenitude e uns quantos cremes, e séruns e máscaras e óleos. Mas também é preciso disposição mental para levar a cabo um regime de beleza completo. No final, onde começa a beleza (e uma pele em paz) sempre foi no interior.
Comentários